Negro, Sem Terra e Agricultor: conheça a história de José Mota

Com seis irmãos analfabetos, seu pai e sua mãe, Mota participou da primeira ocupação de terra do Movimento no estado, realizada em 1987 na Instância 40 45.

 

Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST

Muitos são os trabalhadores e trabalhadoras que fazem parte da história do MST na Bahia. Muitos também, são os sonhos de ver a terra repartida e a mesa farta de alimentos produzidos pelas próprias mãos. José Mendes da Mota (40), dirigente estadual do MST, foi um dos sujeitos, que baseado nessas premissas, se junta ao MST ainda na infância, com apenas 10 anos idade.

Oriundo de uma comunidade quilombola, no município de Itanhém, Extremo Sul da Bahia, sua inserção no Movimento se deu a partir de seus familiares que foram convidados a se somarem a luta. A partir disso, segundo ele, a vida tomou novos rumos.

Com seis irmãos analfabetos, seu pai e sua mãe, Mota participou da primeira ocupação de terra do Movimento no estado, realizada em 1987 na Instância 40 45, em Alcobaça, onde foram mobilizadas milhares de pessoas da sede do município e de cidades circunvizinhas.

“A ocupação foi tranquila. Não houve truculência por parte do latifundiário, porém a militância que estava organizando o acampamento estava sendo perseguida. O objetivo desta perseguição era frear o processo de luta pela terra que estava nascendo no estado”, conta.

O acampamento estava montado no “coração” do monocultivo de eucalipto, chamado de deserto verde pelas primeiras lideranças do movimento na região, e ali se consolidava o desafio de ampliar as relações políticas com a sociedade em denúncia ao modelo de produção do agronegócio.

Vida no acampamento

“Tudo era muito primário, tendo em vista que era a nossa primeira experiência dentro do Movimento, e muitas dificuldades foram enfrentadas. Desde a estrutura de lona, que de dia é muito quente e a noite é muito fria, à alimentação”.

O acampamento contou com o apoio de sindicatos e da igreja católica, porém estava localizado no meio de uma mata densa onde o transporte não era acessível. As doações de alimentação, na maioria das vezes, tinham que ser carregadas nas costas dos acampados por mais de 20 km.

“A solidariedade foi um princípio do período de acampamento. Uma lata de óleo era dividida entre dez famílias. Cada um vinha com seu copo e ali a gente dividia. Assim foi construído a nossa luta até a gente conseguir estruturar nossa produção”.

“A primeira escola frequentada por mim e meus irmãos foi no acampamento. Aprendemos a ler e escrever debaixo da lona preta, em cadeiras improvisadas feitas de madeira e com a ajuda de professores voluntários”, lembra Mota.

“Uma vida digna é possível”

O acesso à terra foi um dos grandes objetivos que nortearam o surgimento do Movimento na Bahia. Um ano e seis meses depois de acampados foi decretado, oficialmente, o processo de desapropriação da área.

“Muita coisa mudou na vida de minha família. O que trago com maior destaque foi a faculdade feita pelos meus irmãos, que hoje são profissionais da educação. Além disso, hoje temos diversas criações de animais e plantações. As dificuldades diminuíram muito. Provamos na prática que uma vida digna é possível e que a Reforma Agrária muda a vida das pessoas”.