“A juventude está nas ruas dizendo que não aceita o modelo de estado estabelecido no país”, afirma Paulo Henrique

O militante do Coletivo de Juventude do MST fala sobre a realização da 8ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra, entre os dias 7 e 12 de agosto.

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Por Leonardo Fernandes
Da Página do MST

 

Entre os dias 7 e 12 de agosto, em todas as regiões do Brasil, a juventude do MST realiza a 8ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra. Resultado de um diálogo entre o Coletivo de Juventude e o Setor de Educação do movimento, a atividade surgiu em 2010 com o objetivo de avançar na auto-organização da juventude camponesa.

A jornada inclui espaços de formação política, atividades culturais e ações de luta, todas focadas no tema do acesso à educação pública de qualidade nos diversos níveis, desde a alfabetização até o ensino superior, que atenda as necessidades da juventude camponesa do Brasil.

Paulo Henrique, 23 anos, é membro do Coletivo de Juventude do MST e está com a tarefa de construir a jornada, em meio a uma conjuntura de ataques aos direitos da juventude no Brasil. Ele explica os eixos políticos das atividades, fala sobre o protagonismo da juventude brasileira na luta contra os retrocessos na educação e anuncia a construção do Encontro Nacional da Juventude Sem Terra em 2018.

Confira:

Como surgiu a Jornada Nacional da Juventude Sem Terra?

A Jornada Nacional da Juventude Sem Terra surgiu em 2010, resultado de um debate entre o Coletivo de Juventude e o Setor de Educação do MST sobre a necessidade de avançar na questão da auto-organização da juventude camponesa através da luta pela educação. Inicialmente nós começamos fazendo uma Jornada da Juventude nas Escolas e no decorrer dos anos ela foi transformada na Jornada Nacional da Juventude Sem Terra, no sentido de ampliar as atividades para outros espaços, como nos próprios assentamentos e acampamentos, além das cidades.

Que tipo de atividades são desenvolvidas?

A jornada é composta por espaços de formação política, atividades culturais, como festivais e gincanas, e ações de luta. Além de se posicionar e rechaçar o modelo do agronegócio, principal inimigo de todo o povo camponês, as atividades buscam pautar o tema da educação que nós consideramos se a principal pauta da nossa juventude.

De que maneira a juventude Sem Terra pauta o tema da educação?

A luta por educação está presente dentro do MST como uma das bandeiras que mais consegue aglutinar a juventude. Essa bandeira compreende primeiro, a luta por escolas nos assentamentos e acampamentos; é uma luta árdua, que envolve inclusive a alfabetização dos jovens e adultos que ainda não tiveram esse acesso. Por outro lado, uma boa parte dos nossos assentamentos espalhados pelo Brasil ainda sequer possui escolas de ensino médio. Sem falar no acesso à universidade. Desde 1997 existe o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária, mas que não já atende a grande demanda que existe por parte da juventude camponesa. Então a luta pelo acesso à educação acontece em todos esses níveis: desde a alfabetização, a educação básica nos assentamentos e acampamentos, o acesso ao ensino médio e à universidade.

Além disso, nesse momento da conjuntura brasileira, surge outra face da luta pela educação: a luta contra o desmonte da educação pública, que está sob constantes ataques a partir do golpe de estado. Assistimos hoje a um verdadeiro golpe na educação pública a partir de medidas do governo golpista de Michel Temer, como a reforma do ensino médio, os projetos de escola sem partido e o esvaziamento da política para a educação no campo.

Nesse contexto, a jornada ganha ainda mais importância?

Claro. Vivemos uma conjuntura de crise econômica, crise política, crise social, crise ambiental, ou seja, uma combinação de várias crises, e que não serão superadas com uma simples troca de governo. Por isso nós queremos imprimir nessa jornada uma forte reflexão sobre o momento atual e sobre o protagonismo que a juventude tem nessa realidade. Desde o ano passado, acompanhamos uma série de ocupações de escolas pela juventude secundarista e universitária. A juventude esteve e está nas ruas dizendo que não aceita o modelo de estado que está estabelecido no país. Dizemos que esse é um momento de desobediência civil da juventude brasileira, e a juventude Sem Terra se insere nessa luta.

Em 2018 será realizado o Encontro Nacional da Juventude Sem Terra. Essa jornada é uma forma de mobilizar e convocar esse grande encontro?

A Jornada Nacional é uma das principais atividades que realizamos em preparação ao Encontro Nacional da Juventude, que pretendemos realizar em julho de 2018. Além do evento em si, queremos construir um grande processo até lá, com formação política, trabalho de base, debates com a nossa juventude, para refletir sobre o momento político que vivemos, mas principalmente para apontar as linhas políticas e os desafios da juventude do MST no próximo período. Então desde já, convocamos toda a juventude do MST para, a partir da jornada, iniciar esse processo rumo ao Encontro Nacional em 2018.