Pelo petróleo para educação: combater os inimigos da Pátria
Por Gilbero Carlos Cervinski e João Antônio Moraes*
O que a Noruega pode ensinar ao Brasil? Na questão energética, as riquezas geradas por meio do trabalho dos/as trabalhadores/as foram canalizadas para resolver os problemas de educação, saúde e tecnologia, tornando o país referência mundial em qualidade de vida.
O Fundo Soberano da Noruega, abastecido com dinheiro do lucro do petróleo, é o um dos maiores do mundo. Foi criado em 1998 e, depois de quase duas décadas, chegou a marca de U$ 1 trilhão (cerca de 3 trilhões de reais), o que equivale a 2,5 vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do país.
A Noruega criou o Fundo após descobrir uma grande reserva de petróleo no Mar do Norte. Para extrair o petróleo, adotaram uma política energética que colocou como prioridade o desenvolvimento social, chegando a ficar com 80% dos lucros do petróleo. Com este dinheiro foram formando anualmente o chamado Fundo Soberano.
Também adotaram uma estratégia de industrialização da energia por meio da política de conteúdo local, impondo obrigatoriedade de comprar máquinas e equipamentos no próprio país e, com isso, gerando postos de trabalho de boa qualidade, renda e desenvolvimento industrial.
A exploração do petróleo é feita majoritariamente por uma empresa estatal, Statoil, controlada pelo governo. O lucro é administrado por uma empresa do governo federal (Petoro) e os resultados são aplicados para melhorar a vida do seu povo conforme as demandas de todo país, principalmente investimentos em saúde, educação e tecnologia.
A média história de lucratividade do Fundo tem sido em torno de 5,5%. Sendo que nos primeiros três meses do ano de 2017, o fundo norueguês chegou a lucrar cerca de 32,5 bilhões de euros, algo como 120 bilhões de reais.
A Noruega tinha o equivalente a 10% do petróleo que o Brasil possui com o pré-sal. As reservas totais deles eram avaliadas em 20 bilhões de barris e, segundo dados da British Petroleum (BP), em 2016 eram de 7,6 bilhões de barris. Ou seja, nestes 20 anos o país retirou cerca de 12 bilhões de barris. Como a produção diária de petróleo na Noruega gira em torno de 2 milhões de barris por dia, resta ainda mais 10 anos de produção. No entanto, com esta estratégia conseguiram melhorar a vida de seu povo e ainda garantir boa poupança para as gerações futuras.
A Noruega era considerada um dos países mais pobres da Europa. Sua estratégia de desenvolvimento conseguiu distribuir renda, usando o dinheiro do petróleo, e gerar postos de trabalho no país para melhorar a vida de toda população. Em poucos anos, o país conseguiu atingir os melhores índices do planeta em relação a renda per capita, com cerca de U$ 71 mil dólares/pessoa e há 14 anos lidera o ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).
No Brasil, o modelo de partilha do lucro na produção de petróleo foi criado a partir da descoberta das gigantescas reservas de pré-sal, por meio dos governos Lula/Dilma, no qual parte do lucro deverá ficar com a empresa produtora e a outra parte vai para formar o Fundo Social, inspirado no Fundo Soberano da Noruega. Após o golpe, tudo está sob ameaça e em ligeira destruição.
Assim como a Noruega, o Brasil deveria adotar a estratégia de industrialização nacional e utilizar o lucro do petróleo para em pouco tempo resolver os grandes problemas sociais do país. Imaginemos o que poderia ser feito para a educação e saúde, sabendo que nosso país possui reservas de 200 bilhões de barris de petróleo, dez vezes maior que a Noruega possuía a 20 anos, quando decidiu usar o petróleo a serviço de sua nação.
No atual ritmo de produção brasileira, com cerca de 2,7 milhões de barris/dia, teríamos petróleo equivalente a 200 anos de produção e uma extraordinária geração de riqueza.
E o que está fazendo o Brasil? Os ilegítimos e golpistas estão entregando nossas reservas de pré-sal para as petroleiras estrangeiras levar o lucro embora, inclusive parte para a estatal norueguesa, como foi a entrega da área de pré-sal do campo de Carcará. A privatização da Eletrobrás e da Petrobrás é parte desta lógica de entrega das riquezas estratégicas ao capital internacional.
A energia do Brasil está sendo saqueada e pouco sobrará ao povo brasileiro se não reagirmos com a luta e a força necessária para derrotar todas as iniciativas anti-Pátria. Por isso, dia 3 de outubro, devemos todos e todas lutar pela soberania nacional e combater os inimigos do Brasil.
Privatizar não é a solução!
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Gilbero Carlos Cervinski é membro do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e mestrando em energia pela UFABC. João Antônio Moraes é Dirigente da Federação Única dos petroleiros (FUP). Ambos são Membros da Plataforma Operária e Camponesa de Energia.
**Editado por Leonardo Fernandes