Eu vi: o primeiro olhar sobre a morte do Che
Por Leonardo Fernandes
Da Página do MST
Pouca gente sabe, mas foi uma equipe de jornalismo brasileira, da empresa Diários Associados, que deu o furo de reportagem da captura e assassinato do guerrilheiro Ernesto Che Guevara, em outubro de 1967.
A repórter Helle Alves, o fotógrafo Antônio Moura e o cinegrafista Walter Gianello, haviam sido enviados à Bolívia para cobrir o julgamento do jornalista francês Regis Debray, que havia sido preso por fazer parte da guerrilha comandada por Che. As lentes e o olhar dos comunicadores captaram as imagens que mais tarde correriam o mundo e transformariam o médico argentino em um mito da luta pela liberdade dos povos.
A história de Helle Alves, hoje com 90 anos, foi o tema do documentário “Eu vi”, produzido pelos documentaristas Fábio Eitelberg, Patrick Torres e Pedro Biava, do Coletivo ReVira-Lata de audiovisual.
“Eu conheci essa história porque em 2013, a Dona Helle lançou um livro de memórias, no qual ela relatava esse fato incrível que foi ser a primeira jornalista a cobrir a morte do Che. Imediatamente eu procurei saber onde era o lançamento, fui, a conheci, e comprei o livro”, conta Biava sobre a descoberta da história de Helle Alves.
A partir desse primeiro encontro, a equipe de documentaristas se reuniu algumas vezes com Alves, revisitou imagens e memórias da jornalista para contar os passos da equipe em território boliviano.
Biava destaca a importância do olhar sensível de Helle Alves, que tratou de imprimir uma reportagem descritiva, sem juízos de valor, num momento em que a América do Sul era dominada por governos fascistas, que tinham total controle sobre o conteúdo jornalístico publicado.
“Naquele momento, estávamos vivendo um momento difícil na região, e eu acredito que a maneira como a Dona Helle descreve os fatos, sem tomar partido de nenhum lado, mas evidenciando a questão humana, a comoção da população de Vallegrande que nem sabia bem o que estava acontecendo… Esse olhar foi o que permitiu que o texto fosse publicado sem maiores problemas. Por isso o título do filme, que também é o título do livro de memórias dela. Em primeira pessoa, afinal, o que nos chama a atenção é esse olhar tão particular de um fato histórico como esse”.
Apesar de o filme ter sido produzido com pouquíssimos recursos e uma equipe reduzida, o documentário de cerca de 20 minutos recebeu vários prêmios dentro e fora do Brasil, e foi reproduzido em festivais de cinema do mundo inteiro, entre eles o Festival de Cinema de Havana, onde o filme teve uma grande repercussão.
Além das entrevistas com a jornalista Helle Alves, o filme trás ainda o depoimento do ex-editor-chefe dos Diários Associados, Wilson Gomes e da filha de Che Guevara, Aleida Guevara.
“No caso desse filme, há um fato jornalístico que nos pareceu importante falar afinal essa é uma história do jornalismo brasileiro. E há também uma questão política que também é preciso contar, para desmistificar os preconceitos e estereótipos criados sobre o Che”, destaca Biava, ressaltando a motivação que levou à produção do documentário.
Com vocês, Helle Alves
Helle Alves nasceu em 7 de dezembro de 1926, em Itanhandu, no interior de Minas Gerais. Com apenas 15 anos começou a trabalhar no jornalismo. Atuou por muitos anos na imprensa escrita, mas teve também atuações em televisão. É também escritora, com vários livros publicados. Ela é irmã da atriz Vida Alves, falecida em janeiro de 2017. Há mais de 20 anos, Helle mora na cidade de Santos, litoral do estado de São Paulo.
Segundo o diretor, o filme deve ser lançado em breve na internet. Por enquanto, dá pra sentir um pouco do tom, assistindo ao teaser no link abaixo.
*Editado por Maura Silva