MST denuncia pulverização aérea no interior de São Paulo

Além do assentamento, a Estação Ecológica Caetetus, uma área de quase mil alqueires de mata preservada, também está sendo ameaçada pelas constantes pulverizações
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Imagem meramente ilustrativa 

 

Por Coletivo de Comunicação MST/SP

Na última quarta-feira (11), famílias do assentamento Luiz Beltrame, localizado no município de Gália, no interior de São Paulo, foram surpreendidas pela atividade de um avião de pulverização aérea. Entre às 10h00 e às 13h30, a aeronave sobrevoou a fazenda Brinco de Ouro, vizinha ao assentamento jogando veneno em toda a área. A fazenda faz divisa com o assentamento e, além das manobras feitas em cima de onde vivem as famílias, o vento fazia a neblina adentrar e espalhar-se pela área.

Por volta das 11h30, as crianças do assentamento que se deslocavam com o transporte escolar tiveram que passar pela estrada que corta a fazenda, inalando a neblina de veneno que era jogada do avião. Durante todo o dia um forte odor de veneno invadiu as residências das famílias provocando náuseas e outros sintomas. Médicos da FAMEMA (Faculdade de Medicina de Marília) orientaram sobre os danos à saúde e a urgência de procurar atendimento médico caso ocorresse alguns dos  sintomas típicos de intoxicação.

Certamente houve a contaminação de pessoas, nascentes de rios, da terra, mata ciliares e também animais domésticos e silvestres, bem como, aves em extinção que habitam o local. Enxames de abelhas têm constantemente aparecido mortos e a potencial produção de mel está comprometida pelo excesso de veneno aplicado na agricultura nas fazendas vizinhas.

O assentamento Luiz Beltrame é fruto da conquista da luta dos trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra na regional de Promissão (SP). O nome é uma homenagem ao grande poeta Sem Terra e incansável lutador pela Reforma Agrária que morreu em 2016, aos 107 anos. 

O acampamento iniciou sua luta em 2009 sendo alvo de despejos violentos, da truculência do Estado e da polícia. No entanto, as famílias não cederam na luta pela terra e avançaram firmemente na resistência, com ocupações, reocupações, acampamento em beira de estradas, participando ativamente das jornadas de luta até a conquista da terra. As fazendas Portal do Paraíso e Recreio Gleba 3 (Santa Fé) foram declaradas improdutivas, falidas e transformadas em assentamento, onde, desde 2013, 77 famílias vivem, trabalham e produzem alimentos.

O Luiz Beltrame está no rol de “assentamentos precarizados”, sem investimentos em infraestruturas  (poços, estradas, construção de moradias etc) e créditos para a produção agrícola – síntese da  atual política de Reforma Agrária. Ainda assim, as famílias seguem no processo de resistência para organizar a produção com bases nos princípios da agroecologia. Nestes quatro anos de consolidação do assentamento, apesar de não acessar nenhuma política pública, foram construídas 27 unidades de Sistemas Agroflorestais (SAFs). 

Além do assentamento, a Estação Ecológica Caetetus, uma área de quase mil alqueires de mata preservada, também está sendo ameaçada pelas constantes pulverizações. Na estação ecológica vivem diversas espécies de animais, parte delas ameaçadas de extinção.

Diante dessa situação, o MST vem à público denunciar a violência contra as famílias do assentamento Luiz Beltrame e que atinge também as populações rural e urbana que vivem próximo à fazenda Brinco de Ouro, pois todas estão sujeitas à desenvolver problemas de saúde causados pela   contaminação por produtos altamente químicos existentes na composição desses agrotóxicos.