Cultura Sem Terra: luta, organização, produção e poesia

A cultura revolucionária que vislumbramos na nossa prática militante é ação para a libertação, em todas as suas frentes
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Do Coletivo de Cultura do MST 
Da Página do MST

 

Dando continuidade ao IV seminário o MST e a cultura, militantes de diferentes setores, de todas as regiões do país realizaram uma reconstituição histórica do papel da arte na luta do MST e da dimensão da cultura na nossa estratégia. A atualidade desse debate fica evidente diante dos desafios que estão colocados perante a ofensiva do agronegócio na batalha das ideias aliado à indústria cultural e os meios de comunicação de massa.

Os estudos apontam que o capital não desvincula a dimensão cultural de suas estratégias de controle e manipulação, dando à indústria cultural papel central. O combate neste campo teve destaque nos processos revolucionários de Cuba e URSS demonstrando mais uma vez o caráter indissociável entre cultura, economia e política.

A sessão dedicada à socialização de práticas revela que as linguagens artísticas presentes na mística, na formação política de militantes nos currículos de educação formal, nos coletivos de assentamentos e brigadas de agitação e propaganda são algumas das formas de enraizamento de nosso programa cultural da Reforma Agrária Popular.

Para Antônia Rorigues, do setor de produção: “as nossas feiras representam a síntese de nossa experiência cultural; nelas apresentamos nossa produção artística e de alimentos como frutos do processo da luta e de novas relações sociais que estamos construindo. São possibilidades de uma enorme potencialidade no diálogo com a sociedade, sobre a relação necessária entre a Reforma Agrária, a soberania alimentar, a saúde da população e o cuidado com a natureza.”

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Confira abaixo a carta em que o coletivo de cultura do MST reafirma seu compromisso com a luta e o enfrentamento por uma sociedade melhor:  

Como Trabalhadoras e Trabalhadores de um país marcado pela expropriação, nosso corpo é a marca dos açoites da escravidão. Nosso olhar firme e nossa voz que canta foram construídos muito antes de nós, por antepassados, por outros sujeitos históricos em culturas e sociedades diferentes que não existem mais em nenhum lugar senão em nosso canto e nossa ligação com a terra.

Guardamos na memória coletiva a dança da semeadura, as rimas das poesias dos povos, sotaques de aqui e acolá do mundo, festejos e crenças… O ato da resistência. Ocupamos as terras dos latifundiários, a nossa terra. E na Luta, nas ações combatentes, na organização coletiva para sobreviver à violência e aprender as estratégias de ataque, nós construímos valores e símbolos que continuam a trajetória insubmissa dos quilombos. Nossa poesia nasceu em cima dos caminhões, sob a lona, apesar das balas. Nós fazemos poesia pra vencer o medo e anunciar a vitória. Nossa poesia fala de camponeses e militantes que se formam em consonância com o cultivo e a rebeldia. Nossa poesia projeta um futuro de liberdade.

A cultura revolucionária que vislumbramos na nossa prática militante é ação para a libertação, em todas as suas frentes. No cotidiano da luta é que aprendemos a responsabilidade de nos erguer contra a propriedade privada e a mercantilização da vida, contra a violência da cultura hegemônica que mantém os trabalhadores e trabalhadoras em condição de servos.

Aprendemos, em nosso cotidiano militante, a necessidade de criar espaços de sociabilidade que apontem o futuro que sonhamos; que tenham o potencial de nos reconstruir como novos seres enquanto construímos novas relações de produção e reprodução da vida – potencial de nos reconstruir como mulheres e homens novos. Por isso é que nossa cultura tem que ser política e insubmissa.

E essa cultura são os valores e práticas que nos afirmam como sujeitos – e que sujeitos somos? Que sujeitos queremos ser? A cultura, que são nossas sementes, nossas produções, nosso modo de produzir, é uma tarefa de todos… porque não existe cultura sem povo, sem gente, sem prática cotidiana, sem ação transformadora. Nossa cultura revolucionária parte de uma escolha política, de uma negação.

Esta escolha começou a ser trilhada há trinta e quatro anos e precisa ser reafirmada e reposicionada, consciente e firme. Coletiva.