Maria Prestes, 85 anos de história de luta

Durante a inauguração do Armazém do Campo em Belo Horizonte, a militante comunista foi homenageada com o lançamento de uma cerveja que leva seu nome.
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Foto Mídia Ninja

 

Por Leonardo Fernandes
Da Página do MST

“A terra deve ser dos camponeses, dos que trabalham nela”. Com essa convicção, Maria Prestes, 85 anos, falou da satisfação de ser homenageada pelo MST durante a inauguração do Armazém do Campo em Belo Horizonte.

Pernambucana, filha de camponês, trabalhou desde pequena na agricultura, antes de se tornar uma das mais importantes militantes do Partido Comunista. “Desde pequena, meu pai já me falava que havia um país onde o proletariado estava no poder, e onde a terra era distribuída entre aqueles que queriam trabalhar”.

Aos 17 anos, foi destacada pela organização para fazer a segurança daquele que mais tarde seria também seu companheiro de vida, Luís Carlos Prestes, e com quem teve oito filhos. Ao lado dele passou 40 anos, que estão relatados em seu livro de memórias “Meu companheiro Luís Carlos Prestes”, que já está com edição esgotada no Brasil.

Hoje, Maria percorre o interior do Brasil levando um pouco do legado deixado pelo Cavaleiro da Esperança, que em suas palavras “sonhava com uma sociedade livre e justa”.

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Foto David Robins

Feminista e cervejeira

Durante a inauguração do Armazém do Campo de Belo Horizonte, foi lançada a cerveja artesanal Maria Prestes, uma homenagem da neta, Andréia Prestes, à avó.

Andreia faz parte de uma iniciativa inovadora, a Cervejaria Feminista, que propõe levantar a bandeira da igualdade de gênero através da homenagem a mulheres que fizeram história. “A gente começou a participar de uns grupos de cervejeiros artesanais, e percebemos que é um ambiente muito machista. Então nós começamos a pensar como poderíamos inserir o debate feminista nesse ambiente, e dai surgiu a Cervejaria Feminista”.

Andreia conta que para chegar ao sabor da cerveja foi um longo processo de muita conversa com a avó, de recuperação da memória da lutadora, que experimentou saborosas cervejas no tempo que viveu na antiga União Soviética, o que é corroborado pela avó. “Foi numa visita minha à Tchecoslováquia que me perguntaram se eu gostaria de provar a cerveja Tcheca, e eu gostei muito. Até hoje eu me lembro do sabor daquela cerveja. E foi contando essas histórias que minha neta teve a ideia de fazer essa cerveja”.

O resultado da troca entre neta e avó foi uma cerveja que representa o caráter da militante comunista, feminista, que não esmorece com as dificuldades da conjuntura. “Quisemos chegar a um sabor que ela gostasse e resultou numa cerveja que é ao mesmo tempo forte, tem um dulçor. E com esse projeto, nós estamos mostrando como o ambiente da cerveja pode ser um ambiente para falar de política, de memória, de luta de história… E estar na inauguração do Armazém do Campo do MST é uma honra imensa”.

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Dia internacional da não violência contra a mulher

O lançamento da cerveja Maria Prestes ocorre no mesmo dia em que se celebra o Dia Internacional da não violência contra a mulher. A data foi instituída em 1999 pela Organização das Nações Unidas (ONU), como uma forma de incitar o debate e a reflexão sobre a situação de violência enfrentada pelas mulheres de todo o mundo.

Segundo Maisa Matias, do MST de Minas Gerais, a discussão de gênero tem o potencial de unificar as mulheres do campo e da cidade a favor de um projeto popular para o país. “A gente compreende que a luta pela terra, pelo socialismo, só será possível se nós também travarmos a luta feminista, contra a violência machista. E mais, se nós não estabelecermos um diálogo com as diversas lutas das mulheres que estão nas cidades. Então trazer esse debate sobre a violência de gênero, atrelada à discussão sobre o racismo, que tem matado não só as mulheres, mas a nossa juventude, significa consolidar o nosso projeto de Reforma Agrária Popular. Fazer o combate ao racismo, à LGBT fobia, à violência de gênero, é fortalecer o projeto popular que temos para o Brasil”.

A cerveja Maria Prestes é um dos mais de 250 produtos que serão comercializados de maneira permanente no Armazém do Campo de Belo Horizonte, que fica localizado na Avenida Augusto de Lima nº 2136, Barro Preto. A programação de inauguração vai até o domingo (26) e conta com uma programação cultural que faz parte do Circuito Mineiro de Arte e Cultura da Reforma Agrária, edição regional metropolitana. A partir da segunda-feira (27), o espaço estará aberto ao público de segunda a sábado, das 8h às 22h.

 

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