Frei Henri des Roziers: uma trajetória de luta e compromisso com o povo

Nossa atitude diante desta morte é de silêncio e memória reverente, um profeta que nos deixa.

 

 

Da CPT

 

“Tive fome, me deste de comer; tive sede, me deste de beber; era forasteiro, me acolheste em casa; estava preso, me visitaste; estava nu, me vestisse; estava doente, cuidaste de mim”. (Mateus, 25)

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) celebra a Páscoa de um de seus incansáveis lutadores por direitos e Justiça, que realizou em sua vida o que Mateus descreve acima. Frei Henri des Roziers continua PRESENTE não apenas nos acampamentos e assentamentos que carregam seu nome, mas, sobretudo, em meio aos pequenos da terra, que incansavelmente lutam na defesa de seus direitos, diariamente vilipendiados. Ele continua PRESENTE a nos “animar a redobrar o passo”. Nossa atitude diante desta morte é de silêncio e memória reverente, um profeta que nos deixa.

“Sua partida nos deixam tristes e saudosos, mas, nos dá a certeza de que as sementes semeadas por ele continuarão a nascer neste vasto campo de lutas do povo pela terra e pelos direitos de permanecer nela” – CPT Pará.

Frei Henri fez sua Páscoa neste domingo, 26, às 14h30, em Paris, na França. Após participar de uma celebração, almoçou, foi para seu quarto, onde faleceu repentinamente. Nascido em 1930 em uma família aristocrática, Henri se formou em advocacia e, provocado pelas situações de desigualdade e injustiça, se tornou frade dominicano. Em 1968, se alinhou com a revolução dos estudantes, em Paris, na qualidade de capelão do centro Saint Yves, o único centro dos estudantes que não fechou e nem condenou os anseios que buscavam. Em 1970, foi viver e conviver na condição de padre-operário exercendo funções de operário, motorista e zelador. Depois aceitou o desafio de morar no Brasil, provocado pela morte de Frei Tito (1974), exilado na França.

Chegou ao Brasil no final de 1978 e o campo de atuação que logo lhe abriu foi o trabalho desenvolvido pela CPT junto aos posseiros e pequenos agricultores na defesa de seus direitos à terra. Inicia junto à CPT do Norte do estado de Goiás, hoje Tocantins, sobretudo no Bico do Papagaio. Para melhor atuar em sua defesa, conseguiu o reconhecimento de seus estudos jurídicos e a inscrição na OAB.

“Uma pessoa assim não morre. Eu que não tenho a mesma fé de Henri, acredito que ele sim atingiu a imortalidade. Viverá para sempre como um dos capítulos mais bonitos da história brasileira” – Leonardo Sakamoto.

Em 1991, após o assassinato do presidente do Sindicato de Rio Maria, Expedito Ribeiro da Silva, foi para Rio Maria, no sul do Pará, onde os conflitos pela terra e a violência contra os trabalhadores alcançavam dimensões assustadoras. E naquela região, entre Conceição do Araguaia, Rio Maria e Xinguara, exerceu sua ação até quando, com a saúde fragilizada, em 2013, voltou para a França. Henri foi responsável pela condenação de diversos fazendeiros mandantes de assassinatos de lideranças sindicais na região.

“Seu jeito pedagógico e profético, e ao mesmo tempo discreto, estimulou e motivou mulheres e homens a se dedicarem generosamente na assessoria jurídica às famílias e comunidades e no acompanhamento criterioso e competente dos processos possessórios e de trabalho escravo” – Jeane Bellini.

Com a cabeça posta a prêmio, várias vezes, por sua ação firme e decidida, foi forçado a aceitar a escolta ostensiva das forças de segurança. Sua atuação se tornou referência para a toda a CPT quando se tratava de combate à violência contra os trabalhadores do campo e ao trabalho escravo. Ele serviu de inspiração para uma plêiade de jovens advogados que pautaram suas atividades nos princípios e na determinação do frade que incomodava quem explorava e oprimia.

Acreditamos, como o profeta Daniel, que “os que conduziram muitos para a Justiça brilharão como estrelas para sempre” (Dn 12,4).

Que sejamos dignos da herança que ele nos deixa.

Goiânia, 27 de novembro de 2017.

A Diretoria e Coordenação Executiva Nacional

 

 

*Editado por Rafael Soriano