Intervozes e Repórteres Sem Fronteiras lançam pesquisa sobre proprietários de mídia no Brasil

O projeto faz parte de uma iniciativa internacional que ganhou o nome de Media Ownership Monitor

 

Por Webert da Cruz
Da Página do MST 
 

 

Na última sexta (2), aconteceu o lançamento do estudo Quem Controla a Mídia no Brasil no auditório do Conselho Nacional do Ministério Público Federal na Procuradoria Geral da República em Brasília. Atividade  contou com a presença de profissionais, pesquisadores e demais interessados no tema. O levantamento identificou e atualizou os 40 principais grupos de mídia do Brasil, seus proprietários e os riscos à diversidade e à pluralidade no sistema de mídia do país.

O projeto faz parte de uma iniciativa internacional que ganhou o nome de Media Ownership Monitor – MOM (Monitor de Propriedade de Mídia), organizada pela Repórteres sem Fronteiras. O estudo do caso brasileiro foi realizado pelo Intervozes, entidade com quase 15 anos de pesquisas e atuação no direito à comunicação.

Participaram do lançamento a procuradora federal dos direitos do cidadão, Deborah Duprat, o representante da Repórteres sem Fronteiras no Brasil, Emmanuel Colombié, e o coordenador da pesquisa, André Pasti. Essa pesquisa se apresenta como ferramenta que disponibiliza um mapeamento sobre a propriedade veículos de comunicação e grupos detentores, além de suas atividades econômicas e políticas.

“Grande parte dos maiores grupos de comunicação do Brasil, que controlam os principais veículos, tem relações com o agronegócio”, afirmou André Pasti do Intervozes. O estudo mostra relações históricas como as do Grupo Folha, Globo e família Saad, da rede Bandeirantes com grandes investimentos e propriedade de terras no país.

André afirma que as relações da grande mídia dificulta muito e invisibiliza as disputas pelos direitos dos trabalhadores do campo e acesso a terra. “Os interesses do agronegócios estão todos presentes nos grandes veículos de comunicação”, diz o pesquisador. A exemplo disso, é comum assistir nos intervalos da Rede Globo a
campanha “agro é pop”.

A relação dos grandes meios com o agronegócio pode ser observada tanto nos investimentos financeiros quanto na produção de conteúdo das mídias. O Grupo RBS, cujos acionistas são proprietários de terra, criaram o Canal Rural de TV, em 1996, posteriormente vendido para a J&F Investimentos, controladora do Frigorífico JBS, em 2013.

A família Saad, do Grupo Bandeirantes, também proprietários de terras, possui o canal de TV a cabo Terraviva e, na Band News, o Jornal Terraviva reapresenta notícias sobre o agronegócio produzidas pelo canal especializado. Em 1989, a família teve parte de suas terras desapropriada para a Reforma Agrária.

Vozes silenciadas

Não é novidade para quem atua em movimentos sociais ou é sensível às suas causas a impressão de que a mídia não os trata como deveria. A exemplo de como o MST é abordado nos meios de comunicação, o estigma de movimento violento, clandestino e ilegal são algumas ações midiáticas que possuem o objetivo de criminalizar o verdadeiro sentido da luta pela reforma agrária no país.

O Intervozes já realizou um estudo sobre a cobertura da mídia sobre o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra durante a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito em 2010, o Vozes silenciadas. E o resultado não foi diferente das impressões sobre os papéis que a grande mídia desenvolve em seus editoriais. Desmoralização e
desvirtualização da luta.