Conferência destaca experiências agroecológicas do MST no RS

Nesta quarta-feira (14), participantes da Conferência Internacional de Sistemas Orgânicos de Produção de Arroz visitaram cooperativas e agroindústria do MST
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Na Cootap, conferencistas conheceram a história da cooperativa. Foto Catiana de Medeiros

 

Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

 

O segundo dia da 3ª Conferência Internacional de Sistemas Orgânicos de Produção de Arroz, que acontece até a próxima sexta-feira (16) na região Metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, foi marcado pelo painel “Casos de Sucesso: Inovação Tecnológica e Sistemas de Cultivo”. O Sem Terra Marthin Zang participou da atividade na Assembleia Legislativa, ocasião em que falou sobre o Grupo Gestor do Arroz Agroecológico do MST.

Zang, que também é engenheiro agrônomo, disse que o Grupo Gestor do Arroz Agroecológico é uma experiência que vem sendo construída há mais de 15 anos nos territórios de Reforma Agrária. Neste período, teve um acúmulo no que diz respeito à organização técnica, política e social. Hoje, a iniciativa envolve assentamentos da região Metropolitana de Porto Alegre, da Campanha e da Fronteira Oeste do estado.

O arroz orgânico que é produzido por cerca de 500 famílias Sem Terra chega ao mercado por meio da marca ‘Terra Livre’. “Ela representa essa ideia de uma Reforma Agrária que dá certo”, afirmou o engenheiro. Ele acrescentou que o arroz em questão não é apenas um produto de consumo. “Ele possui em si uma carga de valores, que é representada por uma série de lutas e conquistas das famílias que se desafiaram a produzir de forma diferente e orgânica”, explicou.

Zang apresentou ainda os princípios fundamentais que norteiam essa iniciativa do Movimento, tais como o acesso à terra, a produção de comida em sistemas agroecológicos, a gestão conjunta dos recursos naturais, a cooperação e o camponês com garantia de autonomia desde a produção até a comercialização. “O agricultor não apenas produz: ele planeja, avalia e decide”, ressaltou.

Ele destacou ainda os objetivos do Grupo Gestor, que compreendem a motivação das famílias para produzirem de forma agroecológica e adotarem como opção de vida a produção diversificada de alimentos. O intuito também é integrar mais agricultores na produção de arroz orgânico, construir relações políticas com a sociedade, cuidar do meio ambiente, disputar políticas públicas e investir na certificação participativa.

Durante a conferência, o Sem Terra Marthin Zang falou sobre o Grupo Gestor do Arroz Agroecológico do MST. Foto Catiana de Medeiros. jpg.jpg
Durante a conferência, o Sem Terra Marthin Zang falou sobre o Grupo Gestor do Arroz Agroecológico do MST. Foto Catiana de Medeiros

Estratégia de atuação

Já entre as estratégias de atuação do Grupo Gestor está a formação e a capacitação dos agricultores envolvidos no processo produtivo, a troca de experiências, o planejamento estratégico, a viabilização dos recursos, a comercialização e o planejamento anual de novos ciclos.

“O planejamento e a avaliação são rotinas. Aprendemos historicamente que é importante destacar os pontos-chaves da parte técnica, administrativa e política, para ver como estamos e como podemos avançar estrategicamente”, contou Zang.

Ele acrescentou que hoje a maior parte da produção de arroz do Grupo Gestor é certificada por auditoria, no entanto, o MST já tem realizado certificação participativa. “Este ano certificamos pelo sistema de auditoria 310 famílias e mais de 4 mil hectares de produção de arroz”, enfatizou.

Participantes da conferência estiveram numa lavoura onde é produzido o arroz Terra Livre. Foto Catiana de Medeiros.jpg
Participantes da conferência estiveram numa lavoura onde é produzido o arroz Terra Livre. Foto Catiana de Medeiros

Visitas a campo

Após o painel, os conferencistas foram a campo conhecer experiências de produção agroecológica de arroz. De oito lugares visitados seis são ligados ao MST, entre eles a Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Coopat), localizada no Assentamento Integração Gaúcha, em Eldorado do Sul, a 15 quilômetros da capital.

Hoje a Cootap, que foi fundada em 1995, possui 1.462 famílias associadas, que vivem em 21 assentamentos e em 16 municípios gaúchos. Elas estão organizadas em grupos gestores do arroz, do leite, das hortas e das frutas, e também produzem panificados.

Na oportunidade, o assentado Marcelo Moraes explicou como as famílias se organizam internamente para garantir o desenvolvimento das cadeias produtivas, o que envolve avaliação e planejamento estratégico. Ele destacou que a Cootap está se adequando para poder produzir as suas próprias sementes de arroz. “Entre os projetos grandes que temos, um é uma unidade básica de sementes, que vai permitir o nosso aperfeiçoamento nessa área”, disse.

Para terem um contato mais próximo com a produção do arroz Terra Livre, os participantes foram até uma lavoura e tiveram acesso a uma parte da estrutura que Cootap possui para produzir o alimento. Ainda durante a visita, eles conheceram as novas apostas da cooperativa na produção de orgânicos, tais como sucos, geleias e extrato de tomate.

Os participantes da conferência também visitaram outras iniciativas do MST que investem na produção de arroz, como a Cooperativa de Produção Agropecuária Nova Santa Rita (Coopan), em Nova Santa Rita; a Cooperativa de produção Agropecuária dos Assentados de Tapes (Coopat), em Tapes; a Cooperativa de produção Agropecuária dos Assentados de Charqueadas (Coopac), em Charqueadas; e a Cooperativa dos Produtores Orgânicos da Reforma Agrária de Viamão (Cooperav), em Viamão. Eles ainda estiveram na Agroindústria Vegetal, que é ligada à Cootap, em Nova Santa Rita; na Fazenda Capão Alto das Criúva, em Sentinela do Sul; e em uma propriedade de um agricultor que é guardião de sementes, em Barra do Ribeiro.