Mulheres, água e as estratégias de comunicação em rede
Por Gerson Neto
Da Página do FAMA
Foto de capa: Leonardo Godoy/FAMA
No quarto dia do Fórum Alternativo Mundial da Água (FAMA), a Tenda Inter-religiosa abrigou uma roda de conversa estimulada por Claudia Florentin, da Agencia Latinoamericana y Caribenha de Comunicación, para falar de como os meios de comunicação invisibilizam as mulheres.
O painel apresentado por Claudia começou com um vídeo sobre mulheres indígenas do povo Wayuu da Colômbia, cuja única água a qual têm acesso é retirada de poços subterrâneos, mas salobra. O vídeo foi apresentado como um exemplo de como a comunicação pode ser realizada dando voz às mulheres e as colocando como protagonistas.
Geralmente as informações que saem sobre as mudanças climáticas, a falta de água, a seca e as enchentes são tomadas pela imprensa como relato informativo. A grande imprensa geralmente não aprofunda as causas que geraram esse problema que está se reportando como informação, como os monocultivos, as minerações, carvoeiros, e tampouco dão voz a quem está sofrendo as consequências dessas crises provocadas. Mas as maiores vítimas dessas crises são exatamente os mais vulneráveis: pobres, negros, indígenas as mulheres.
As mudanças climáticas afetam de forma diferente homens e mulheres. Muitos fatores interferem a vulnerabilidade e a capacidade de adaptação de forma diferente, dependendo do gênero. A mulher tem trabalhos de cuidado não reconhecidos e não remunerado, como cuidar dos filhos, da alimentação, da limpeza dos espaços e também do trabalho de buscar água. Esses trabalhos extenuantes prejudicam sua atenção à educação, além das consequências prejudiciais para a saúde que decorrem desses trabalhos extenuantes.
Quando uma mulher tem pouca água, oferece o que tem para seus filhos. Por isso, elas apresentam muitos problemas de saúde pela dificuldade de acesso à água. Ainda assim, as mulheres são responsáveis por 75% da produção de alimentos na África subsaariana, 65% na Ásia e 45% na América Latina.
Retomando a análise da forma como a comunicação oficial esconde ou estigmatiza as mulheres, sempre que ela mostra especialistas em assuntos diversos, seja economia, seja politica e até mesmo quando se trata de assuntos específicos do universo feminino, como o aborto, a maioria das vozes são masculinas. Para Claudia, é preciso dar mais voz às mulheres e buscar maior isonomia de gênero.
Claudia encerrou seu painel propondo diretrizes para as organizações baseadas na fé trabalharem a comunicação, dialogando com os meios de comunicação, monitorando as informações e estabelecendo alianças. De acordo com a comunicadora, é essencial contar histórias em primeira pessoa, com testemunhos, dando protagonismo às mulheres. E, por fim, propôs uma rede de informações e intercâmbio de experiências entre as equipes de comunicação das organizações.
*Editado por Júlia Garcia na Página do FAMA