Lula visita antiga fazenda Annoni e se compromete a fazer mais pela Reforma Agrária se eleito presidente

Encontro com os acampados e assentados da Reforma Agrária aconteceu no último dia da Caravana de Lula pelo Rio Grande do Sul
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Foto Leandro Molina 

 

Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

A Caravana Lula pelo Sul do Brasil esteve na última sexta-feira (23) na antiga fazenda Annoni, localizada no município de Pontão, na região Norte do Rio Grande do Sul. Considerado ‘berço’ do MST, o local foi ocupado em 29 de outubro de 1985 por mais de 7 mil trabalhadores Sem Terra, que exigiam o latifúndio improdutivo de mais de 9 mil hectares para a Reforma Agrária.

O ex-presidente esteve na Cooperativa Agropecuária e Laticínios Pontão (Cooperlat), que tem a sua estrutura no Assentamento Nossa Senhora Aparecida, próximo às margens da ERS-324. Lá, centenas de trabalhadores o recepcionaram com uma faixa que continha a frase “Lula, pela Reforma Agrária, te desejamos presidente” e outra que fazia menção à luta dos estudantes em defesa do Programa Nacional da Reforma Agrária (Pronera).

Na ocasião, Lula relatou o cenário de fascismo que a caravana enfrentou durante os cinco dias em que esteve no território gaúcho. Ele disse que nunca presenciou o tipo de violência praticada por coxinhas e ruralistas do estado, os quais usaram pedras e ovos para jogar nos ônibus da caravana e estavam munidos de rojões e bombas.

“Eu já fiz muita campanha, já percorri esse Brasil do Oiapoque ao Chuí e nunca vi comportamento fascista como estou vendo aqui. Eu tenho 72 anos, faço política desde os 35, e nunca tive notícias de alguém bloquear uma estrada para eu não entrar, mesmo quando era para ser solidário a uma greve que tinha parado a cidade”, recordou.

Por outro lado, Lula destacou que “não tem nada contra protestos” e que as pessoas “não são obrigadas a gostarem dos Sem Terra e do Lula”, bem como de figuras como a ex-presidente Dilma Rousseff e o ex-governador Olívio Dutra. Para ele, o cenário é “bom”, porque cada vez mais fica evidente “quem é quem no país” e “obriga as pessoas a se decidirem” de qual lado querem estar.

“Eles têm que aprender uma coisa, nós vamos voltar para governar esse país para fazer a tarefa que nós não terminamos. Eu sempre dizia quando era presidente “eu sei de onde vim e sei para onde eu vou voltar”; “Eu sei quem são os meus amigos de verdade e quem são os meus amigos eventuais”. E hoje, a verdade é que nenhum amigo eventual é mais amigo; eu só tô com os meus amigos de sempre”, disse.

Lula criticou ainda a postura de alguns produtores rurais que foram contemplados com políticas públicas criadas em seu governo e que durante a semana passada se somaram à onda de ódio, inclusive com tratores adquiridos pelo Programa Mais Alimentos – furto da gestão petista – para tentar impedir a chegada de Lula às cidades.

“Muitas vezes eu briguei com vocês, porque eu percebia que era possível a convivência pacífica entre o agronegócio e a agricultura familiar. Mas essa gente hoje destila ódio. Os agricultores empresariais têm um benefício de exportar sem pagar imposto, e nós não conseguimos vender no mercado de Porto Alegre o salame, a linguiça, o queijo e o suco de uva que são produzidos nas cooperativas do MST, porque a grande cadeia de supermercados e os burocratas dos ministérios não deixam a lei andar. Nós vamos resolver isso. Ou a gente volta para fazer mais, com mais competência, e demarca o nosso campo; ou a gente não volta. Evidente, vamos ter que governar para todos, mas temos que ter um olhar mais privilegiado para quem mais precisa. Portanto, esse é o compromisso que eu quero ter com vocês”, ressaltou.

Ao final de sua fala, o ex-presidente agradeceu aos trabalhadores assentados e acampados por terem acompanhado a Caravana Lula pelo Rio Grande do Sul, que em cinco dias de roteiro esteve em 12 cidades. “O carinho que eu tenho por vocês é histórico. Eu não sei se nós nasceríamos sem vocês ou se vocês nasceriam sem nós. A verdade é que nos completamos, no campo, na cidade e na fábrica. Não tem preço o que vocês fizeram para nós até agora e certamente não terá preço o que vai acontecer daqui para frente”, concluiu.

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Foto Catiana de Medeiros 

Lula para a Reforma Agrária

 

Na ocasião, a assentada e dirigente estadual do MST, Salete Carollo, falou que o Movimento seguirá em frente com o presidente Lula, para que ocorra uma verdadeira Reforma Agrária no país e para que iniciativas como o Pronera e o Programa de Aquisição de Alimentos [PAA], que estão sendo desmontadas por Michel Temer, tenham continuidade. Salete também defendeu que, num governo popular, deve ser construído um novo projeto de agricultura, que tenha em sua base a agroecologia, a pesquisa, a cooperação e a comercialização de alimentos para o mercado interno.

“Aprendemos nesses 33 anos de MST que as conquistas são alcançadas se tivermos resistência e luta. E nós estamos dispostos a eleger Lula presidente do Brasil. Confie e acredite em nós, e na hora em que você precisar nós estamos prontos para a peleia”, destacou.

Ainda na antiga fazenda Annoni, Lula, que estava acompanhado de Dilma Rousseff, Olívio Dutra e deputados federais e estaduais, foi presentado com uma cesta de produtos da Reforma Agrária e um quadro de sementes que traz uma réplica da agrovila onde está localizada a Cooperativa de Produção Agropecuária Cascata (Cooptar), também do MST.

A assentada Irene Manfio, trabalhadora da Coptar, conta que receber o ex-presidente na Annoni trouxe a lembrança do início da luta do Partido dos Trabalhadores e do MST, num período em que se organizavam greves no ABC Paulista e se protagonizava a maior ocupação de latifúndio, até então, de camponeses Sem Terras no país. O sentimento, segundo ela, da visita de Lula é de retomada da união de forças do campo e da cidade.

“Ter Lula aqui na Annoni é um orgulho muito grande para nós, pois quando ele foi presidente viabilizou várias políticas que melhoraram as condições de vida e possibilitaram avançar na produção de alimentos nos assentamentos. Agora, é importante que Lula, sendo novamente presidente, olhe para os trabalhadores e faça a Reforma Agrária”, apontou.

A assentada Salete Campigotto, reforçou que o encontro de Lula com os Sem Terra simboliza um comprometimento da classe política de esquerda com a luta pela Reforma Agrária. “A Annoni era um latifúndio que produzia meia dúzia de vacas magras, cobras e ratos. Depois que virou assentamentos, passou a produzir uma diversidade de alimentos. Por isso queremos que Lula faça uma verdadeira Reforma Agrária, para que possamos produzir comida saudável, vida e cultura no campo. Nós não esperamos um Lula “paz e amor”, mas sim um Lula comprometido com a luta social”, finalizou.

 

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*Editado por Maura Silva