Movimentos realizam Ato Político e Celebração Ecumênica em Memória ao Frei Henri

O ato integra as ações de acolhidas das cinzas do Frei no acampamento do MST que leva seu nome, em Curionópolis.

 

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Da Página do MST

“Eu sonho que quando eu morrer eu seja enterrado no meio deles, no meu acampamento, e que as crianças possa dizer: este é um túmulo daquele Frei Henri que lutava conosco pelo nosso direto à terra.” (Frei Henri)

No próximo sábado (14), movimentos populares realizam Ato Político e Celebração Ecumênica em Memória ao Frei Henri e em defesa da democracia e pela liberdade do Lula, no estado do Pará. 

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O ato integra as ações de acolhidas das cinzas do Frei no acampamento do MST que leva seu nome, em Curionópolis. Além disso haverá o lançamento da pedra fundamental da Casa da Memória,  que conterá a história do Frei e da luta e a resistência do próprio acampamento e dos camponeses nessa região, e do seu livro “Apaixonado por justiça”. 

Outras atividades também estão previstas na programação que inicia nesta quinta-feira (12), organizada pela Comissão Pastoral da Terra, Província Dominicana Frei Bartolomeu de las Casas, Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil, Subseção de Xinguara, Paróquia São José Carpinteiro & Centro Acadêmico Frei Henri/UNIFESSPA. Este será um momento que reunirá as forças populares que também lembrará a luta do Frei em um Ato 

Quem foi Frei Henri*

Frei Henri des Rosiers, querido amigo do povo Sem Terra, conhecido na sua luta contra o trabalho escravo e a favor dos trabalhadores rurais no Pará e Tocantins, faleceu no dia 26 de novembro de 2017 em Paris. Sua partida deixou o povo Sem Terra tristes e saudosos, mas, sempre uma memória de luta e resistência para seguir em frente. 

Nascido em 1930 em uma família aristocrática, Henri se formou em advocacia e, provocado pelas situações de desigualdade e injustiça, se tornou frade dominicano. Em 1968, se alinhou com a revolução dos estudantes, em Paris, na qualidade de capelão do centro Saint Yves, o único centro dos estudantes que não fechou e nem condenou os anseios que buscavam. Em 1970, foi viver e conviver na condição de padre-operário exercendo funções de operário, motorista e zelador. Depois aceitou o desafio de morar no Brasil, provocado pela morte de Frei Tito (1974), exilado na França.

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Chegou ao Brasil no final de 1978 e o campo de atuação que logo lhe abriu foi o trabalho desenvolvido pela CPT junto aos posseiros e pequenos agricultores na defesa de seus direitos à terra. Em 1991, após o assassinato do presidente do Sindicato de Rio Maria, Expedito Ribeiro da Silva, foi para Rio Maria, no sul do Pará, onde os conflitos pela terra e a violência contra os trabalhadores alcançavam dimensões assustadoras. E naquela região, entre Conceição do Araguaia, Rio Maria e Xinguara, exerceu sua ação até quando, com a saúde fragilizada, em 2013, voltou para a França. Henri foi responsável pela condenação de diversos fazendeiros mandantes de assassinatos de lideranças sindicais na região.

Um homem do povo 

Em 2016, antes de falecer, Frei Henri Burin des Roziers soube dos ataques ao acampamento Frei Henri, localizado na fazenda Fazendinha, em Curionópolis, no Pará, e o mesmo resolveu manifestar seu apoio, enviando uma carta ao MST e assim afirmando sua solidariedade, força e resistência a todos aqueles que lutam pela Reforma Agrária no Brasil. 

Leia abaixo texto na íntegra: 

Paris, 08 de maio de 2016

Meus companheiros e amigos,

Estou sendo informado pelo pessoal da CPT de todos os acontecimentos preocupantes que têm atingido o acampamento de vocês, que, aliás, para minha honra, leva meu nome, e me sinto muito orgulhoso disso.

Quero dizer, com muita força, que estou totalmente solidário a vocês. Se tivesse a possibilidade, fretaria um avião para chegar logo no meio dos meus queridos acampados, e enfrentar esses fazendeiros/grileiros. Infelizmente estou doente, deitado, sem poder me levantar. Estou bem consciente da dificuldade de vocês, do perigo desses fazendeiros e da trincheira que eles construíram.

Mas sei também do acompanhamento que tem sido feito pelos advogados da CPT e do MST, muito competentes.

Pelas informações que tenho, eu sei que o direito, a lei, está do lado de vocês. A terra onde vocês estão é pública, da União, e por isso, tem que ser destinada de preferência para reforma agrária. Mas tem muita sujeira da parte dos fazendeiros para falsificar algumas coisas e facilitar a grilagem.

Tendo visitado o acampamento várias vezes antes de deixar o Brasil, eu estou certo da determinação e da coragem de vocês para segurar esta terra, que Deus lhes confiou para sustentar suas famílias e todos os meninos que estão aí. Terra que vale ouro, por causa da Vale que está pertinho, e dos fazendeiros que querem fazer lucro em cima dela.

Estou nesse momento me lembrando com muita emoção dos rostos de vocês, que encontrei quando estive aí. Fiquem firmes, unidos, confiantes, determinados, e não deixem esses fazendeiros se apropriarem da terra de vocês.

Viva o acampamento Frei Henri!
Juntos, todos, vamos vencer!
O acampamento tem que ficar de pé!

*Informações da CPT