“O nosso clamor contra o genocídio dos nossos povos”

Manifestam os indígenas no documento final do Acampamento Terra Livre 2018, que aconteceu de 19 a 23 de abril em Brasília

 

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Acampamento Terra Livre 2018. Foto: Leonardo Milano / MNI 

 

Por Webert da Cruz
Da Página do MST

Mato Grosso do Sul tem mais de 60 mil indígenas, divididos em 7 povos: Terena,  Guaranis, Kadiwéu, Guató, Kinikinawa, Nhandeva e  Ofayé.  Este último, já com uma população bem reduzida. São etnias diferentes, com tradições e culturas peculiares, mas com um mesmo vínculo de luta política junto a outras 305 no Brasil: disputa por terra e direitos.

“Os ofayés estão em extinção pela região de Três Lagoas, pelo enfrentamento a barragens que foram feitas na região, inundaram a terra deles e foram colocados na cidade, já não temos tantos registros”, conta Atiliana da Silva da nação Terena, também da direção nacional do MST. 

Atiliana conta que os Guarani e os Terenas possuem a maior população indígena no estado e ali, no Centro-Sul do Mato Grosso do Sul, esta os maiores conflitos pela retomada de território. Mortes, escancaradas violações de direitos humanos e invisibilidade caracterizam mais um exemplo das várias tensões parecidas enfrentadas por povos originários no Brasil contra invasão de suas terras por empreendimentos governamentais e privados.

“O nosso clamor contra o genocídio dos nossos povos” é o título do documento final do 15º Acampamento Terra Livre (ATL) 2018, que aconteceu de 19 a 23 de abril no Memorial dos Povos Indígenas em Brasília.  Os 3 mil representantes de mais de cem povos, das cinco regiões do Brasil, presentes no ATL demandam e demandaram o respeito aos seus direitos constitucionais, contra o desmonte das instituições e políticas públicas voltadas aos povos indígenas, o fim da criminalização de suas lideranças, a revogação urgente da Portaria 001/2017 – da Advocacia Geral da União (AGU), e a demarcação imediata de todas as terras indígenas, além de denunciarem a falência total da política indigenista e dos processos demarcatórios.

Distintas bancadas anti-indígenas, principalmente as do agronegócio, do fundamentalismo religioso e da mineração, entre outras, se movimentam em torno de dezenas de Projetos de Emenda Constitucional (PECs) como a PEC 215 e Projetos de Lei (PLs) para regredir ou suprimir os direitos indígenas assegurados pela Constituição Federal.  O objetivo é muito explícito de legalizar a invasão e usurpação dos territórios indígenas para fins de exploração ilegal dos bens naturais (solos, florestas, recursos hídricos, mineiros, biodiversidade) e a implantação de empreendimentos de infraestrutura (portos, hidrelétricas, estradas, linhas de transmissão) além da expansão das fronteiras agrícolas e da usurpação dos conhecimentos tradicionais.

Com o tema “Unificar as lutas em defesa do Brasil Indígena – Pela garantia dos direitos originários dos nossos povos”, a 15ª edição do ATL com certeza marcou a capital do Brasil em abril de 2018. Diversas marchas, atos, debates, vivências culturais, intervenções e pressões políticas por direitos atentaram que temos muito a aprender e respeitar os povos originários. 

Leia o documento final do ATL 2018 

*Editado por Iris Pacheco