Da terra onde só se via cana, hoje brotam alimentos agroecológicos
Por Coletivo de Comunicação MST/SP
Fotos: Filipe Peres
Cana, cana, cana, virada na terra roxa, pelas mãos pretas impregnadas de fuligem. Mãos acostumadas com o podão foram para a luta nas greves históricas de Guariba e de várias cidades da região de Ribeirão Preto (a 300 km da capital paulista). As terras pisadas por tantos trabalhadores boias-frias, migrantes, têm como marca principal o monocultivo para produção de commodities e agrocombustíveis. A cidade que ostenta o título de capital nacional do agronegócio passou a conhecer uma outra realidade com a chegada do MST, em 2003, na ocupação da Fazenda da Barra, hoje Assentamento Mário Lago, referência de produção agroflorestal e de proteção das águas do Aquífero Guarani, que tem na região, uma grande área de recarga natural.
Neste assentamento, existem várias formas de cooperação e uma delas é a Comuna da Terra, uma cooperativa orgânica e agroflorestal que reúne 80 famílias de assentados e assentadas. A Comuna desenvolve um processo de gestão participativa; formação, através de oficinas e cursos; implantação e manejo de agroflorestas nos lotes e nas áreas de reserva legal; e estruturação de um sistema de comercialização que compreende feiras em vários pontos da cidade e entrega semanal de cestas agroflorestais para consumidores comprometidos com o projeto político e ambiental do assentamento.
Há pelo menos dez anos, os assentados e assentadas da Comuna se cooperam na produção e comercialização da diversa produção que sai dos canteiros das hortas agroflorestais. E ao longo de sua trajetória foram buscando apoio de parceiros e financiamentos, o que possibilitou a construção de um barracão para beneficiamento, viveiro de mudas, aquisição de caminhão refrigerado, barracas de feira, escritório para administração, entre outros.
No assentamento os lotes são pequenos – apenas 1,5 hectare por família – mas o conhecimento em Sistemas Agroflorestais Agroecológicos (SAFA&”39;s) proporcionou às famílias uma nova forma de se relacionar com os bens naturais, especialmente a água, pois através do manejo sustentável é possível produzir em um solo de floresta, com muita matéria orgânica e uma grande economia de água.
“Quem planta agrofloresta está, na realidade, plantando água e colhendo alimentos sadios que só a floresta pode dar. E, além disso, nos orgulhamos de ter o reconhecimento da nossa cooperativa como certificada em produção orgânica”, destaca Lucinei Ferreira, presidente da Comuna da Terra.
A comercialização é feita através de muito compromisso entre produtores e consumidores, principalmente aqueles que participam das cestas agroflorestais, que periodicamente realizam visitas nos lotes familiares participando ativamente do processo produtivo.
“Através das visitas de lotes, os consumidores das cestas passam a entender quem somos nós e o que são nossos produtos. Nós e nossas roças diversas somos resultados de uma luta social que nunca acaba. Que começou com uma cerca de latifúndio tombada e que hoje ajuda a preservar um dos maiores reservatórios de água subterrânea do mundo que é o Aquífero Guarani. Isso é Reforma Agrária Popular”, afirma Vandeí Junqueira, um dos fundadores da cooperativa.
A Cooperativa Comuna da Terra estará presente na 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária que será realizada no Parque da Água Branca em São Paulo entre os dias 3 e 6 de maio. Confira a maravilha de um alimento que antes de chegar até você, ajudou a alimentar o solo e o ciclo da vida de uma floresta pulsante e cheia de gente.
Conheça mais da produção em São Paulo através do Sistema Agroflorestal:
*Editado por Gustavo Marinho