Bel Coelho: “Agricultura familiar, agroflorestal e orgânica é o futuro”
Por Leonardo Fernandes
Do Brasil de Fato
Fotos: Rafael Stedile
Na manhã desta sexta-feira (4) começaram a ser realizados os seminários da 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária, que acontece até o próximo domingo (6), no Parque da Água Branca em São Paulo.
Um deles teve como tema as ‘experiências de promoção da agrobiodiversidade’, ou seja, da agricultura que respeita os aspectos ambientais e sociais de cada região.
O espaço contou com a presença da chef de cozinha Bel Coelho, que destacou a importância do debate para o seu trabalho. “Eu passei a pesquisar produtos nativos brasileiros e pude visitar o Brasil inteiro, os produtores rurais… Então comecei a me atentar muito a essa questão, a essa agricultura. E do ponto de vista gastronômico isso é muito interessante. Eu tenho um menu dedicado aos biomas brasileiros em que cada prato é dedicado a um bioma. Quando eu servi esse menu pela primeira vez, acho que 90% das pessoas que comeram não conheciam os ingredientes que estavam ali”, conta.
Segundo ela, o manejo consciente da produção de alimentos é fundamental na garantia de um futuro sustentável para o Brasil e o mundo. “Eu acho que a agricultura familiar, agroflorestal e orgânica, ou seja, o manejo orgânico consciente, é o futuro pra gente conseguir manter as florestas em pé, pra gente conseguir alimentar o Brasil inteiro”, defende.
Mariele Oliveira veio da Bahia, onde trabalha na Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto, localizada no Extremo Sul do estado. Ela destacou a experiência dos chamados ‘quintais produtivos agroecológicos’, desenvolvidos desde 2013. Atualmente, já são mais de 500 quintais que obedecem os princípios da agroecologia e da produção sustentável de alimentos.
Ela conta que “usa esses quintais produtivos agroecológicos com culturas anuais, culturas perenes, que garantem a alimentação das famílias, gera renda e recupera o solo. Os quintais produtivos são uma forma prática de massificar a agroecologia e também garantir a agrobiodiversidade”.
Agroflorestas
Outras experiências de sucesso são as agroflorestas desenvolvidas nos assentamentos do MST pelo país. Rafael Santos, militante do setor de produção do movimento e morador do assentamento Luiz Beltrame de Castro, em São Paulo, se tornou um especialista do movimento no tema. “Quando a gente fala de agroflorestas, é o resgate de culturas que a agricultura capitalista foi exaurindo e que, como proposta do MST, temos trabalhado para fazer um resgate desses cultivos tradicionais adaptados ao solo, adaptados à realidade de cada agricultor em relação à mão de obra, aspectos econômicos, aspectos ambientais”, explica.
Rafael rebate ainda o argumento, muitas vezes utilizado pelo agronegócio, de que a produção agrobiodiversa seria inviável do ponto de vista econômico para o produtor: “os sistemas agroflorestais que o MST tem desenvolvido aqui em São Paulo, em alguns lugares, tem apresentado uma economia de água de até 75% e até 90% na redução de insumos. Praticamente tudo o que se devolve para o solo é produto da poda de árvores e espécies que a gente coloca, e que chamamos de adubadeiras”.
Também participou do seminário o representante da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, Guaraci Belo de Oliveira, que defendeu que “o papel do estado é justamente esse: desenvolver políticas que ampliem o tema da agrobiodiversidade, que é muito importante para a preservação. Mas a gente não pode esquecer onde é produzido o nosso alimento. As políticas públicas tem que convergir nos possíveis usos das propriedades para a produção de alimentos com a conservação. Então esse é um tema muito importante para nós”.
Uma programação ampla de seminários e conferências ainda vai ser realizada até o sábado (5), penúltimo dia da feira. A programação completa está disponível no nosso especial da 3ª Feira Nacional da Reforma Agrária.