Leonardo Boff: “A coisa mais importante que Lula conseguiu foi devolver a dignidade aos pobres”

O teólogo falou sobre o ex-presidente em aula pública na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul
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Foto: Guilherme Santos/Sul21

 

Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, foi placo na noite desta segunda-feira (14) da aula pública “Em defesa da Democracia, da Soberania e dos Direitos do Povo Brasileiro”. O evento, promovido pela Frente Brasil Popular e a Frente Povo Sem Medo, teve como convidado especial o teólogo e amigo de Lula Leonardo Boff.

A iniciativa lotou o Teatro Dante Barone, que recebeu entre os participantes deputados federais e estaduais do campo da esquerda, representantes de partidos políticos, de centrais sindicais e de movimentos populares. Antes de Boff iniciar a sua aula, foram ouvidas diversas saudações e manifestações sobre a atual situação do país.

Em nome da Via Campesina, a jovem Danieli Cazarotto reconheceu a importância da Teologia da Libertação no processo de formação da base Sem Terra, dos ensinamentos de Boff, ao qual se referiu como “irmão, camarada e companheiro”, e daqueles que sempre estiveram ao lado do MST na luta pela terra e por uma vida digna à classe trabalhadora. “A Teologia da Libertação está presente na nossa organização, nas nossas simbologias, nas nossas relações humanas”, declarou.

Danieli também disse que os camponeses e as camponesas estão acompanhando os desfechos da conjuntura nacional e internacional, sem sair das ruas, organizando lutas e resistindo ao golpe em curso no país. Ela ainda reafirmou o compromisso das organizações do campo na construção de um projeto popular brasileiro e em defesa de Lula. “Continuaremos acampados e em vigília em Curitiba até que o presidente Lula esteja livre e possa concorrer à presidência da República. Continuaremos fazendo a batalha das ideias e denunciando o fascismo. Seguiremos firmes na construção de uma nova sociedade”, concluiu.

Leonardo Boff compartilhou com os participantes da aula pública parte do diálogo que teve com Lula ao visitá-lo recentemente na Polícia Federal em Curitiba, no estado do Paraná. “Nos abraçamos e choramos, porque Lula tem saudade de gente, ele era uma pessoa que sempre estava ao meio do povo. Ele está muito bem, com a mesma cara e com o mesmo humor que nós sempre o conhecemos, mas está profundamente indignado pelas muitas mentiras e distorções que estão dizendo contra ele, especialmente o juiz Sérgio Moro”, contou.

Ele destacou que Lula tem muita esperança e que pediu para Boff dizer aos jornalistas que o ex-presidente está “candidatíssimo”, em referência à disputa pela presidência do país na eleição deste ano. “Ele diz que quer ficar na presidência para radicalizar as políticas sociais e para fazer muito mais do que já fez”, alegou Boff.

O teólogo complementou que o caso Lula é “a rejeição da elite do atraso que está montada no Estado e no governo há 500 anos”. “É negar um projeto que beneficia o andar de baixo. Eles nunca aceitaram que o Lula, um operário nordestino, fosse presidente. A coisa mais importante que Lula conseguiu foi devolver a dignidade aos pobres. Isso é algo espiritual, profundamente humano, um coração que palpita junto ao povo”, completou.

Boff acrescentou ainda que o Brasil está na mira das grandes corporações, “especialmente do império norte-americano”, e que o pacto social materializado a partir da Constituição de 1988 foi rompido com o golpe de 2016. “Todo mundo estava disposto a criar um novo Brasil, mas esse pacto foi rompido com o golpe contra a Dilma. Não existe mais constituição, não existe mais lei”, lamentou. Boff alertou ainda para a estratégia da direita de desestabilizar os governos progressistas que não aceitam essa lógica imperial. “É por isso que deram golpes parlamentares, comprando deputados e senadores. Trata-se de enfraquecer o Estado e de dar espaço ao mercado. Trata-se também de desnacionalizar os bens nacionais, entregando às corporações parte do Pré-sal e a Amazônia”, emendou.

Confira a íntegra da aula pública, aqui