Dilma visita ENFF e ressalta o papel dos movimentos populares para 2018

Na Escola do MST, Dilma Rousseff conversou com jornalistas e afirmou as bases de um programa de radicalização democrática para a próxima etapa do Brasil.

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Por Rafael Soriano
Da Página do MST
Fotos: Leonardo Fernandes/Brasil de Fato

 

A presidenta legítima do Brasil, eleita em 2014 com mais de 54 milhões de votos, Dilma Rousseff, esteve nesta segunda-feira (11) presente pela primeira vez na Escola Nacional Florestan Fernandes (Enff), em Guararema. Na visita, Dilma conversou com as mulheres Sem Terra, visitou as instalações da escola e deixou uma mensagem para o conjunto das turmas que estão hoje na Enff.

Entre uma agenda e outra, Dilma falou com a Página do MST sobre o atual cenário político e um programa que alavanque o que ela chamou de “radicalização democrática” no Brasil no próximo período.
 

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“Uma das questões essenciais que os movimentos populares têm que levantar a bandeira é rediscutir o papel na reconstrução da democracia do Brasil do que significa a mídia: uma mídia que tenha opiniões diversas, divergentes e que possa romper com este verdadeiro monolito do pensamento (que é liberal, pró-mercado, mas também que defende o escola sem partido, que criminaliza a questão de gênero e as lutas populares)”, avalia.

Ela indica que é necessária uma regulação do setor, até por se tratar de um atividade econômica como outras, lembrando que os Marinho figuram entre os mais ricos do país. “Sem isso, os órgãos de imprensa mais fracos são obrigados a fechar, como já aconteceu com vários bons jornais e boas revistas. Porque a estrutura oligopolizada, ela sufoca, como em qualquer outra atividade econômica”, pontua a economista.

Para a militante do PT, os movimentos populares assim como na eleição passada, quando tiveram atuação decisiva na vitória do segundo turno, devem ser centrais para a resolução desta eleição. “As pessoas perderam a esperança um pouco. Nós somos aqueles que temos que dizer ‘Não! A esperança existe’. E a esperança significa apostar no Brasil, numa radicalização democrática”, explica.

Além da restruturação do sistema de comunicação pensando na democracia brasileira, Dilma amplia a visão de distribuição de renda inaugurada pelo PT e indica que o partido traz em seu programa para 2018 uma visão de redistribuição das riquezas, do estoque de riquezas. Entre as riquezas a serem democratizadas está num primeiro plano a terra, mas também casa/moradia e outros dois tipos de riqueza a ser socializadas.

“Aquele patrimônio que você incorpora à pessoa: educação de qualidade. Não aceitamos a história de que se pode fazer educação no ‘mais por menos’. Para se ter educação de qualidade tem que ter dinheiro. A terceira coisa que é fundamental é Previdência. Tem que haver um sistema que dê vida digna para as pessoas que trabalharam duramente toda vida e chegaram a uma idade que não podem mais trabalhar”, afirma.

Você também pode conferir a integra da conversa:

Pensando nas últimas eleições, em cuja reta final foi decisiva a atuação dos movimentos populares pra garantir um resultado vitorioso porém apertado, qual deve ser o papel das organizações populares neste ano eleitoral?

Eu acredito que os movimentos populares nesta eleição são ainda mais importantes. Mesmo considerando que na última eleição vocês já tiveram uma importância decisiva e estratégica porque nos ajudaram a decidir a eleição. Agora, nós temos uma ameaça aberta à democracia e um conflito mais acirrado. Quando se tem um conflito acirrado e não queremos que isso se transforme num alimento da direita e do fascismo, temos que alimentar a esperança.

Porque as pessoas perderam a esperança um pouco. Nós somos aqueles que temos que dizer: &”39;Não! A esperança existe&”39;. E a esperança significa apostar no Brasil, numa radicalização democrática.

O que será a base de um novo programa para o Brasil?

Desta vez a radicalização democrática passa mais ainda pela questão da democratização da mídia, que não é simplesmente o acesso a meios diversos e plurais. É também combater a oligopolização, o cartel de mídias que existe no Brasil. Quando em 2014 eles queriam que a gente negasse este debate, eles classificavam nossas propostas como censura. O que eles queriam tirar o foco é o fato que a mídia é um setor econômico como outros. Entre os mais ricos do Brasil estão quem? A Família Marinho.
 

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Fazer um combate cerrado ao papel da mídia como sendo pensamento único passa necessariamente por quebrar o monopólio e a estrutura oligopólica da mídia. Porque senão os órgãos de imprensa mais fracos serão obrigados a fechar, como já aconteceu com vários bons jornais e boas revistas. Porque a estrutura oligopolizada, ela sufoca, como em qualquer outra atividade econômica.

Uma das questões essenciais que os movimentos populares têm que levantar a bandeira, levando em conta o aumento dos índices de desconfiança da população nessa mídia oligopolizada já comprovados em pesquisas, é rediscutir o papel na reconstrução da democracia do Brasil do que significa a mídia: uma mídia que tenha opiniões diversas, divergentes e que possa romper com este verdadeiro monolito do pensamento (que é liberal, pró-mercado, mas também que defende o escola sem partido, que criminaliza a questão de gênero e as lutas populares).

Isso certamente poderá levar a outros patamares de formação da consciência da população. Mas, numa visão objetiva, material, há ainda uma enorme dívida histórica na divisão de riquezas.

Acredito que no Brasil é muito importante nós darmos vários passos no acesso a renda e na melhoria da renda. Eu acho que a desigualdade no Brasil não pode ser vista só a partir de uma distribuição de renda, que continuará fundamental, é o aqui e agora, o acesso à melhoria de renda pelas famílias brasileiras. Mas você precisa também dar conta da distribuição de riqueza. Na próxima etapa do Brasil nós vamos ter que falar de distribuição de riqueza, e isso é agora, nesta eleição.

O que é distribuição de riqueza para você?

É distribuição do estoque de riqueza, patrimônio: terra e casa/moradia. Segunda coisa, aquele patrimônio que você incorpora à pessoa: educação de qualidade. E não aceitamos aquela história de que se pode fazer educação no “mais por menos”. Para se ter educação de qualidade tem que se ter dinheiro. A terceira coisa que eu acho fundamental é Previdência. Tem que haver um sistema que dê vida digna para as pessoas que trabalharam duramente em toda vida e chegaram a uma idade que não pode mais trabalhar. É necessário que haja um sistema previdenciário que garanta isso.
 

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O debate da carga tributaria, dos impostos no Brasil está se apontando como foco das discussões eleitorais. Como isso afeta o programa de Lula para 2018?

Pra tudo isso, sem reforma tributária não vai. É necessário uma reforma tributária no país. Não entramos naquela conversa de neoliberal de que o Brasil paga muito imposto. O Brasil não, o trabalhador e as classes médias e assalariadas pagam muito imposto. O que que há no Brasil? Há uma estrutura tributária altamente regressiva, que penaliza os que trabalham e aliviam o capital. Nós temos que passar para a tributação do capital.

Não é possível que dividendos no Brasil não sejam tributados, não é possível que juros sobre capital próprio exista. Uma jabuticaba brasileira! A mesma coisa acontece com tributação sobre herança e riqueza. Você não pode no Brasil falar em meritocracia, quando existe tamanha concentração de riqueza, quando tem pessoas que sem trabalhar, sem nada herdam uma quantidade de riqueza que não foi devido ao seu trabalho, não tem mérito nenhum. E o engraçado que os mais milionários é que falam em meritocracia.

Então uma reforma tributária tem que ser abertamente debatida no Brasil. Os bancos não pagam imposto, os grandes conglomerados financeiros e agrícolas não pagam. Esta questão tributária é a condição de todas as outras.

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Confira o vídeo da visita: 

 

*Editado por Maura Silva