Feira reafirma a luta antirracista como central na defesa da alimentação saudável
Da Página do MST
Com mística e luta, a mesa teve início com a participação de Ebomi Nice, do Terreiro da Casa Branca, onde abriu os trabalhos e pediu a benção e proteção dos orixás. Além disso, enfatizou que “mulher é vida” e o “alimento é a mãe da natureza”, fazendo alusão a 4º edição da feira do MST no estado.
A mesa, além de debater as questões relacionadas a luta pela terra e a questão racial, trouxe o sentimento indignação e repudiou ao assassinato de Marielle Franco, que completou três meses nesta última quinta-feira (14).
Luta e direito
Na perspectiva de pensar a dimensão do direito e da luta popular, Marcos Rezende abordou elementos da religião de matriz africana para destacar o processo histórico de resistência, que é ancestral e repleto de tradições. Falou também sobre a garantia de direitos à população negra.
Para ele um elemento que precisa ser base das reflexões desse tema é que a “questão racial nos uni”. “A abolição não nos garantiu nada e desde então, a população negra luta por direitos e isso é o que o MST faz”, explicou.
Nesse sentido, afirmou que a história de luta do MST na Bahia se constrói com o protagonismo da população negra na luta direta contra o coronelismo e, paralelo a isso, as estruturas que segregam e marginalizam os sujeitos.
Marielle Vive!
Essas questões antecederam a fala de Marinete da Silva, que emocionada, após homenagens e gritos de justiça pelo assassinato de sua filha, Marielle Franco, questionou: “que democracia a gente vive?”.
Ela disse que Marielle foi morta porque defendia os direitos da classe trabalhadora. “Não podemos continuar vivendo em um país sexista e continuar em silêncio”. “Todas nós conhecemos um pouco da história de minha filha. E sabemos que ela, enquanto mulher negra, chegou ali [na Câmara de Vereadores do RJ] com legitimidade e enfrentou um parlamento branco e misógino”.
Ao finalizar sua fala, Marinete afirmou que foi com honra e dor estar na 4º Feira Estadual da Reforma Agrária, participando de uma mesa sobre questão racial. “É uma honra porque estou muito feliz com o convite e uma dor em ter que relembrar a história de minha filha. Foi uma perda muito grande, que só quem é mãe consegue entender”, lamentou.
Na Bahia e a nível nacional, o tema da questão racial e suas dimensões, como o genocídio da população negra, a luta por direitos e o feminismo, por exemplo, são temas incorporados nos espaços de estudo e debate do movimento ainda de maneira tímida, mas direcionando o processo da luta política.
Nesta edição da Feira Estadual, a coordenação do MST, reafirma a necessidade de construir linhas políticas de ação no enfrentamento ao racismo a partir da luta direta contra o agronegócio e, paralelo a isso, destacar que a alimentação saudável é uma bandeira que precisa ser defendida pela classe trabalhadora que vive no campo e na cidade. Diante disso, a luta contra a violência é central.
Para Lucineia Durães, da direção nacional do MST, “não podemos tratar o assassinato de Marielle Franco apenas enquanto tema de debate, mas sim, como um motivo a mais para construir lutas e realizar transformações profundas na sociedade”.
“Esse debate não se encerra aqui, pelo contrário, ele é e sempre será a expressão de nossa força de vontade para construir dias melhores”, concluiu Durães.