Feira reafirma a luta antirracista como central na defesa da alimentação saudável

Mesa discutiu questão racial, alimentação saudável e denúncia o assassinato de Marielle Franco
 
 
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Fotos: Jonas Santos
 
 
Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Da Página do MST

 

Resistência, feminismo, luta social, questão racial, território e direito. Esses foram alguns dos temas debatidos na mesa “Questão Racial e Alimentação Saudável”, na tarde desta última sexta-feira (15), na Praça da Piedade, no Centro de Salvador, durante a 4º Feira Estadual da Reforma Agrária.

Com mística e luta, a mesa teve início com a participação de Ebomi Nice, do Terreiro da Casa Branca, onde abriu os trabalhos e pediu a benção e proteção dos orixás. Além disso, enfatizou que “mulher é vida” e o “alimento é a mãe da natureza”, fazendo alusão a 4º edição da feira do MST no estado.

A mesa, além de debater as questões relacionadas a luta pela terra e a questão racial, trouxe o sentimento indignação e repudiou ao assassinato de Marielle Franco, que completou três meses nesta última quinta-feira (14).

 
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Intervenção em homenagem a Marielle Franco 
 
 
Para rememorar esse momento de luto, mas também de luta, a advogada e mãe da Marielle, Marinete da Silva (66), participou deste espaço, junto com a secretária de promoção da Igualdade Racial, Fabya Reis, a secretária de políticas para mulheres, Julieta Palmeira, o coordenador do Coletivo de Entidades Negras (CEN), Marcos Rezende, e da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), o professor Marcelo Pinto.

Luta e direito

Na perspectiva de pensar a dimensão do direito e da luta popular, Marcos Rezende abordou elementos da religião de matriz africana para destacar o processo histórico de resistência, que é ancestral e repleto de tradições. Falou também sobre a garantia de direitos à população negra.

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Fabya Reis, secretária da Sepromi

Para ele um elemento que precisa ser base das reflexões desse tema é que a “questão racial nos uni”. “A abolição não nos garantiu nada e desde então, a população negra luta por direitos e isso é o que o MST faz”, explicou.

Nesse sentido, afirmou que a história de luta do MST na Bahia se constrói com o protagonismo da população negra na luta direta contra o coronelismo e, paralelo a isso, as estruturas que segregam e marginalizam os sujeitos.

 

Compreendendo essas questões e ampliando o debate, Fabya Reis, enfatiza que a luta de classe tem rosto, e a mesma, é reflexo das massas em movimento, que em sua maioria é negra e de luta. Ela destaca que é preciso interseccionar as lutas populares e que a classe trabalhadora precisa se reconhecer enquanto negra. “Nossas lutas nos aproximam […]. O direito que temos hoje é reflexo disso e uma de nossas tarefas é disputar conceitos”.

Marielle Vive!
 

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Marinete da Silva, mãe de Marielle Franco

Essas questões antecederam a fala de Marinete da Silva, que emocionada, após homenagens e gritos de justiça pelo assassinato de sua filha, Marielle Franco, questionou: “que democracia a gente vive?”.

Ela disse que Marielle foi morta porque defendia os direitos da classe trabalhadora. “Não podemos continuar vivendo em um país sexista e continuar em silêncio”. “Todas nós conhecemos um pouco da história de minha filha. E sabemos que ela, enquanto mulher negra, chegou ali [na Câmara de Vereadores do RJ] com legitimidade e enfrentou um parlamento branco e misógino”.

Ao finalizar sua fala, Marinete afirmou que foi com honra e dor estar na 4º Feira Estadual da Reforma Agrária, participando de uma mesa sobre questão racial. “É uma honra porque estou muito feliz com o convite e uma dor em ter que relembrar a história de minha filha. Foi uma perda muito grande, que só quem é mãe consegue entender”, lamentou.

 

Questão racial e o MST

Na Bahia e a nível nacional, o tema da questão racial e suas dimensões, como o genocídio da população negra, a luta por direitos e o feminismo, por exemplo, são temas incorporados nos espaços de estudo e debate do movimento ainda de maneira tímida, mas direcionando o processo da luta política.

Nesta edição da Feira Estadual, a coordenação do MST, reafirma a necessidade de construir linhas políticas de ação no enfrentamento ao racismo a partir da luta direta contra o agronegócio e, paralelo a isso, destacar que a alimentação saudável é uma bandeira que precisa ser defendida pela classe trabalhadora que vive no campo e na cidade. Diante disso, a luta contra a violência é central.

Para Lucineia Durães, da direção nacional do MST, “não podemos tratar o assassinato de Marielle Franco apenas enquanto tema de debate, mas sim, como um motivo a mais para construir lutas e realizar transformações profundas na sociedade”.

“Esse debate não se encerra aqui, pelo contrário, ele é e sempre será a expressão de nossa força de vontade para construir dias melhores”, concluiu Durães.