Com um governo à esquerda, México tem a chance de reverter índices de violência

Atualmente o país passa pelo momento mais violento de sua história, o número de mortes de 2017 superou o de 2011, ano em que a guerra contra os cartéis de drogas estava em pleno curso
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Divulgação MST 

 

Por Maura Silva
Da Página do MST

Na última semana, Andrés Manuel López Obrador, o AMLO, foi eleito presidente do México. Pela primeira vez na história do país um governo de esquerda comandará a segunda maior economia da América Latina.

Obrador, do Movimento de Regeneração Nacional (MORENA), foi eleito com ampla vantagem de votos, segundo apuração do Instituto Nacional Eleitoral do México, ele obteve entre 53% e 53,8% dos votos válidos, bem à frente de Ricardo Anaya do Partido de Ação Nacional (PAN) (22%-22,8%) e José Antonio Meade do Partido Revolucionário (PRI) (15,7%-16,3%). 

A vitória de Obrador é vista por toda América Latina como um sinal de novos tempos. Com um projeto de governo que tem como pilares principais o fim da corrupção e a diminuição da violência no país, o novo presidente ganhou as mentes e corações dos mais de 120 milhões de mexicanos que agora depositam em seu governo a esperança de um futuro melhor.

Combate à violência será um dos maiores desafios de Obrador

Atualmente o México passa pelo momento mais violento de sua história, o número de mortes de 2017 superou o de 2011, ano em que a guerra contra os cartéis de drogas estava em pleno curso no país. Segundo dados da Secretária do Governo, no último ano foram 25.339 homicídios dolosos, uma média de 70 por dia. 

 

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Exército nas ruas do México / Divulgação

A exemplo do que acontece hoje no Brasil, o México iniciou em dezembro de 2006 uma “Guerra às drogas”. Na época, o então presidente Felipe Calderón decidiu enviar 4.260 soldados, 1.054 fuzileiros navais, 1.420 policiais federais e 50 agentes do Ministério Público ao Estado de Michoacán, na costa do Pacífico. 10 depois, sabemos que essa operação marcou o início de uma estratégia central de seu governo de combate ao narcotráfico.

A guerra de Calderón como foi batizada a ofensiva militar, foi um verdadeiro fracasso, sua estratégia fez com que as taxas de violência aumentassem drasticamente no país. Duramente criticado em todo o mundo, Calderón terminou seu mandando acusado de usar o aparato militar do país para derramar o sangue dos mexicanos.   

Hoje o México vive as consequências de um plano falido, a corrupção e os altos índices de assassinatos assolam todo o país, esse é o cenário que espera Obrador.

Para Cássia Bechara do Coletivo de Relações Internacionais do MST, o novo presidente tem um longo desafio pela frente uma vez que não é fácil desmontar uma estrutura alimentada por décadas de governos à direita.

“Vai ser um grande desafio, assim como a corrupção, a segurança pública é um dos pontos nevrálgicos do México. Uma retroalimenta a outra. Para termos uma ideia, durante a campanha eleitoral que elegeu Obrador, 145 políticos foram assassinados em todo o país, isso sem contar os jornalistas e civis. Ainda assim, estamos confiantes com sua eleição, em seu discurso ele afirmou que, ‘mais do que o uso da força, seu governo atenderá às causas que originam a insegurança no país’. E nós sabemos que a desigualdade social e a pobreza são as principais razões para o esfacelamento da segurança de qualquer território”, afirma.

Ainda segundo Bechara, os índices de votação provam que a população mexicana está disposta a se abrir para um novo projeto de governo e de país.

“Foi uma grande vitória para o povo do México, mas também para todo o povo da América Latina e do mundo, quebrar décadas de governos conservadores com amplo apoio da população simboliza a consonância que um governo com tendências à esquerda pode ter com o povo”, finaliza.