“O rap é a voz de todo o povo oprimido”, diz MC Oráculo no Acampamento da Juventude

Vocalista do Áfrika Tática diz que jovens têm que se apropriar do “potencial revolucionário” da arte
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Banda Áfrika Tática se apresentou no primeiro dia do Acampamento Nacional da Juventude Sem Terra. Foto: Matheus Alves

 

Por Rute Pina
Especial para Página do MST

 

 

Entre as discussões sobre Reforma Agrária Popular e a preparação para a Marcha Nacional Lula Livre, os jovens que participam do Acampamento Nacional da Juventude Sem Terra, em Corumbá de Goiás (GO), expressaram sua voz e rebeldia através da música.

Uma das atrações musicais do acampamento, que se encerra nesta quinta-feira (9), foi a banda Áfrika Tática que animou os jovens no ritmo e nas rimas do rap. MC Oráculo, vocalista do grupo, acredita que esse é o potencial revolucionário da música.

“A gente está em um momento de tão profunda hipnose que a arte e a comunicação conseguem ser mais direta, entre almas. A música, dentre as artes, acho que é a mais sensível”, analisa.

O rapper diz que a indústria cultural aposta na música como um instrumento de alienação. Ele afirma, por exemplo, que o agronegócio conseguiu se apropriar de uma nova geração da música sertaneja para transmitir mensagens de estilo de vida. Mas que, nas “quebradas” das grandes cidades e nas zonas rurais de todo o país, a juventude também encontra na música sua forma de gritar.

“O rap não é só a voz do povo oprimido urbano, é a voz de todo o povo oprimido. Então, quanto mais o campo se apoderar do rap, mais vai ter uma comunicação entre a juventude, mais a juventude vai se escutar. E mais a juventude da cidade vai escutar o que o campo está querendo dizer”. 

MC Oráculo começou a escrever poesia e cantar em 2006, nas batalhas de rima no extremo oeste da cidade de São Paulo (SP). Há três anos, ele vive e milita na Favela Mestre Davas, no Distrito Federal. O objetivo da sua militância é “aquilombar as quebradas”.

“Lá era uma das quebradas mais violentas do Distrito Federal e, hoje em dia, tem cursinho popular, sarau mensal e um monte de atividade que está fazendo a molecada largar o corre e ir para a arte”, conta o rapper, orgulhoso.  

Junto com o grupo Áfrika Tática, ele já tocou para um público de 30 mil pessoas no Festival Favela Sound, em frente ao Congresso Nacional.

No percurso da sua trajetória artística, ele conheceu o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em 2008, quando visitou a Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP). 

Hoje, tocando para os jovens Sem Terra em Goiás, ele aponta a importância de se organizar a juventude.

“Dois jovens olhando no olho é muito importante. A juventude está gritando, querendo seu espaço. Toda vez que eu tenho contato com essa juventude, eu vejo que eles não aceitam mais essa roupa apertada que o sistema colocou na gente. Já não cabe mais neles”, finaliza o cantor.

 

*Editado por Wesley Lima