O que faríamos de nossas vidas se não fosse a luta por um mundo melhor?

Marchantes relatam porque seguir rumo à Brasília
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Coluna Ligas Camponesas da Marcha Lula Livre rumo à Brasília. Foto: Luíz Fernando 

Da Página do MST

Há momento na história em que os caminhos parecem intermináveis, e de fato são, se pensarmos que dias como estes jamais se apagarão com o tempo. 

O MST ao longo de sua trajetória já deu longos passos rumo à construção de uma nova sociedade, muitos passos, mais ainda serão dados, mas nenhum poderá ser sem o caminhar deste presente. Marchamos não por nós, mas por aquilo que o poeta já anunciava, marchamos pelos que virão!

O povo brasileiro foi duramente golpeado por uma elite que historicamente manteve seus privilégios, hoje, após termos a experiência de uma vida digna, talvez apenas menos desigual, nos vemos novamente obrigados a nos submeter aos interesses de pequenos grupos que vivem a custas do povo “deitados eternamente em berço esplendido”. A nós, povo brasileiro, não nos interessa a bonança de poucos, queremos alimentar milhões. 

Nos últimos dias vimos à força e a coragem da classe trabalhadora, que compreendendo o complexo jogo de interesses vigentes nesta conjuntura, se pôs em luta permanente contra a elite. A Caravana do Semiárido contra a Fome, o Dia do Basta (10) contra a retirada de direitos dos trabalhadores, o imenso amor ao povo demonstrado pelos companheiros e pelas companheiras que põem suas vidas em risco na Greve de Fome pelo restabelecimento da democracia expressa na liberdade do companheiro Lula, e a Marcha Nacional realizada pelo MST rumo a Brasília são sinais de que a população não aceita a agenda conservadora do golpe.

Lula Livre

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Foto: Felipe Peres

Apesar dos esforços da mídia golpista em desconstruir o legado econômico e social dos governos do ex-presidente Lula, as pesquisas de intenção de votos demonstram que a maioria do povo brasileiro prefere Lula presidente a qualquer outro nome. 

Por que isto acontece? O fato é que o povo brasileiro pôde pela primeira vez na história, ter cesso a direitos básicos para qualquer ser humano. A sociedade capitalista costuma despertar o interesse ao mesmo tempo em que nega o acesso. Aquilo que aqui para muitos oportunistas cheira a comunismo, no Brasil não passa de um pequeno avanço no sentido do próprio estabelecimento das relações capitalistas. 

Portanto não devemos ter ilusões, a prisão de Lula é política e isto se evidencia na falta de provas existentes no processo que o condenou. Lula está preso porque o povo o quer presidente, ao passo que a elite quer manter as políticas do governo sem povo, do golpista Temer.

O que pode ser isto se não a expressão mais evidente da luta de classes? Lula Livre é a bandeira de luta que nos mobiliza, pois, em uma nação democrática jamais devemos aceitar a prisão política de qualquer agente político ou cidadão. As lutas que explodem no Brasil, são a atestada prova de que já não há crença na institucionalidade corrompida. Um povo soberano e livre jamais opta pelo conflito que pode martiriza-lo, mas os inimigos do povo é que são os responsáveis pelo fim do pacto democrático de 1988, a nós resta-nos lutar e resistir, passo a passo com solidariedade e firmeza até a vitória.

Os marchantes

Três colunas de trabalhadores rurais Sem Terra rumam a Brasília: a Coluna Prestes com marchantes vindos dos estados do sudeste e do sul; Coluna Tereza de Benguela que reúne o povo do centro-oeste e da Amazônia e a Coluna Ligas Camponesas compostas pelos estados do nordeste.

Estas pessoas são trabalhadores rurais acampados e assentados da Reforma Agrária, que por uma causa maior deixaram suas casas, o seu trabalho, para lutar, não por interesses particulares, mas pelos direitos de todos os trabalhadores.

Sandra Maria é uma destas pessoas, em 2000 ela foi convidada a dar aula no ensino básico de um assentamento do MST em Serra Talhada no sertão de Pernambuco, desde então Sandra integrou-se ao movimento, hoje ela cursa Ciências Sociais da terra pelo PRONERA (Programa Nacional de Educação Na Reforma Agrária) na Universidade Federal do Rio Grande Norte, segundo Sandra: “A Marcha é um momento de diálogo com a sociedade e com a base do movimento. Isto nos fortalece e alimenta nossa certeza no que queremos.” 
Para ela a Marcha não acaba quando chega a Brasília, na verdade ela é um processo que começa muito antes da marcha sair, quem vem para a marcha participa de uma grande experiência de coletividade, onde podemos vivenciar todos os princípios do MST na prática.

Adailton Cardoso é outro marchante que em 1995 participou junto com mais 2.204 famílias da ocupação do acampamento Safra, em Santa Maria da boa Vista no Pernambuco, desde então, Adailton formou-se pedagogo, contribuiu durante cinco anos no setor de educação do MST e hoje é liderança em seu assentamento. 
Para Adailton: “Hoje entre os seguimentos da sociedade brasileira, são os movimentos sociais que tem capacidade de mobilizar e se indignar com qualquer injustiça, marchamos porque não concordamos com a injustiça cometida contra o ex-presidente Lula, o companheiro Lula transformou a vida de muitas pessoas, estas pessoas (os marchantes) estão aqui para defender os direitos dos trabalhadores.”

Muitos são os estados, os municípios, os sotaques e a cultura dos marchantes. São, todos e todas ao mesmo tempo, trabalhadores e trabalhadoras que na mais forte demonstração de solidariedade, seguem firmes na luta por uma vida mais justa, mais bonita de ser vivida, mais livre e humana.

É um momento em que história nos coloca a prova e nos pergunta: de que lado estais? O que teríamos feito de nossas vidas se não tivéssemos marchado e lutado por um mundo melhor para todos? 

*Editado por Reynaldo Costa