Greve de fome: Ação direta, emoção e acolhimento

Rotina da greve foi marcada por diversos encontros, entre eles, a visita do cantor Chico César, que se apresentaria em um festival na cidade

 

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Por Marcos Corbari e Adilvane Spezia (MPA-Rede Soberania)
Da Página do MST 

Os sete grevistas de fome que chegam ao 13o dia sem receber nenum tipo de alimento tiveram um domingo repleto de atividades e foram submetidos à fortes emoções. A data, 12/08, em que se comemora o Dia dos Pais teve direito até a surpresa para Jaime Amorin, que recebeu a visita da esposa e filhos, que vieram de Pernambuco junto com o grupo que participa da Marcha Nacional Lula Livre. Zonália Santos também teve uma visita especial, o filho Fagner, de 20 anos, que veio de Rondônia e passou algumas horas ao lado da mãe dividindo o espaço de repouso.

Gegê Gonzaga recebeu a visita do irmão, o cantor Chico César, que se apresentaria em um festival na cidade, à noite. Além de prestar solidariedade, Chico cantou algumas canções para os grevistas e equipe de apoio e recebeu em contrapartida poemas e canções da Caravana Nacional de luta Camponesa Clodomir de Moraes e da grevista Rafaela Alves. O grupo, que tem ainda a presença de Vilmar Pacífico e Frei Sergio Görgen recebeu dezenas de visitantes, vindos dos quatro cantos do Brasil, através dos grupos que estão se agregando às caravanas.

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O dia começou mais cedo que de costume, com uma ação direta de finalidade simbólica que foi executada em frente ao bloco habitacional onde reside o ministro Edson Fachin, do STF. O acesso ao imóvel, na Asa Sul de Brasília, foi ocupado por cerca de uma hora, onde os grevistas e outros ativistas envolvidos com a marcha e com as demais programações do período participaram de uma celebração ecumênica presidida pelo frei capuchinho Wilson Zanatta, vindo do Rio Grande do Sul, tendo ainda a participação da pastora Maria Aparecida Rodrigues Barbosa, da igreja evangélica Deus é Amor no sul da Bahia, e do reverendo presbiteriano Luis Sabanay. Embora os zeladores do prédio tenham acionado um grupo de segurança privada, a Polícia Militar e a Polícia Federal, não houve incidentes e o ato – pacífico – se realizou com tranquilidade.

A grevista Rafaela Alves explicou que a escolha pela celebração em frente a residência do ministro Fachin se deu pela compreensão que ele e seus colegas tem o poder de decidir colocar ou não a  justiça a serviço “dos mais pobres, dos humilhados, dos sem pão, dos que estão num mundo de abismo por falta de democracia, por falta de justiça”. O pronunciamento foi forte, inclusive sugerindo ao ministro – reconhecido publicamente como católico praticante – que releia os evangelhos e e interprete adequadamente, para perceber que os rumos políticos que tem se dado à justiça brasileira estão conduzindo a uma situação grave, onde homens, mulheres e crianças estão tendo seu futuro cerceado e até mesmo chegando a morrer por falta de alimento.

O dirigente do MST e Via Campesina, João Pedro Stédile, mais uma vez acompanhou a rotina da greve, conduzindo os grupos de caravanistas no encontro com os grevistas. Para ele, o envolvimento crescente do povo trabalhador com as atividades que culminam com o registro da candidatura de Lula como candidato à Presidência da República no dia 15. “Somente o povo nas ruas tem força para fazer valer a sua opção, se o povo não se manifestar esses que estão aí, ocupando os postos de autoridade, vão continuar conduzindo o país conforme a sua vontade”, afirmou. Stédile – embora preocupado com o estado de saúde dos grevistas – enaltece o espírito de sacrifício dos sete que colocaram a própria vida como instrumento de luta, oferecendo seu exemplo como fator de mobilização popular e pressão frente aos desmandos daqueles que estão nas posições de poder.

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A vice-presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Jessy Daiane, também esteve em visita de solidariedade aos grevistas e reforçou o pedido pelo envolvimento popular, com mobilização e presença nas ruas. “Viemos aqui trazer uma mensagem de solidariedade e força, mas também garantir aos nossos grevistas que do lado de fora estamos fazendo a nossa parte, nas ruas, na luta pela justiça, na luta contra a fome, na luta para devolver ao povo brasileiro um país que foi usurpado pelos golpistas”. A dirigente destacou como exemplo de resposta que o povo já está dando aos poderes constituídos as colunas que se deslocam em marcha até Brasília e a expectativa de uma grande manifestação popular no dia 15, quando será registrada a candidatura de Lula.

No final do dia a equipe de saúde – que reúne médicos populares e psicólogos voluntários – reuniu-se e sugeriu a diminuição do ritmo de atividades aos grevistas, propôs redobrar os esforços de acompanhamento e também intensificar os cuidados quanto aos visitantes que tem acesso aos sete, sempre tendo em vista a preservação de sua saúde física e emocional. A greve de fome entra agora em dias que podem ser decisivos para evitar que o ato se prolongue e coloque em risco a vida do ativistas. Espera-se que nos próximos dias a ministra-presidenta do STF, Carmen Lúcia, receba representantes dos grevistas e manifeste-se a respeito dos pleitos apresentados.

*Editado por Iris Pacheco