MST realiza seminário para discutir a Literatura nos Processos de Formação

“Para resistirmos a estes tempos sombrios, a criatividade projeta a literatura e as artes para luta”, explica militante Sem Terra
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Seminário segue sua programação até sábado (25), na Escola Florestan Fernandes. Foto: Raquel Oliveira

 

Por Janelson Ferreira
Da Página do MST

 

“Disse a multidão: &”39;Não necessitamos de caridade. O que queremos é uma justiça que se cumpra e um Direito que nos respeite&”39;”. Essas foram as palavras de José Saramago, que escreveu parte do prefácio do livro Terra, lançado em 1997, com fotos de Sebastião Salgado. 

Os recursos obtidos com a venda do livro foram usados para a construção da Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema, São Paulo, onde recebe, há mais de 20 anos depois, o Seminário Nacional Literatura nos Processos de Formação e Educação do MST.

O texto de Saramago foi lido no Seminário que teve início nesta última quarta-feira (22) e segue até sábado (25), com a participação de mais de 70 pessoas, entre elas, educadores e educadoras de escola de educação básica e dos centros de formação do MST, a militância da Cultura, Educação, Formação, Comunicação, Juventude, além de escritores, amigos do MST e membros da Editora Expressão Popular. 

Entre os objetivos do seminário, está o aprofundamento do debate sobre literatura, a partir do seu papel na formação do povo brasileiro e como ela foi trabalhada nos processos revolucionários, como na Revolução Russa e Cubana. 

Além disso, a atividade busca socializar práticas de literatura nos espaços formativos, ligados ou vinculados, ao MST.

Para Luana Silva, da direção nacional do coletivo de cultura do Movimento, o Seminário demonstra o compromisso que o MST tem com a transformação da sociedade e a compreensão de que isso só se dará com a elevação da consciência e com a humanização dos sujeitos.

“Para resistirmos a estes tempos sombrios e sairmos deste estado de sítio, a criatividade e a capacidade de projetar a literatura e as artes em geral no campo da luta é fundamental “, explica Silva. 

Literatura e o MST

A literatura esteve presente nos espaços do MST desde sua origem, principalmente por meio de cantos e poemas em forma de trova. Nesse sentido, contribuiu na construção da cultura política da organização. 

A escrita dos cantos e poemas permitiu que essas elaborações se difundissem junto com a nacionalização do Movimento, passando a ocupar constantemente as assembleias com os trabalhadores e trabalhadoras Sem Terra em luta, os despejos e os espaços de formação, nas atividades de trabalho de base e reuniões diversas. 

Ao resgatar a importância da literatura para o MST, Julia Iara, militante do coletivo de cultura, afirma que nesses 34 anos de luta do Movimento diversos esforços no campo da formação política e humana foram empreendidos de modo a incentivar a leitura, escrita (teórica e literária), produção e democratização dos livros, dos espaços criativos, entre outros.

“Sempre houve a compreensão de que o estudo, a leitura e a incidência intelectual dos trabalhadores camponeses são necessidades condicionantes para a realização efetiva do projeto de Reforma Agrária que o MST assume como projeto político. Tendo como base a emancipação para o campo e para sociedade brasileira”, ressalta Julia. 

A militante também destaca os principais desafios postos para a literatura dentro do Movimento. Ela diz que o primeiro desafio é a superação da histórica negação do acesso à literatura pela classe trabalhadora. Já o segundo é a incidência da literatura na luta pela Reforma Agrária, através da linguagem. “Ambos implicam em massificar a escrita nas suas mais variadas possibilidade de técnica e metodologia de trabalho”, pontua.

Centenário de Antonio Candido

O Seminário Nacional realizará no próximo sábado (25) pela manhã uma homenagem aos 100 anos de nascimento de Antonio Candido, considerado pelo MST como um dos mais importantes teóricos da classe trabalhadora no Brasil.

Sua principal obra, Formação da Literatura Brasileira, lançada, inicialmente, em 1959, é uma das principais referências e um marco do pensamento crítico brasileiro. 

Sociólogo e crítico literário, Candido, que faleceu em 2017, foi responsável por importantes obras que fundamentam o debate em torno da literatura no país.

“Candido defende a literatura como um direito humano, que deve ser universalizado e não privilégio de poucos”, lembra Silva e destaca que essa é uma das grandes tarefas do Seminário.

 

*Editado por Wesley Lima