Dia da Visibilidade Lésbica: existir e resistir pelo direito de amar

29 de agosto é a data escolhida para representar o combate a lesbofobia no Brasil

 

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Maysa Mathias, negra, lésbica e integrante do Coletivo LGBT Sem Terra. Foto: Rafael Stedile

 

Da Página do MST

“Somos sobreviventes desta sociedade que mata LGBT todos os dias”, afirma Maysa Mathias, negra, lésbica e integrante do Coletivo LGBT Sem Terra, ao reconhecer o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica, 29 de agosto, como uma data necessária numa sociedade onde falar de amor entre mulheres é um ato de resistência cotidiana.

A data foi escolhida a partir do 1º Seminário Nacional de Lésbicas (SENALE), que aconteceu em 1996. Organizado pelo Coletivo de Lésbicas do Rio de Janeiro (COLERJ), grupo que existia na época, usou o tema de “Visibilidade, Saúde e Organização” para falar sobre sexualidade, prevenção de Infecções Sexualmente Transmissiveis (IST), HIV/AIDS, trabalho e cidadania.

O seminário tornou-se um importante marco para a história dos avanços de direitos das mulheres lésbicas e o dia foi escolhido para representar o combate a lesbofobia no Brasil.

Segundo Maysa, a data é um momento que ajuda a provocar questões inerentes a vivência da sexualidade, do afeto, do corpo e da liberdade, não de maneiras separadas, porém conectadas e entrelaçadas. “Nós queremos, como qualquer ser independente de orientação sexual, é ter afeto, afeto público, e não ser silenciada em todos os aspectos. […] Eu como você queremos ser amadas e publicizadas, porque a nós sempre é reservado o espaço da invisibilidade sexual, afetiva e afetiva sexual”, denuncia.
 

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Daiane e Mariana são assentadas em Catanduvas – Santa Catarina.
Foto: Rafael Stedile

Lesbocídio no Brasil

Nesse contexto, o primeiro Dossiê sobre Lesbocídio no Brasil alerta o crescimento da violência contra as mulheres lésbicas. O documento indica que, entre 2000 e 2017, foram registrados 180 homicídios de lésbicas. No entanto, os anos mais recentes concentram a maior parte das mortes. Somente entre 2014 e 2017, foram registrados 126 assassinatos no país.

O dossiê revela também que, enquanto em 2000 foram dois casos registrados, em 2017 eles chegaram a 54. A partir de 2013, o aumento tem sido constante, sendo que o maior ocorreu de 2016 para 2017, quando subiu de 30 para 54 registros.

Uma identidade de luta

Assim como Maysa, diversas são as lésbicas Sem Terra, que compreendem o campo da luta contra a lesbofobia como fundamental para a construção de uma sociedade mais humana. Esse tem sido um dos debates realizados pelo Coletivo LGBT Sem Terra.

Oficializado em 2018, como um dos coletivos que articula, elabora e pensa a luta em defesa Reforma Agrária Popular nas direções do MST, tem garantido a participação de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais Sem Terra no todo do Movimento.

Nesta data, Maysa acredita que é fundamental visibilizar os sujeitos LGBT que estão na cidade, mas também os que estão no campo, produzindo alimentos saudáveis e lutando contra o agronegócio e a LGBTfobia. Para ela, neste e em outros dias é necessário resistir e existir, “sem que sejamos exterminadas em nossas condições. Que possamos amar e ser amadas”, conclui.
 

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 Celinha e Gelda vivem em área de assentamento do MST no município de Areia, na Paraíba. Foto: Rafael Stedile

*Editado por Iris Pacheco