Grito dos Excluídos denuncia violência, custo de vida e prisão política de Lula

Em São Paulo, militantes caminharam até o Monumento às Bandeiras contra o aumento da pobreza e da exclusão social
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Militantes percorrem a Avenida Brigadeiro Luís Antônio, na cidade de São Paulo, em direção ao Parque do Ibirapuera / Rute Pina / Brasil de Fato

 

Por Rute Pina
Do Brasil de Fato 

 

Militantes de movimentos populares, pastorais, sindicatos e partidos de esquerda saíram de São Paulo (SP) em um desfile alternativo nesta sexta-feira (7), dia da Independência.

Esta é a 24ª edição do Grito dos Excluídos e Excluídas. Com o lema “Desigualdade gera Violência: Basta de Privilégio”, o ato saiu por volta das 10h da praça Oswaldo Cruz, próximo à Avenida Paulista, em direção ao Parque do Ibirapuera, na região Sul da cidade. 

Em carta, os movimentos populares criticaram a reforma trabalhista e a precarização do trabalho; o aumento do desemprego e do custo de vida; e o congelamento dos gastos públicos.

O coordenador nacional da Central de Movimentos Populares (CMP), Raimundo Bonfim, afirma que o aumento da miséria e da exclusão social no país ocorreu após o golpe contra a ex-presidenta Dilma Rousseff.

Bonfim avalia que o crescimento da violência política no país também é um reflexo do aumento das desigualdades.

Segundo ele, isso reverbera em ataques como o que sofreu o candidato à presidência da extrema-direita, Jair Bolsonaro, atingido por uma facada nesta quinta-feira (6); e também contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja caravana foi alvo de tiros de arma de fogo há seis meses.

“É um resultado catastrófico, uma tragédia que o país está vivendo do ponto de vista econômico e social”, pontua o dirigente. “Uma violência individual como a que aconteceu ontem [com Bolsonaro] não resolve. Nós lamentamos e repudiamos, mas temos que dizer que, infelizmente, aumentou a sensação de violência de intolerância que dá margem para esse tipo de ato.”

Mais contas, menos trabalho

Entre intervenções artísticas e teatrais, os militantes lembraram o aumento do custo de vida e do preço do gás e da energia elétrica.

Maria Aparecida, de 55 anos, milita no movimento de moradia na Vila Arapuá, zona Sul da capital paulista, há 30 anos. Para ela, o aumento do custo de vida piora ainda mais um quadro de alto índice de desocupação. Ela segurava uma uma faixa denunciando o número de 13,5 milhões de desempregados durante o governo de Michel Temer (MDB).

“Se o trabalho está difícil, para comprar é pior ainda. Se o mercado de trabalho fecha e as pessoas não têm acesso a emprego, não tem como ter acesso a comprar. Tá muito caro o gás, a luz e e mal dá para pagar as contas”, lamenta. 

O fim da violência contra a população negra também foi uma das pautas do Grito dos Excluídos. A yalorixá Solange Machado lembra que os negros estão sub-representados na política. “Não estamos representados nos cenários de poder e nas cadeiras de comando. Continuamos excluídos do nosso direito de sermos reconhecidos  e ter acesso a educação a saúde e respeito.

Ela pontua também  que os religiosos de matriz africana fazem parte do grupo de excluídos. “Excluídos de seus direitos; excluídos do que a Constituição garante e o Estado nós nega”, diz ela. “Aqui nós temos movimentos por moradia, os sem-terra, trabalhadores desempregados, mulheres, comunidade LGBT e diversos outros representantes de grupos que estão fora daquilo que, hoje, a sociedade rotula como merecedores de direitos”.

Lula Livre

Outra exigência do Grito dos Excluídos e das Excluídas foi a liberdade de Lula, preso há mais de 150 dias na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR).

A socióloga Susana Inês Basualdo, de 58 anos, já participou de outras edições do Grito dos Excluídos. “Essa manifestação mostra que a verdadeira independência e a verdadeira libertação do Brasil só vão ocorrer quando todos tiverem alcance a uma vida digna”, diz.

Ela afirma que este ano o ato tem uma simbologia ainda maior por conta da prisão política do ex-presidente. “A prisão dele é um sinal claro que não querem o povo melhor, que querem manter a desigualdade no país, manter o poder na mão de poucos. E que a escravidão ainda está na mentalidade das nossas elites.” 

O protesto foi encerrado por volta das 13h, em frente ao Monumento às Bandeiras, no Ibirapuera. A escultura do artista Victor Brecheret, inaugurada em 1953, é uma homenagem aos bandeirantes paulistas, “símbolo da opressão dos excluídos”, lembra o jovem Pedro Pankararé.

“Aqui é um cenário triste. Esse símbolo aqui mostra a escravidão”, disse, apontando para o monumento. “Mas estar aqui nesse chão nos dá força para lutar cada vez mais.”

Políticos, como o candidato à governador do estado de São Paulo pelo PT, Luiz Marinho, também estiveram presentes. 

 

*Edição Brasil de Fato