Brigada mineira de alfabetização cumpre 1ª etapa

Oito municípios mineiros continuam a Jornada Mineira de Alfabetização até dezembro

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Por Agatha Azevedo
Da página do MST

 

O método de alfabetização “Sim, eu posso!” começou a fase de mobilização em fevereiro deste ano em Minas Gerais. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), mais de um milhão de pessoas acima dos 15 anos de idade não sabem ler e escrever no estado. Ou seja, 6% da população mineira é analfabeta. Vale ressaltar que esse número é ainda maior entre as mulheres, a população negra e a população que mora no campo, isso sem mencionar o número de pessoas que sequer participam das pesquisas e que, portanto, estão fora das estatísticas.

 

Tendo alfabetizado 900 pessoas, a Brigada de Alfabetização Leonela Relys encerra as aulas durante o mês de setembro para iniciar uma nova etapa que visa ampliar os conhecimentos e a formação crítica dos educandos e educandas através da pedagogia de Paulo Freire e dos Círculos de Cultura.

 

Ao longo deste período foram muitos os desafios nos municípios que receberam o projeto. Uma parte da Brigada de Alfabetização se deslocou de suas cidades e até de seus estados para contribuir na tarefa revolucionária de educar. Iara Gondim é uma dessas pessoas. Nascida no Ceará, também contribuiu no “Sim, eu posso!” da Bahia e de Alagoas.“O projeto mudou a minha vida, meu modo de pensar e foi isso que me fez sair da minha casa para vir para Minas”, explica. 

 

Sobre os desafios, Gondim fala da dificuldade de sair de seu estado e de perto da sua família para contribuir no projeto. “Eu nunca tinha saído do nordeste. Eu participei na Bahia e depois fui contribuir em Alagoas. Foi quando recebi o convite para vir para Minas Gerais. Eu amo esse projeto e aceitei na mesma hora, e eu não conhecia ninguém aqui, mas rápido começamos a formar turmas e fazer trabalho de base. Hoje eu tenho várias famílias eme sinto em casa”, afirmou. 

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“Sim, eu posso!” pelos quatro cantos de Minas 

 

Na cidade de Almenara, no Vale do Jequitinhonha, seis turmas foram criadas na zona rural e 14 na zona urbana, alfabetizando em média 150 pessoas. Além de uma turma voluntária, o município contou com  turmas de educandos e educandas especiais, turmas em asilo, turmas de jovens, turmas quilombolas e turmas ciganas. Santa é do município de Almenara. Mãe de 11 filhos, ela é camponesa e está muito feliz por participar do projeto. Ela conta que a vida dura de trabalho não a permitiu concluir os estudos, mas desta vez, vai aprender.”A gente não teve a oportunidade de estudar quando era mais nova, então a gente estuda quando é mais de idade né, os filhos já tão tudo criado, então a gente pode né! E eu vou mandar carta pra todo mundo!”

 

Os educadores e as educadoras do município deram aulas muitas vezes indo a pé até suas salas de aula, ou de bicicleta, e inovaram também na metodologia do plantão pedagógico, revezando entre a coordenação local do projeto e os próprios educadores a tarefa de conduzir a reunião semanal. Já na região metropolitana de Belo Horizonte, três municípios receberam turmas: São Joaquim de Bicas, Itatiaiuçu e Ibirité. Além das questões de saúde de alguns educandos, as turmas destes municípios também trabalharam com pessoas de diferentes níveis de vulnerabilidade social, como mulheres trans, dependentes químicos, entre outras. Foram 8 turmas e um total de 110 educandos, e mais da metade delas atuou na zona rural.

 

Em Tumiritinga, as turmas tiveram importante papel na conscientização sobre o crime da Samarco no Rio Doce. O método “Sim, eu posso!” ajudou a população local a ler os decretos e documentos para reivindicar os seus direitos na região, e formou pessoas com outra visão de mundo, sendo uma fonte de energia para trazê-las para a vida política e social do município. Ao todo, as 15 turmas tiveram uma média de 80 educandos frequentes.

 

Novo Cruzeiro teve o desafio de proporcionar salas de aula acessíveis para que pessoas cadeirantes pudessem frequentar as aulas. Além disso, o município também criou soluções para locais onde não haviam salas de aula tradicionais disponíveis. As 16 turmas tiveram um total de 110 alunos frequentes. Assim como outros municípios, Teófilo Otoni encarou o desafio de alfabetizar turmas bastante especiais, com pessoas idosas e com dificuldade de vista, mas a força do projeto foi tão grande que o município pode ter 223 educandos frequentes em 23 turmas, além de uma turma voluntária.

 

Em Montes Claros a própria geografia já era um desafio, mas a Brigada de Alfabetização conseguiu montar turmas em lugares bastante distantes do centro e com precariedade de serviços básicos de saneamento, onde muitas vezes o poder público não chega, e ainda ajudou a reativar Centros Culturais abandonados e outros espaços de uso comunitário. Em 23 turmas, 172 educandos concluíram o método “Sim, eu posso!”, e um dos relatos mais emocionantes foi de educandos e educandas que queriam continuar os estudos e ser educadores e educadoras populares.

 

Uma das que concluíram o método no município é Maria José. Ela conta que descobriu sobre o projeto por acaso, através de uma vizinha. Com 56 anos, diz estar adorando as aulas, e que não pensava que aprenderia tão rápido. “Eu já tô conhecendo muita palavra, e juntando as palavrinhas. Meu educador tem muita paciência, a gente ama ele!”. Ela ainda brinca que o “Sim, eu posso!” está ajudando a sua vida para além da leitura e da escrita: “Eu tô ficando mais desestressada, até a pressão minha tá melhorando!”

 

A próxima etapa do projeto irá reforçar os conhecimentos de leitura e escrita através dos Círculos de Cultura, que além de valorizarem os saberes tradicionais, têm uma estrutura que coloca todas as pessoas em igualdade, deslocando a percepção de que há quem ensine e quem aprenda, e proporcionando uma troca de conhecimentos e um diálogo sobre percepções de mundo e reforçando os aprendizados do método “Sim, eu posso!”. Em dezembro, a Jornada se encerra com um grande ato em Belo Horizonte, celebrando a luta de, em meio a tantos contratempos, romper as barreiras do conhecimento e ampliar o nível de consciência de 900 pessoas em 8 municípios.

 

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