Organização que premiou o MST com o Nobel Alternativo repudia declarações de Bolsonaro

“As alegações de Jair Bolsonaro são extremamente graves, por reforçarem a criminalização dos movimentos sociais no país e na região”, alerta.

Da Página do MST 

Na última terça-feira, 23, a Fundação Right Livelihood Award, conhecido como Prêmio Nobel Alternativo manifestou sua preocupação diante declarações de Jair Bolsonaro (PSL) que acusa o MST de terrorista. 

Ole von Uexkull, diretor-executivo da Fundação Right Livelihood Award, alerta para a gravidade da situação que viola direitos humanos fundamentais da população brasileira. 

“As alegações de Jair Bolsonaro são extremamente graves. Não só porque violam os compromissos nacionais e internacionais do Brasil com direitos e liberdades fundamentais e princípios básicos da democracia, mas também por reforçarem a criminalização dos movimentos sociais no país e na região!”, afirma. 

O MST recebeu o chamado Prêmio Nobel Alternativo, em 1991, e como uma organização premiada  por realizar práticas agrícolas sustentáveis em um país com altos índices de concentração fundiária, recebe apoio da Fundação que lembra ao presidenciável Bolsonaro a necessidade dele se alinhar com “os princípios da democracia e do Estado de Direito, prezados pela população brasileira e pela comunidade internacional.”

Confira abaixo na íntegra. 

O candidato à presidência do Brasil Jair Bolsonaro pretende classificar como atos terroristas todas as atividades do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), organização premiada pelo Right Livelihood Award, conhecido como Nobel Alternativo. A Fundação  Right Livelihood Award expressa profunda preocupação diante das declarações de Bolsonaro e pede que ele respeite o trabalho vital dos defensores da terra e do meio ambiente, assim como suas lutas em nome da justiça social e dos direitos humanos.

Ole von Uexkull, diretor-executivo da Fundação Right Livelihood Award, comentou: “As alegações de Jair Bolsonaro são extremamente graves. Não só porque violam os compromissos nacionais e internacionais do Brasil com direitos e liberdades fundamentais e princípios básicos da democracia, mas também por reforçarem a criminalização dos movimentos sociais no país e na região.”

No dia 21 de outubro, uma semana antes do segundo turno das eleições presidenciais no Brasil, o candidato Jair Bolsonaro declarou publicamente que, se eleito, pretende classificar todas as atividades do MST como atos terroristas.

Em sua declaração, ele reforçou aos seus eleitores que os trabalhadores e trabalhadoras do MST não podem mais “propagar o terror” e garantiu que, se chegar à presidência, o movimento será encarcerado. No início da campanha, Bolsonaro já havia afirmado que, se dependesse dele, os membros do MST “seriam combatidos pelos cidadãos de bem com fuzil”. Essas declarações alarmantes se somam à lista de comentários antidemocráticos em que ele promete “colocar um ponto final em todo o ativismo no país”.

Em 1991, o MST recebeu o chamado Prêmio Nobel Alternativo pelo trabalho realizado com famílias sem-terra no Brasil e pelas práticas agrícolas sustentáveis, em um país com uma das mais desiguais distribuições de terra do mundo.

Em declaração recente sobre as eleições presidenciais, o MST afirmou: “Em nossos 34 anos de existência, sempre defendemos a democracia e os direitos humanos e sociais. Nesse período, também aprendemos na prática que o discurso da violência do Estado sempre atinge os mais pobres. Portanto, sempre estivemos do lado da vida, da luta, da justiça e da democracia.”

Nos últimos anos, o Brasil liderou o ranking de país do mundo com o maior número de mortes de ativistas ambientais e do campo. Os militantes são expostos a ameaças, assédios e execuções cotidianamente. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), também premiada pelo Nobel Alternativo em 1991 junto com o MST, a violência contra camponeses e trabalhadores sem-terra atingiu o recorde de 71 assassinatos em 2017, maior índice registrado desde 2003.

“A pregação contra o direito das minorias (…) e a transformação da luta pela terra em ato de terrorismo, além da proposta de ‘dar fim a todo o ativismo no Brasil’, configuram um claro discurso de descaso com os direitos humanos, um descaso com a democracia. (…) Defender a luta contra a violência pelo uso da violência é um salvo-conduto para mais violência. Uma espiral ilimitada de violência”, afirmou a CPT em nota.

Fabiana Leibl, gerente de proteção e defesa da Fundação Right Livelihood Award Foundation, comentou: “A Fundação se une a seus premiados e a milhares de organizações da sociedade civil do Brasil e do mundo nos clamores para que o candidato à presidência Jair Bolsonaro respeite o trabalho vital dos defensores da terra e do meio ambiente, assim como suas lutas em nome da justiça social e dos direitos humanos. Também chama o candidato a se alinhar com os princípios da democracia e do Estado de Direito, prezados pela população brasileira e pela comunidade internacional.”