Para filha de Glauber Rocha, MST gera desenvolvimento com produção de alimentos

“Meu contato com o MST durante as filmagens deixou claro que se trata de uma organização social com valores humanos que precisam ser resgatados na nossa sociedade”

Por Solange Engelmann
Para Página do MST

A filosofa, cineasta e produtora independente, de 58 anos, Paloma Rocha, filha de Glauber Rocha conheceu o MST por meio do cinema e mais tarde, também através dessa arte se aproximou dos Sem Terra e da luta pela Reforma Agrária. Paloma conta que conheceu o MST há alguns anos através de um documentário e hoje trabalha com produções de cinema, que abordam temas políticos e sociais do Brasil, como a questão da terra, envolvendo indígenas, Sem Terra, ribeirinhos, quilombolas, entre outras populações excluídas.

A cineasta avalia que a questão da Reforma Agrária é um problema antigo na sociedade brasileira e fundamental para evoluirmos a uma sociedade desenvolvida. Na sua visão, o fato do MST ocupar latifúndios improdutivos e transformá-los em terras que produzem alimentos e respeitam o meio ambiente, torna os assentamentos
“uma porção expressiva que o desenvolvimento do país carece: o combate à fome. Meu contato com o MST durante as filmagens deixou claro que se trata de uma organização social com valores humanos que precisam ser resgatados na nossa sociedade”, argumenta.

Veja entrevista na íntegra:

Como conheceu o MST?

Conheci o MST há alguns anos através de documentário.

Como surgiu o interesse em gravar com o MST? E o que busca abordar nas filmagens?

Estamos dirigindo um filme que aborda questões políticas atuais e o comportamento da sociedade brasileira neste contexto. Ao lado de entrevistas com políticos, artistas e intelectuais contrapomos a realidade nas ruas do país e nas comunidades indígenas, ribeirinhas, quilombolas e outras que compõem a nossa diversidade cultural. Neste
âmbito, a marcha do MST para a candidatura do ex-presidente Lula foi um dos eventos mais importantes daquele período de luta pelos direitos democráticos.

Qual a importância em abordar a luta do MST pela Reforma Agrária no cinema?

A questão da Reforma Agrária é antiga e fundamental para uma sociedade desenvolvida. O MST, na medida que torna terras improdutivas em terras que produzem alimentos e respeitam o meio ambiente, protagoniza uma porção expressiva que o desenvolvimento do país carece: o combate à fome. Meu contato com o MST durante as filmagens deixou claro que se trata de uma organização social com valores humanos que precisam ser resgatados na nossa sociedade.

 

Qual o papel do cinema hoje, em um momento de avanço do conservadorismo com a eleição de Bolsonaro no Brasil?

O Papel do bom cinema continua o mesmo: provocar uma reflexão crítica através da arte. A reflexão só é possível com a liberdade de expressão. Em particular, o cinema é uma atividade como outras que depende de um desenvolvimento econômico. Todos da categoria observamos atentos o movimento do novo governo em relação à cultura.

E como sempre resistiremos!

Quem foi Glauber Rocha?

O baiano, nascido em Vitória da Conquista na Bahia, Glauber de Andrade Rocha (1939-1981) foi cineasta, ator e escritor brasileiro. Se tornou referência do movimento Cinema Novo, que surge no Brasil entre 1960 e 1970, incorporando à crítica da realidade social ao cinema e a busca pela igualdade social.

Com o princípio de uma câmera na mão e uma ideia na cabeça, Glauber cria uma identidade nova no cinema brasileiro e produz filmes de grande repercussão. Se tornou reconhecido com o filme Terra em Transe (1967), ao conquistar o Prêmio da Crítica do  Festival de Cannes, o Prêmio  Luis Buñuel  na  Espanha, o Prêmio de Melhor Filme do  Locarno International Film Festival e o  Golfinho de Ouro  de melhor filme do ano, no  Rio de Janeiro.

Outros filmes importantes e premiados do autor são seu primeiro longa-metragem Barravento (1961), premiado na Checoslováquia. Com Deus e o Diabo na Terra do Sol  (1963), recebeu o prêmio do Festival de Cinema Livre, de Porretta, na Itália e ganhou a Palma de Ouro, do Festival de Cannes. E O Dragão da Maldade contra o Santo Guerreiro (1969), também indicado para Palma de Ouro. Nos filmes Glauber alia a crítica social do momento político vivido pela ditadura militar às formas de filmagens, rompendo com o estilo hollywoodiano, importado dos Estados Unidos.

 

Assista abaixo o filme Terra em Transe completo:

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