MST se despede de Irmã Alberta, a lutadora do povo

A força e vigor de Irmã Alberta serão sempre lembrados com alegria e garra pelas famílias Sem Terra nas ações, nas místicas e na fé em um outro mundo possível
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Irmã Alberta no acampamento dos Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em São Paulo que homenageia sua luta / Divulgação | 100Nonni

 

Da Página do MST 

 

Com os versos que ela sempre entoava, nos despedimos de Irmã Alberta. Na manhã deste domingo (30), partiu mais uma defensora dos direitos do povo. A mulher que soube fazer de sua religiosidade a base para a organização popular, deixa uma história de comunhão e dedicação aos trabalhadores.

Nascida na Itália em 1921, Dina Girardi se tornou Irmã Alberta, uma das Pequenas Irmãs Missionárias da Caridade que chegaram ao Brasil em janeiro de 1970 e que, desde então, seguiram o preceito de “desenvolver um amplo apostolado com os mais pobres de nossa sociedade em amor à Jesus”, como consta na missão das Orionitas.

No Brasil, Irmã Alberta lutou com os trabalhadores e trabalhadoras nos locais onde era mais necessária. Ao chegar, foi enviada para a cidade do Araguaia em meio a tensos conflitos fundiários, quando foi ameaçada de morte junto ao Padre Josimo, seu companheiro de evangelização que se tornou mártir da luta pela terra. Também esteve no Pará, ao lado das famílias ribeirinhas da Ilha do Marajó, e desde 1996 estava em São Paulo, contribuindo com Comissão Pastoral da Terra, onde se inseriu na Fraternidade Povo da Rua e nos trabalhos de base para a luta pela Reforma Agrária.

Guerreira, humilde e inteligente, destacava-se pela capacidade de interpretar a realidade e dizer com simplicidade ao povo que era preciso transformá-la. No MST, Irmã Alberta participou ativamente de muitas ocupações de terra, sendo homenageada em diversos espaços e emprestando seu nome à Comuna da Terra Irmã Alberta, localizada na cidade de São Paulo.

 

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Em 2015 foi homenageada pelo Movimento com o Prêmio Luta pela Terra, ao lado de lutadores como Leonardo Boff e Luiz Beltrame. Em reconhecimento à sua luta justa, a Ordem dos Advogados do Brasil também a agraciou, em 2007, com o Prêmio Castro Holzwwarth, e em 2012 com o Prêmio Especial dos Direitos Humanos.

Dedicada também aos estudos, era leitora de Marx e Gramsci e considerava as obras muito atuais para a realidade da classe trabalhadora, sempre fazendo correspondência entre as lutas sociais, a política e a fé. Para Irmã Alberta o trabalho de base e a organização do povo para a luta eram as formas de alcançar a justiça social que Jesus pregava.

“Belíssimos, não parem nunca de lutar”, assim como ela falava sobre a luta do MST. A força e vigor de Irmã Alberta serão sempre lembrados com alegria e garra pelas famílias Sem Terra nas ações, nas místicas e na fé em um outro mundo possível.

Seguimos seu sonho Irmã, na firmeza dos seus passos e mãos sempre dispostas para ajudar; na ternura do seu abraço; na paciência de ouvir, mas também na ousadia de tomar a palavra e profetizar, calando a boca dos poderosos, fazendo tremer as estruturas de dominação e rompendo todos os latifúndios. 

 
Direção Estadual MST/SP
 
São Paulo, 30 de dezembro de 2018.