Duas áreas do MST podem ser atingidas pelo novo crime da Vale

O MST repudia a ação predatória das mineradoras em Minas Gerais e reafirma que a responsabilidade é da empresa e do Estado
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O Rio? É doce.

A Vale? Amarga.

Carlos Drummond de Andrade

 

No início da tarde desta sexta-feira, 25/01, mais uma barragem da Vale, transnacional da mineração privatizada, em 1997 pelo Partido da Social Democracia Brasileira (PSBD), se rompeu. Dessa vez o município de Brumadinho e outros 18 do estado de Minas Gerais serão afetados, comprometendo o abastecimento de água de cerca de um milhão de pessoas.

 

A Mina Córrego do Feijão guardava mais de um milhão de metros cúbicos de rejeito. Mas, o complexo envolve seis barragens, podendo chegar a 13 milhões de metros cúbicos de lama.

 

A nova tragédia provocou o desaparecimento de cerca de 300 a 350 pessoas, nove mortos confirmados até o momento e 189 pessoas resgatadas com vida, de acordo com a Defesa Civil. E inúmeras incertezas sobre as consequências do rompimento de uma barragem que não estava entre as 50 sob alerta de risco. A Vale divulgou uma lista com 413 funcionários que ainda não teve contato.

 

Em São Joaquim de Bicas, o acampamento Pátria Livre será afetado pelos rejeitos. Já no município de Esmeraldas, o assentamento 2 de Julho também foi atingido pela poluição da mineradora, já que os lotes beiram o Rio Paraopebas, inundado pelos rejeitos. As famílias e a aldeia indígena Pataxó Rã Rã Rã se retiraram para locais mais altos, para se protegerem.

 

É estarrecedora a postura do Presidente da Vale, Fabio Schvartsman, ao afirmar “nós não sabemos quantos estão soterrados”. Segundo ele, a barragem estava inativa e sem receber rejeitos há três anos e os laudos apontavam um risco baixo de desabamento.

 

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Lama da Barragem da Vale invade casa, em Brumadinho (MG) 
Crédito: Corpo de Bombeiros/MG.

 

Pouco mais de três anos se passaram do crime da Vale sobre Mariana, com o rompimento da Barragem de Fundão. Mas, há dois dias, o governador Romeu Zema (Partido Novo) comemorou a ampliação da extração de minério em Brumadinho. Ao se pronunciar após reunião com a Samarco, argumentou: “conversamos sobre os cerca de 14.500 empregos que serão gerados com a retomada da atividade da empresa na região de Mariana e Ouro Preto. (…) O desenvolvimento tem que ocorrer para a geração de empregos, mas sem tirar os olhos da questão ambiental. Assim teremos uma Minas Gerais eficiente.”

 

Os olhos do governador e dono das lojas de eletrodomésticos Zema, estavam certamente nos dividendos da retomada da exploração dos recursos minerais. Ele sequer levou em conta que as mineradoras pouco têm a retornar para o Estado, já que a lei Kandir libera os impostos de produtos primários de exportação, como o minério.

 

Ainda em dezembro do ano passado, sob protesto do Movimento das Águas de Casa Branca contra o avanço da mineração por ali, o Conselho Estadual de Política Ambiental aprovou a ampliação em 88% de duas minas em Brumadinho e Sarzedo.

 

Já a gestão de Zema, nomeou Manoel Vítor de Mendonça Filho, para a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Governo de Minas Gerais. Ele era vice-presidente da mineradora Gerdau-Açominas. E Otto Levy Reis, detentor de diversos cargos de chefia da Magnesita, outra mineradora, que assumiu a Secretaria de Planejamento e Gestão.

 

De acordo com apuração do jornal Brasil de Fato, o plano de campanha do governador Romeu Zema não teve propostas específicas para a área ambiental. A palavra “ambiente” apareceu treze vezes, quase sempre ao lado da expressão “de negócios”, e nunca se referindo à natureza. Apesar disso, Zema criticou de modo geral os licenciamentos feitos pelo estado, afirmando que “desincentivam”, “criam burocracias” e “gastos” aos empresários. Adicionou ainda que isso não evitou irregularidades.

 

Zema foi eleito como a “zebra” da campanha eleitoral para o governo de Minas, tendo visibilidade após assumir apoio à campanha de Jair Bolsonaro. O atual presidente, eleito com uma ampla campanha baseada em notícias falsas veiculadas nas redes sociais, declarou que estará em Minas Gerais neste sábado, 26. Porém, durante as eleições afirmou que a licença ambiental atrapalha obras e que vai acabar com “capricho” de fiscais.

 

Ao mesmo tempo, o Ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro, Ricardo Salles, foi condenado em dezembro por favorecer mineradoras no Plano de Manejo da Área de Proteção Ambiental (APA) do Rio Tietê, quando era secretário de Meio Ambiente do então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB).

 

Pode-se perceber com facilidade o fim da corrupção. Onde a investigação é restrita aos interesses políticos e a justiça age a favor do crime organizado, infiltrado no Estado. Ou seja, a justiça realça sua cegueira em relação às necessidades do povo brasileiro.

 

As declarações dos novos governantes expõem a relação umbilical entre a política e o capitalismo. Quando estes projetos foram pensados, o valor do minério era um, após o início da crise esse lucro se reduz. Para não colocar suas margens de lucro em risco, outras margens são destruídas, aquelas onde vivem os ribeirinhos, os pescadores, os povos do campo e todos que se abastecem daquela água. Com um governo que apoia, declaradamente tais crimes.