Manhãs de 13 e 14 de Março
Por Coletivo de Mulheres Subversivas do MST no RJ
Da Página do MST
Era manhã de uma semana forte, dolorida e especial de março. O sol despontava com força, iluminando o cenário que seria alvo de uma luta fundamental para as mulheres de resistência. Entre nós, mulheres Sem Terra e de solidariedade a todas às trabalhadoras desta sociedade que sofrem ou já sofreram alguma violência. Esse foi o sentimento ao ocuparmos a fazenda Agropastoril Dom Inácio, em Anápolis, que pertence ao conhecido João de “Deus”.
No dia seguinte, mais um ato de subversão e ousadia. Mulheres Sem Terra, agora no estado de Minas Gerais, param os trilhos da Vale, denunciavam que “A Vale é morte, a Vale é violência”. Quanto vale a vida, Vale?
Somos muitas. Somos Marias, Mahins, Marielles, Malês e nossas ações se inserem numa jornada de lutas das mulheres que tem neste mês de março a simbólica data do Dia Internacional de Luta das Mulheres, e quisera a história que também fosse neste mesmo mês o dia do assassinato brutal da nossa camarada Marielle.
Denunciamos a violência cotidiana a que mulheres são submetidas, resultado da manutenção de uma estrutura social marcada pelo patriarcado, com permanência da ideologia colonial: a perpetuação histórica da dominação sobre os corpos negros, pobres e das mulheres. Corpos que na reprodução social brasileira podem ser violados e facilmente eliminados.
Esse ano, nossa jornada se embala na homenagem à Marielle, companheira de sonhos e de luta. Mulher, negra, LGBTQ+, favelada, vereadora e socialista. Assassinada pelo ódio que a luta em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras e dos direitos humanos causa nos setores do capital, assessorados por uma ampliação das redes paramilitares.
Por isso ocupar as terras do latifundiário João “de Deus” e os trilhos da Vale é também prestar uma homenagem a essa companheira, que se recusou a calar diante de um parlamento marcadamente formado por homens brancos, pertencentes a elite econômica, agrária e militar.
O aumento da violência contra indígenas, quilombolas e sem terras é a política que Bolsonaro e o agronegócio defendem para o campo. Os crimes ambientais perpetrados pela Vale em Brumadinho e pela Samarco em Mariana demonstram a necessidade de nos organizarmos e retomarmos a defesa radical da vida, em detrimento desse processo desumanizador que o capital nos impõe, transformando nossos corpos em mercadorias baratas usadas até a exaustão.
Terminamos essa semana gritando em todos os cantos do Brasil e no mundo, nas praças, nas ruas, nos assentamentos e acampamentos, nas favelas, nos guetos, nos lugares mais longínquos e nos mais próximos: “Quem mandou matar Marielle?” e “Marielle, Presente! Agora e Sempre!”. Sua morte não foi em vão; se queriam calá-la, erraram estupidamente. Esta voz está mais viva ainda em todos que acreditam que um outro mundo é possível e vai sendo multiplicada dia a dia.
Nossa jornada se insere nessa defesa da vida. Queremos terra para dela extrair o alimento saudável tão necessário diante do aumento da fome no Brasil. Não aceitaremos o rebaixamento a que nós, trabalhadoras e trabalhadores, estamos submetidos diante de um processo ampliado da precarização das nossas vidas, que se estendeu com a contrarreforma trabalhista e agora com a proposta da contrarreforma da Previdência.
A voz da Marielle não foi interrompida! Nossa jornada é uma homenagem a ela, que manteve a força da indignação em defesa da classe trabalhadora, das mulheres, dos LGBTQ+, dos negros e dos moradores das favelas; que se opôs ao processo de militarização de nossas vidas e de tantas vidas negras, jovens e faveladas estão sendo ceifadas.
Marielle permanece viva em nossos corações! Se ameaçam nossa existência, seremos resistência! Por todas as Marielles e Andersons que, cotidianamente, diante dessa ampliação do ódio social, estão sendo assassinados!
Marielle Vive! Em todas nós!
*Editado por Fernanda Alcântara