“Enquanto estiver viva, tenho coragem para lutar”

Com 14 anos de MST, Dona Francisca conta sua trajetória de mulher Sem Terra
Dona Francisca.jpg
Dona Francisca, aos 49 anos, é uma incansável lutadora do povo. Foto: Janes Ferreira 

Por Thaina Regina
Da Página do MST

Francisca Salomé da Silva – também conhecida como Dona Francisca – luta pela terra no acampamento Florestan Fernandes, em Batayporã (MS), desde 2005. Ela entrou em contato com o MST através de sua sogra e, com seus dois filhos pequenos, Francieli e Fernando, fez história ao realizar seu sonho de ter um lote.

De origem humilde, Dona Francisca trabalhou desde muito jovem para ajudar a família. No acampamento não foi diferente: com quatro bocas para alimentar, ela foi para as usinas de cana-de-açúcar trabalhar de sol a sol. Foram sete anos saindo às 3h da manhã e voltando só às 15h da tarde.

Depois de nove anos acampada, Dona Francisca conquistou sua terra e conta como sua vida mudou após chegar ao assentamento. “Morar no sítio é ser mais feliz, é realizar o sonho de uma vida melhor. Nós plantamos o que temos vontade, criamos o que queremos, e ensinamos os filhos a serem pessoas de bem”, desabafou.

Sobre as vitórias pessoais, ela ressalta não só as conquistas materiais para a casa, como luz e água, mas principalmente o fato de sua filha conseguir entrar para a faculdade pelo Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). “É claro que eu sinto muita saudade, mas entendo que faz parte do projeto de vida dela. Eu apoio bastante porque sei que o futuro dela está lá. Sempre falo pros meus filhos: estudem!”, conta emocionada Sem Terra.

Com um belo sorriso no rosto, Dona Francisca também fala com alegria sobre ter voltado a estudar. “Adquiri mais conhecimento, fiz novas amizades, aprendo muita coisa boa da vida e a cada dia estou aprendendo mais”. E ressaltou: “Voltei a estudar com o propósito de luta. Temos que superar as dificuldades do dia a dia, erguer a cabeça e fazer tudo aquilo que se tem vontade”, afirma. Hoje Francisca cursa a quarta fase do programa Educação de Jovens e Adultos (EJA).

Dona Francisca faz questão de ensinar à comunidade sobre seu carinho pelas plantas e pela natureza ao seu redor. “Se qualquer um ver uma plantinha, por menor que ela seja, é preciso dar vida a ela, conversar com ela, evitar que ela morra. Todo mundo tem a responsabilidade de cuidar da terra. Se olhar para uma planta, regue-a! É dela que vai sair seu sustento!”. 

 
Por fim, ela encoraja todos e todas que hoje estão na luta pela terra. “Se a gente pega uma terra, temos que trabalhar nela, dar vida a ela. Eu sei que nossa vida de assentado é difícil, mas temos que erguer a cabeça e seguir lutando. Nossa luta não para por aqui, ela é diária! De minha parte, enquanto eu tiver vida, tenho esperança para a luta”, finaliza a Sem Terra.

 

*Este perfil é parte das publicações especiais da Jornada Nacional de Lutas das mulheres do MST
**Editado por Fernanda Alcântara