FURG realiza Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária

Além de estudantes, evento mobiliza Sem Terras, indígenas, ciganos, quilombolas e pescadores em São Lourenço do Sul (RS)

 

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Evento propiciou vivência com o povo Cigano. Foto por Graziela da Rosa

Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST

 
A Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (Jura) chega pela segunda vez ao Campus São Lourenço do Sul da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (FURG), na região Sul gaúcha. O evento começou nessa segunda-feira (1º) e segue com uma série de atividades, distribuídas em sete encontros, até o dia 28 de maio.

 
Segundo Graziela da Rosa, professora do Curso de Licenciatura em Educação do Campo e coordenadora local da JURA, a intenção é marcar o período conhecido como Abril Vermelho e discutir diversos temas relacionados à Reforma Agrária na universidade. A educadora acrescenta que, apesar de ser voltada a estudantes do Curso de Licenciatura em Educação do Campo, a programação é aberta à comunidade em geral, incluindo de povos tradicionais, indígenas, Sem Terra, agricultores camponeses e familiares, pescadores, quilombolas e pomeranos.

“Nosso objetivo é aprender com esses sujeitos, dar visibilidade aos povos que estudam com a gente. Precisamos aprender com eles, porque senão não é educação do campo”, aponta Graziela.
 

No primeiro dia das jornadas houve debate sobre a inserção da temática indígena em salas de aula, após a exibição de um documentário sobre povos indígenas e diálogos com Guaranis M’bya e Kaingangs. Na terça-feira (2), a Jura tratou de “Re (Existências), expulsões e perseguições do povo tradicional Cigano”.

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Jura debateu como incluir a temática indígena em sala de aula – Foto por Graziela da Rosa

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) participará da programação na próxima terça-feira (9) com a aula de Roberta Coimbra, assentada e integrante do Setor de Produção, sobre “Direitos humanos, a Pedagogia da Terra e Educação do Campo em Movimento”.
 

“Vamos tratar da situação do Brasil com um olhar para a Reforma Agrária, a produção agrícola e a educação do campo. A ideia é abrir um debate com os estudantes, tirar dúvidas e construir um diálogo que seja enriquecedor e bom para todo mundo”, adiantou Roberta.

 
Até o dia 28 de maio, várias lideranças da região, além de pesquisadores que trabalham com povos tradicionais e de diversas instituições, se somarão às discussões com temas como os “Conflitos ambientais da pesca artesanal”, o “Povo pomerano e a sua luta pela terra”, e “Povos tradicionais quilombolas e educação: uma discussão necessária”.

 
Edição da resistência
 

São Lourenço do Sul foi fundado há 135 anos. O município, que está localizado a 200 quilômetros de Porto Alegre, a Capital do Rio Grande do Sul, possui dez povos tradicionais, número significativo para a realidade local, que carrega um histórico de colonialismo e escravidão, mas também de diversidade de população.

Foi esse contexto que surgiu a primeira edição da Jura no Campus São Lourenço do Sul da FURG, em 2016. Para Graziela da Rosa, o JURA na região  é questão de resistência, já que houveram ameaças das forças reacionárias da região por organizar a atividade na última edição.

 

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Programação dos próximos dias da Jura na FURG 2019

“Existe uma resistência por parte da sociedade que não entende o significado das palavras “Reforma Agrária”. Na primeira edição da JURA eu fui ameaçada. Disseram que se o evento acontecesse, mandariam vir 200 homens armados de Bagé. Convivemos com esse tipo de ameaça quando a gente se propõe a dialogar com a comunidade a história, as lutas e a resistência desses povos tradicionais e da luta pela terra”, finaliza a professora, reafirmando que é preciso enfrentar essas intimidações e resistir.
 

*Editado por Fernanda Alcântara