MST participa de debate sobre educação do campo na JURA

Discussão foi realizada nessa segunda-feira (29), na UFRGS
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Palestrantes da segunda mesa da 6 Jornada Universitária em defesa da Reforma Agrária – Foto: Catiana Medeiros

 

Por Maiara Rauber
Da Página do MST

 

A 6ª Jornada Universitária em Defesa da Reforma Agrária (Jura) no Rio Grande do Sul têm se destacado na discussão sobre os novos rumos da educação no campo no Brasil. Nesta terça-feira (29), no Campus da Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os estudantes participaram de educadores e acadêmicos que estudam e colocam na prática a Educação no Campo.
 

Jonas Seminotti e Valéria Viana Labrea, docentes da UFRGS, destacaram em suas falas a importância da academia se relacionar com os estudos do campo. “A transmissão de conhecimento não se dá somente na escola”, ressalta Seminotti. “Os cursos sobre as Escolas do Campo estão ligados aos movimentos sociais, busca pela democracia e as políticas públicas, os quais, juntos, lutam para o avanço no debate e no acesso pela terra no Brasil”, afirmou.
 

Já Valéria Viana Labrea expõe a evolução dos estudos realizados durante os 20 anos de Escola do Campo na UFRGS. Nestas escolas, a grade curricular é dividida em teoria e prática, sendo que a primeira acarreta em 60% no espaço do curso, enquanto a segunda 40%.
 

Um dos destaques apresentados por Valéria foi o perfil dos educandos deste curso na universidade. Segundo ela, a porcentagem de estudantes que são do meio urbano é praticamente unanime, o que a levou a questionar o acesso e a permanência do público rural no meio acadêmico. “Se educar é um processo extremamente caro. É necessário qualificar e problematizar o rural”, pontuou.
 

Educação no Campo: da teoria para a prática
 

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Mesa II da 6º edição da JURA
Foto Catiana de Medeiros

Quando o tópico de discussão é educação no campo, é imprescindível o destaque para a prática nas escolas. Essas, quando localizadas em áreas da Reforma Agrária, sendo elas estaduais ou municipais, são referências de educação.
 

Um exemplo é a Escola Municipal de Ensino Fundamental Rui Barbosa, apresentado pelo professor e diretor Sem Terra Ivori de Moraes. Localizada no Distrito de Águas Claras, no município de Viamão, na região Metropolitana de Porto Alegre, a escola desenvolve um projeto pedagógico que tem como objetivo construir uma perspectiva de identidade do campo dentro da diversidade.
 

Moraes destaca que o currículo da instituição vai além da sala de aula, o que leva a diversos níveis do conhecimento, tanto teórico quanto prático.“A educação do campo não é só um debate nos cursos superiores das agrárias. Essa educação inicia na educação infantil, na busca de um agricultor que respeite o meio em que trabalha, a terra, a água”, argumenta.
 

Concomitante com a grade curricular oficial das escolas, a Rui Barbosa desenvolve alguns projetos voltados às áreas rurais, à cultura, ao espaço da mulher na sociedade e às histórias de resistência. Para além disso, o professor Moraes reforçou a necessidade de construir a educação dos agricultores do século 21, pois de acordo com ele o modelo atual de produção não é mais uma opção.
 

No assentamento Capela de Nova Santa Rita, na região Metropolitana de Porto Alegre, também há uma escola do campo. Segundo a diretora Camila Martins, da Escola Municipal Ensino Fundamental Rui Barbosa, a instituição tem uma política pública que potencializa as pessoas da zona rural. O foco já nos anos iniciais, do pré ao 5º ano, é voltado para o campo, com o acréscimo de estudos das ciências da natureza ao currículo.
 

Ivori e Camila, educadores do campo representantes do MST - Fotos Catiana de Medeiros.jpg
Ivori e Camila, educadores do campo
 Fotos: Catiana de Medeiros

Valorizar e buscar os conhecimentos da comunidade é a chave para integração. Martins chama de “coletivo educador”, ou seja, além dos professores, o conhecimento é extraído de tudo e de todos, merendeiras, pais, comunidade e cenário em volta dos educandos. Para ela é uma forma de inserir os estudantes à vida real e encontrar conhecimentos no seu entorno, que é a própria comunidade.

Por fim, o estudante da UFRGS e integrante do Levante Popular da Juventude, Arnado Drummond, falou sobre o Estágio Interdisciplinar de Vivência (EIV). O evento proporciona experiências em assentamento a alunos de diversas áreas do conhecimento em propriedades de agricultura familiar do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e assentamentos do MST e do Movimentos dos Atingidos por Barragens (MAB).
 

De acordo com Drummond, esta é uma forma dos estudantes se inserirem em espaços da sociedade. “É um projeto de transformação da sociedade, de pais, de nação, de mundo” concluiu.

Editado por Fernanda Alcântara