Espetáculo “O Longe” circula por áreas da reforma agrária no DF

Cia de teatro Burlesca apresenta peça inspirada em conto africano
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Espetáculo passou pela região de Planaltina e irá para São Sebastião e Brazlândia. Fotos: Thais Mallon

Por Janelson Ferreira
Da Página do MST

 

Desde abril, o espetáculo “O Longe”, da Companhia de teatro Burlesca, tem passado gratuitamente por escolas públicas rurais e espaços comunitários no Distrito Federal. A circulação acontece em parceria com a Cooperativa de Trabalho e Desenvolvimento da Agricultura Camponesa de Planaltina, de Brazlândia e de São Sebastião, com recursos do Fundo de Apoio à Cultura da Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

O espetáculo, que já passou pela região de Planaltina, ainda passará por São Sebastião e Brazlândia. Ao final de cada sessão é realizada uma roda de conversa com a equipe do projeto.
 

Com direção de Patrícia Barros e atuação de Julie Wetzel e Lyvian Sena, O Longe parte do conto Safári Definitivo, de Nadine Gordimer. Nele, sobreviventes de uma família moçambicana têm sua fuga para um campo de refugiados narrada pela perspectiva de uma menina. Soma-se a esta situação o olhar criativo da Companhia sobre os muitos refúgios a que estamos sujeitos. A história é contada a partir de linguagens múltiplas e de forma não linear sendo o espectador responsável por sua leitura.
 

O Longe estreou em janeiro de 2017, realizando temporada na Sala Conchita, localizado no Teatro Dulcina, importante espaço cultural de Brasília. Já circulou em escolas públicas, participando de eventos como a 25ª Mostra Dulcina e o Seminário Tempo comunidade do Território Kalunga, em Cavalcante-GO, entre outros.
 

Na construção de sua narrativa, O Longe, usa a trajetória de duas personagens do conto somada a própria trajetória da companhia, fazendo com que, a partir daí, fossem entendendo que, por mais particulares que sejam, estas são trajetórias “comuns”.
 

“Somos e estamos com as mulheres de Nadine, com as mulheres camponesas, com Marielle Franco, com Margarida Alves, com as mulheres nordestinas, com as mulheres de Mia Couto, com as mulheres de Chimamanda, com as mulheres de luta, com as mães daqui e de lá, com as Mães de Maio, com as avós da Praça de maio, com as refugiadas, as exiladas, com as trabalhadoras, com as retirantes, com as mulheres de países periféricos”, afirmam as integrantes da Companhia. Eles destacaram ainda que retratam estes espaços “onde há um passado comum de povo colonizado, um presente de luta, e a vontade de um futuro onde haja dignidade para todos”.

Além disso, várias outras referências de diferentes linguagens também fizeram  parte do processo criativo que durou mais de seis meses, como textos de Zygmunt Bauman, fotografias de Sebastião Salgado, músicas de GOG, pinturas de Paula Rego e poesia de Vinícius Borba.
 

Sobre o processo de criação, a diretora Patrícia Barros comenta que “antes de tudo é importante dizer que, na verdade, é um trabalho colaborativo, ou uma criação coletiva. Não há um dono, o papel da direção foi ser uma provocadora e aproveitadora do material que as atrizes apresentaram, e o mesmo vale para a dramaturgia, sempre trabalhando com improviso a partir de questões para serem respondidas em cena”.
 

Burlesca trabalha em nova peça sobre a vida de Margarida Alves e Roseli Nunes
 

Desde o início deste ano, a Cia está trabalhando em uma nova peça, que buscará contar a história de duas lutadoras históricas do Brasil: Roseli Nunes e Margarida Alves. Com o projeto, intitulado “Guerreiras de ponta a ponta do Brasil”, a Burlesca já realizou pesquisas em assentamentos e acampamentos do Rio Grande do Sul, onde viveu Roseli, e viajou até à Paraíba para conhecer mais sobre Margarida Alves.
 

*Editado por Fernanda Alcântara