Você sabe de onde vem o alimento que consome?

Discussão sobre alimentação saudável permeia o Seminário Terra e Território: Diversidade e Lutas
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Feiras orgânicas são alternativa para unir trabalhadores do campo e da cidade / Foto: Rica Retamal

Por Mayara Paixão e Katarine Flor
Do Brasil de Fato

 

É comum que as pessoas que vivem nas cidades dediquem alguns minutos da semana para ir à feira comprar frutas, verduras e legumes. Mas de onde vem essa comida e quais são as condições de trabalho de quem a produz? Estes são questionamentos que deveriam fazer parte do dia a dia de todo consumidor. E eles estão presentes no Seminário Terra e Território: Diversidade e Lutas, que acontece entre esta quinta-feira (7) e sábado (8), na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP).
 

Para Glenn Makuta, articulador do movimento Slow Food, a partir do momento que o trabalhador se informa sobre a trajetória do alimento que chega à sua mesa, ele se torna mais do que um mero consumidor. “Os consumidores são coprodutores, porque são cúmplices de um modelo de produção e de trabalho que financiam a partir das suas escolhas. É importante que se conheça quem produz seu alimento”, explica.
 

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 Glenn Makuta, do movimento Slow Food
Foto: José Eduardo Bernardes/Brasil de Fato

Há quase 20 anos no Brasil, o Slow Food começou na Itália e possui cerca de 60 núcleos pelo país. Nestas duas décadas, tem buscado exemplos e alianças junto aos movimentos populares do campo, que produzem o que chamam de “comida de verdade”: sem agrotóxicos, produzida de forma agroecológica e sem exploração do trabalho.

“São relações sociais também que são restabelecidas: o vínculo com quem produz seu alimento volta. Você consegue reestabelecer uma relação de confiança”, defende Makuta que também é membro da Aliança pela Alimentação Adequada e Saudável. Um exemplo da aproximação entre consumidor e produtor, segundo ele, está nas feiras de produtores e camponeses.
 

Durante os mais de 20 anos de existência, o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) tem usado as feiras livres como a principal forma de levar sua produção para o meio urbano, como conta Rafaela Alves, da direção nacional do movimento.
 

“Ao longo da história, o MPA tem buscado desenvolver as mais diversas formas de produzir alimento, mas com esse jeito de produzir histórico dos camponeses, de fazer com que esse alimento seja saudável, agroecológico, e chegue na mesa de todo brasileiro, e que não seja só um alimento de nós para nós mesmos”, explica.
 

Para a agricultora, a alimentação é uma forma de vínculo, que tem a capacidade de aproximar os trabalhadores do campo e os da cidade. “O alimento, para nós, é esse símbolo de aliança e compromisso com a vida e pelo dever histórico que temos de defender os nossos direitos e a vida onde quer que a gente esteja, seja no território urbano ou no camponês. É pelo sonho de transformação que nos move.”
 

De acordo com informações do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), existem mais de 800 feiras orgânicas distribuídas pelo país, sendo a região Sudeste a que concentra a maioria.
 

Resgate da cultura alimentar
 

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Rafaela Alves é do Movimento dos Pequenos Agricultores
Foto: José Eduardo Bernardes/Brasil de Fato

Glenn Makuta, do Slow Food, argumenta que também é preciso pensar nas consequências do modelo de agronegócio e da produção em larga escala para o meio ambiente e para a cultura alimentar brasileira. A valorização dos alimentos ultraprocessados e transgênicos, produzidos por grandes corporações, tem colocado em segundo lugar os alimentos in natura e orgânicos.

“A forma como as empresas se apropriaram de todos os recursos, inclusive da alimentação, foi aos poucos minando a nossa soberania. Antigamente, se recorrermos às avós e bisavós, elas pegavam uma galinha do quintal e preparavam aproveitando todas as partes dela. Aos poucos esse modelo foi sendo terceirizado”, diz.
 

Para transformar essa realidade, Makuta defende a democratização da comida de verdade. A conscientização da sociedade sobre a importância de se mobilizar por políticas voltadas para a produção agroecológica, como é o caso da reforma agrária, seria essencial neste sentido.
 

“Para que as pessoas saibam, se informem e se apropriem para que possam fazer as melhores opções e fomentar quem está alinhado a isso. Por isso mesmo comer é um ato político. A gente precisa mudar de um modelo que fomenta o agronegócio, a violação de direitos e a tomada de territórios alheios para outro modelo mais virtuoso e possível através da agroecologia e da economia solidária”, afirma Makuta.
 

Edição: Vivian Fernandes / Brasil de Fato