Juventude camponesa: “Estamos aqui!”
Por Wesley Lima*
Da Página do MST
Cerca de 18 mil delegados participam do 57º Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune), no Ginásio Nilson Nelson, em Brasília.
O Conune – que começou na noite da última quarta-feira (10) e segue até domingo (14) -, reúne diversos debates acerca da educação pública; segurança e violência policial; mulheres e política; ensino privado; a organização histórica do movimento estudantil; comunicação e conjuntura; políticas públicas e os retrocessos promovidos pelo atual governo. Além disso, estão programadas atividades culturais, como o Festival da Democracia.
Confira a programação do Festival aqui;
“E a Juventude do Campo? Presente!”. Esse tem sido o grito de ordem de jovens estudantes do campo, ligados a movimentos e organizações populares, como o MST, que também participam do Conune com o objetivo de fortalecer o espaço e ampliar as articulações em torno da luta promovida pela juventude na cidade.
Durante a abertura do evento evidenciou-se os desafios colocados para o conjunto de delegados e que as transformações necessárias devem ser feitas nas ruas, garantindo o acesso à educação para todas e todos. Diante desse cenário, os cortes orçamentários promovidos pelo governo Bolsonaro (PSL), especialmente na pasta da educação, foram amplamente repudiados.
A educação no campo e na cidade correm perigo
O governo efetuou, no total, um bloqueio de R$ 7,4 bilhões sobre todo o Orçamento de 2019 do Ministério da Educação, que é de R$ 149 bilhões e engloba despesas para custear todos os níveis educacionais, desde a básica ao ensino superior. Desse total, cerca de R$ 2 bilhões são ligados a instituições federais de ensino superior. O restante, de R$ 5,4 bilhões, atingiu outras áreas que ainda não foram detalhadas pelo ministério.
O Orçamento federal é sempre definido no ano anterior com base em diversas premissas, como por exemplo, o crescimento da economia do país, perspectiva de arrecadação e a cotação do dólar. Na prática, os cortes afetam de maneira direta alguns auxílios, bolsas nas universidades, entre outros.
“Se para quem mora na cidade isso gera um impacto grande, imagina para o jovem estudante que mora no campo?”, pergunta Paulo de Lima (26), morador da comunidade de Paus Branco, na Paraíba, e integrante da Pastoral da Juventude Rural (PJR).
Lima participa do Conune e destaca que é fundamental a juventude camponesa pautar o debate da educação do campo. “A gente precisa garantir que os povos que foram marginalizados e historicamente excluídos, como os camponeses no Brasil, possam ter suas reivindicações garantidas neste espaço [Conune] que é bem plural. Aqui a gente tem as condições de ficar discutindo sobre todos os problemas, inclusive sobre as políticas voltadas para educação com um olhar sobre o todo”.
Ele ressalta que: “A juventude do campo necessita de políticas que sejam essências, não basta entrar na universidade. É importante debater também a permanência. Ainda é no campo que está o maior índice de miséria e de pobreza. Quando essa juventude chega no campo é necessário que tenha programas que garantam a sua permanência e no acesso a educação, para que essa juventude possa continuar dentro da universidade e no campo. Hoje, isso é um grande desafio”.
Segundo Lima, todos esses cortes dentro das universidades impactam diretamente a garantia da alimentação nos Restaurantes Universitários (RU) e nas bolsas de auxílio para moradia e estudo. “Essas questões tem dificultado que a juventude possa permanecer estudando na universidade”, afirma.
Nesse mesmo sentido, Fabíola Amaro (28), uma Jovem Sem Terra, acampada no município de Santa Maria no sertão pernambucano, destaca que a luta em defesa da educação necessita de unidade entre o campo e a cidade.
Sobre sua inserção na luta do MST, ela conta que sua militância começou logo no início de sua juventude e junto com as famílias do acampamento contribuiu com o trabalho de base na região. Após uma grande ocupação de terra fez alguns cursos de formação, como o Curso Pé no Chão, que acontece anualmente em Pernambuco. Lembra também que começou a contribuir em diversos setores dentro do Movimento e assumiu outras tarefas, como a participação numa Brigada Internacional no Haiti.
Hoje, Amaro mora em Recife e tem contribuído com a construção do Congresso do Povo, compondo umas das brigadas de mobilização no estado, com a Universidade Popular Gregório Bezerra e o Cineclube Movimenta. A partir dessa trajetória dentro do MST, pontua que o campo e a cidade estão atrelados. “Nada e ninguém vai nos impedir de lutar pelos nossos direitos, pela nossa educação e isso só é possível se fizermos ações conjuntas”.
Ainda sobre os cortes e a perca de direitos, Amaro e Lima, afirmam que é necessário ampliar as lutas em defesa do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) e contra o fechamento de escolas no campo.
Em entrevista para Página do MST, no mês de maio deste ano, Luana Pommé, do coletivo de educação do MST, lembrou que os cortes no orçamento da educação atingem diretamente as escolas do campo, desde o ensino básico até o ensino superior.
“O fechamento de 38 mil escolas do campo é um dado alarmante, assim como o cancelamento de Licenciaturas em Educação do Campo e os cortes no orçamento do Pronera também permanecem como desafios. Talvez um dos grandes desafios seja manter as escolas básicas conquistadas com muita luta”, pontuou
Ela acrescentou também que é importante a juventude, estudantes, trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade construírem unidade para pautar a educação e o direito à aposentadoria.
Pela vida e por direitos!
De olho nesses desafios, a delegada e integrante do Coletivo Nacional de Juventude do MST, Luz Helena (24), acredita que o Conune além de representar uma grande expressão da juventude estudante da classe trabalhadora, que hoje ocupou as universidades, é um espaço que acumula forças para construção de um Projeto Popular para o país. Além disso anuncia a realização da 10 Jornada Nacional da Juventude Sem Terra, que
este ano traz como lema “Juventude em Luta pela Vida e por Direitos!”, conectando a pauta da educação e contra os retrocessos, já denunciados com o Conune.
A Jornada inicia seu processo de mobilização neste mês e pretende realizar ações durante todo agosto de Norte a Sul do país. Ela diz que esse ano, assim como nos anteriores, a Jornada precisa ser ampla e construída com todas as forças da classe trabalhadora.
“Compreendemos que os principais ataques contra nossos direitos, como a educação, e o extermínio da juventude estão na ordem do dia. A gente sabe a realidade que a nossa juventude vive e por isso defendemos a luta por direitos.”
E argumenta: “Nosso lema está ligado a nossa conjuntura e a nossa tática da resistência ativa, construindo unidade com os demais setores da classe para construir um processo de retaguarda e de resistência na defesa da Reforma Agrária Popular, contra a criminalização dos movimentos sociais e trazendo a pauta política para ordem do dia”, conclui.
Fabíola Amaro, diante da realização da Jornada, adianta que em Pernambuco serão realizadas várias atividades e, a principal delas, será o Encontro Estadual da Juventude Sem Terra, com mais de 200 jovens.
Vem muita luta por aí!
Durante os cinco dias de atividade, o Conune pretende ainda garantir de maneira articulada a luta em defesa da educação pública e de qualidade para todos e todas.
Nesse sentido, acontecerão nos próximos dias dois atos políticos e uma grande manifestação. Além disso, está sendo construída e ampliada, a partir do evento, a campanha ”Mais livros e menos armas“.
Assista aqui o vídeo “Análise de Conjuntura” com Jessy Dayane, do Levante Popular da Juventude e Vice-Presidenta da UNE, sobre os principais desafios apontados para realização do Conune.
*Com a colaboração de Hony Riquison, do setor de comunicação do MST
**Editado por Maura Silva