“Não é com cortes na educação que vamos conseguir superar os desafios”
Por Fernanda Alcântara
Da Página do MST
O 57º Congresso da União Nacional do Estudantes (Conune) acontece desde a última quarta (10) e já pode ser considerado um dos eventos mais representativos do ano na discussão sobre educação e perspectivas diante da atual situação política do país.
Entre mesas, palestras e eleições, o Congresso é um espaço em que os estudantes do Brasil inteiro param para entender os desafios e rumos da UNE, como sujeito importante na luta pela educação. Esse ano, a edição do encontro ocorre em Brasília e conta com cerca de 15 mil participantes.
Em entrevista para Página do MST, Élida Elena, diretora de movimentos sociais da UNE, aponta os avanços e desafios que os estudantes possuem na luta pela educação pública e de qualidade.
Acompanhe:
O que é o Conune e como ele se coloca no processo histórico de lutas pelos direitos dos estudantes?
O Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune) reúne milhares de estudantes do Brasil inteiro. Eles passam meses realizando eleições de representantes para virem participar aqui do congresso, reforçando o processo democrático dentro das escolas, institutos e universidades, com seus Centros Acadêmicos, com seus DCEs e outros espaços. Assim, o Congresso é um momento de debate, de aprovação de resoluções e principalmente da linha política que a entidade vai seguir nos próximos dois anos, a partir da eleição da nova diretoria executiva da UNE.
Este ano, o Congresso é realizado após as manifestações dos dias 15 e 30 de Maio, que foram protagonizadas pela juventude e que representaram mobilizações de massa muito importantes no último período, o que coloca o evento em um patamar muito diferenciado na atual conjuntura.
Nesta perspectiva conjuntural, quais são os principais desafios que a próxima gestão da UNE deve enfrentar?
É significativo o evento acontecer este ano em Brasília, que é palco de muitas lutas e onde está sendo aprovada a Reforma da Previdência. Tomamos as ruas da capital federal para deixar nítido que a juventude não vai aceitar estes retrocessos; que somos contra os cortes na educação; e que vamos lutar contra eles. Toda esta movimentação faz parte de um processo de muito debate, muita manifestação, organização e muita luta também.
Neste momento histórico em que estamos, o Movimento Estudantil tem o papel de contribuir neste processo de resistência do próximo período. Temos que construir muita unidade para conseguir enfrentar essa agenda de cortes, retrocessos e de ataque direto à nossa Soberania Nacional.
Os cortes na educação, como a PEC dos gastos, pesam muito nos desafios da UNE. Como esta luta tem sido realizada?
Desde 2016 o Brasil tem sofrido diariamente ataques à educação do país, e de um ponto de vista mais amplo, às áreas sociais como um todo tem sofrido. A PEC 95 significou cortes na educação, área fundamental para o desenvolvimento econômico e social do país, como a geração de empregos. Acreditamos que o debate do financiamento estudantil é importante nesta luta para expandir e ampliar de fato o acesso às universidades. E não é com cortes na educação que vamos conseguir superar estes desafios e avançar como sociedade.
Então a partir da discussão da PEC, a UNE tem organizado diversas ocupações de universidades contra essas medidas, pois elas são destrutivas para o país. O que vemos em 2019 são mais cortes, na intenção de tirar direitos essenciais da maior parte da população. Mais recentemente temos vivenciado novas investidas do governo Bolsonaro, aprofundando o que já vinha desde a PEC 95, de 2016.
Saiba mais sobre os cortes na Educação e seus impactos nos direitos de estudantes do campo e da cidade aqui.
Quais as perspectivas para os próximos anos na Educação no Brasil?
Além do corte de investimentos e financiamentos, este governo apresenta questões que limitam o avanço da educação, colocando também uma disputa ideológica nesta área. O que estamos enfrentando na sociedade é o descrédito sobre o papel da universidade e sobre a função da escola e do professor.
Por isso, sabemos que é [e será] uma luta difícil. Vários estudantes estão indo para as ruas com resistência e unidade para defender esse patrimônio, que é o direito à educação. O que sempre foi muito exclusivo para as elites brasileiras agora a classe trabalhadora tem acesso, então não vamos permitir que a juventude da classe trabalhadora deixe a universidade. A UNE tem construído um conjunto de ações para mobilizar e debater sobre tudo isso. Vamos disputar a sociedade sobre o que é a universidade e sua importância para o Brasil como um todo.
*Editado por Wesley Lima