Mulheres organizam produção de alimentos saudáveis no RS
Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST
Mulheres Sem Terra da região metropolitana de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, se reuniram nesta quinta-feira (18) para um dia de integração, estudos, oficinas e planejamento. As atividades foram realizadas na sede da Cooperativa dos Trabalhadores Assentados da Região de Porto Alegre (Cootap), localizada no assentamento Integração Gaúcha, em Eldorado do Sul.
O encontro envolveu 75 assentadas dos municípios de Charqueadas, São Jerônimo, Tapes, Viamão, Nova Santa Rita e Eldorado do Sul. Conforme Lurdes Ribeiro, coordenadora do setor de gênero do MST na região, o objetivo foi analisar os impactos do atual cenário político brasileiro para as mulheres e motivá-las a se organizarem através de um planejamento estratégico. “Nós queremos organizar cada vez mais a nossa produção orgânica, formar mais grupos de mulheres e fortalecer a nossa participação em feiras”, explicou.
Antes da abertura oficial, as camponesas tomaram um café da manhã coletivo, com direito a diversos tipos de bolachas e bolinhos. Todos os alimentos foram produzidos por elas em seus assentamentos, inclusive o açúcar mascavo, que foi utilizado para adoçar o café. Logo após ocorreu uma intervenção teatral e atividades de relaxamento, orientadas pela irmã Elda Broilo. Em seguida, Lurdes e a assistente social Sandra Rodrigues deram boas-vindas ao encontro.
O estudo sobre a situação política do Brasil e seus reflexos na vida das mulheres foi coordenado por Salete Carollo e Silvia Reis Marques, dirigentes do setor de gênero do MST no RS. Elas apresentaram um vídeo de João Pedro Stédile, da coordenação nacional do movimento, que trata como a crise do capital está sendo descontada nos trabalhadores, principalmente por meio da reforma da previdência.
A proposta de Bolsonaro para a aposentadoria norteou dezenas de manifestações. Mulheres destacaram que a reforma vai tirar dos mais pobres o direito de se aposentar e que somente o povo nas ruas é capaz de barrar essa ofensiva. “Esse projeto é perverso contra as nossas vidas, os nossos futuros. Temos que ir pra rua, fazer luta, não tem outro caminho. A gente precisa conscientizar o povo que o projeto político que está aí é de morte”, destacou Vanessa Borges, do setor de formação do MST.
Salete reforçou que é preciso se mobilizar em todos os espaços, como em grupos de mães e de mulheres, e até mesmo nas redes sociais para conscientizar a população a respeito da proposta, já que ela faz parte da luta de classes. Para a assentada, no conjunto dos trabalhadores, os Sem Terra que já conquistaram seus territórios ainda se encontram numa situação menos complicada.
“Nós podemos dizer que estamos num espaço privilegiado. Quem de nós acorda preocupada com onde vai arranjar comida? E com onde vai trabalhar? Nós fizemos parte de uma organização que nos conduziu até aqui com terra, trabalho, casa e fartura de comida”, ressaltou.
Silvia acrescentou que o MST está num processo de resistência ativa e que a luta por vida digna, inclusive a quem ainda vive em acampamentos, vai continuar. “Teremos que fazer muita luta para defender nossos territórios, em defesa da Reforma Agrária e da produção de alimentos saudáveis. Temos que continuar produzindo com base na agroecologia, porque plantar nossa horta, nossa fruta, nosso amendoim, nosso cantinho de feijão e poder vender na feira é algo grandioso. E isso é coisa pra nós, mulheres Sem Terra”, apontou.
Ainda no encontro, as assentadas participaram de uma oficinal de estêncil, com o intuito de aprenderem a técnica para que se torne mais uma opção de renda no campo. As aplicações em camisetas foram uma imagem da pintora mexicana e feminista Frida Kahlo e a ilustração “Ninguém solta a mão de ninguém”, da artista e tatuadora mineira Thereza Nardelli.
*Editado por Fernanda Alcântara