Sofremos uma derrota gravíssima na previdência, afirma Stedile

Trabalhadores precarizados estão lutando pela sobrevivência e não conseguem visualizar daqui 30 anos
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“Foram retalhando a reforma, mas mantiveram o essencial para eles, que é a previdência privada”, afirma Stedile / Rafael Stedile

Por Frédi Vaconcelos
Do Brasil de Fato 

 

Em entrevista exclusiva ao Brasil de Fato Paraná, João Pedro Stedile, militante da reforma agrária e da Frente Brasil Popular, analisa a aprovação da reforma da previdência em primeiro turno na Câmara dos Deputados. 
 

Brasil de Fato Paraná – Um dos principais temas deste começo de governo Bolsonaro foi a reforma da previdência. Como você avalia o que aconteceu até agora? 
 

Stedile – Primeiro, no tema da previdência nós sofremos uma derrota gravíssima porque não conseguimos ampliar entre os deputados o número de votos necessário. Diversos setores que no movimento popular se articulam conosco, como a Força Sindical, lá no parlamento os deputados ligados ao partido Solidariedade (da Força) votaram a favor. 
 

Segundo, o governo foi hábil, foi retalhando as propostas, ficou uma proposta meio “transgênica”, e isso foi também debilitando uma oposição mais sistemática. Mas o jogo lá do parlamento é sempre muito difícil, tem mil-e-um interesses pessoais. E influenciou o governo ter liberado R$ 40 milhões por deputado, isso é uma vergonha. Inclusive, como não tinha dinheiro no orçamento, remanejou até dinheiro que era para o Mais Médicos. Tirou de um programa que ia direto para os mais pobres para comprar deputados para votar contra os mais pobres.
 

BdFPR – Sem contar os interesses dos bancos e instituições financeiras que bancam muitos deputados… 
 

Stedile – Foram retalhando a reforma, mas mantiveram o essencial para eles, que é a previdência privada. Já tem banco fazendo propaganda nos grandes jornais. A burguesia já criando fundos de previdência privada para pegar poupança daquelas categorias que têm salário um pouquinho melhor. 
 

Agora o principal problema foi do lado de cá, porque não conseguimos mobilizar a classe trabalhadora. As centrais marcaram greve, mas ela não aconteceu na intensidade necessária. E o principal fator é que a classe trabalhadora está tão derrotada com o golpe e com a crise econômica que aquelas camadas mais pobres, e que vão mais ser afetadas pela reforma da previdência, estão mais preocupadas com o emprego. Não visualizam daqui 30 anos, precisam resolver o hoje, o aluguel, a feira. E, segundo, o movimento sindical não tem mais capacidade de chegar àquele trabalhador precarizado, terceirizado, que hoje é maioria. 
 

*Editado por Laís Melo/ Brasil de Fato