O internacionalismo é parte da formação histórica da juventude do MST

Artigo destaca entrelaçamento da juventude camponesa e a solidariedade internacional
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Foto: Divulgação MST

Por Paulo Henrique Campos*
Da Página do MST

 

 “O jovem comunista não deve se limitar
as fronteiras de um território” (Che Guevara)

Quando o MST surge na década de 80, já nasce profundamente internacionalista. Retiramos historicamente nossas lições internacionalistas da teoria revolucionaria marxista que nos ensina a necessidade da unidade e solidariedade entre os povos de todo mundo. O internacionalismo e a integração entre os povos são uma condição vital para a construção de uma nova sociedade: o Socialismo.
 

Também aprendemos com as lições das próprias experiências revolucionárias ocorridas em todo mundo e com as diversas lutas de resistências. Da Revolução Russa de 1917, que foi, durante anos, o farol para a classe trabalhadora internacional e que ainda nos dias atuais carregamos seu legado. Lições da Revolução Cubana, com aqueles jovens liderados por Fidel e Che que ousaram com rebeldia enfrentar o imperialismo e retornar para o povo o destino de conduzir os rumos da pequena ilha caribenha.
 

Lições dos jovens da Nicarágua com a Revolução Sandinista, que ousaram tomar o poder, se dispondo também a desenvolver um longo processo de alfabetização do povo. Com a Revolução Bolivariana de Venezuela, com a liderança de um ainda jovem militar chamado Hugo Chávez, se insurgiu dentro do exército forjando uma longa batalha para construir as bases de uma revolução que se inicia em sua eleição no ano de 1999 e continua viva e resistente até os dias atuais.

Mas também aprendemos com diversos processos de resistências populares, como o povo palestino na luta por território livre. Da luta das mulheres curdas, com as lutas do povo negro africano. Com a resistência histórica contra as invasões imperialistas do povo haitiano. Com as diversas resistências dos povos latino-americanos, sobretudo os indígenas, e também com as próprias lutas do povo brasileiro.  
 

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Foto: Matheus Alves

Quais as lições dessas resistências populares e revoluções? Que somente o povo em luta poderá conduzir seu próprio destino. Que para as organizações da classe trabalhadora é exigido para a construção de um processo revolucionário: formação, agitação e propaganda para elevar o nível de consciência do povo, trabalho de base, unidade e mobilização popular.
 

Assim, a juventude sempre esteve presente e sendo sujeito político fundamental para os processos revolucionários. Como também sempre foi internacionalista e solidaria com os povos de todo mundo, Che Guevara expressa esse gesto de amor pelo povo.  
 

O Movimento Sem Terra, a partir dessas experiências concretas da classe trabalhadora vai desenvolver sua práxis (teria e prática) política internacionalista. A primeira é por nossa leitura política sobre a realidade da luta de classes que se manifesta em nível internacional. O capitalismo é um modo de produção que domina em todo mundo, logo, pensar uma alternativa de sociedade desde a perspectiva dos trabalhadores e trabalhadoras exige ser pensada e planejada também em todo mundo.
 

Por isso, buscamos ao decorrer de nossa trajetória histórica desenvolver uma prática concreta de internacionalismo, com as experiências de diversas brigadas internacionalistas, onde enviamos militantes para viver a realidade de um povo e desenvolver a prática da solidariedade. Também construímos vários intercâmbios com organizações em todo mundo, sejam elas campesinas ou urbanas.
 

Assim como contribuímos na construção de diversas iniciativas de articulações políticas de unidade dos trabalhadores e trabalhadoras, como a Via Campesina (articulação dos camponeses e camponesas em nível internacional), a Alba Movimentos na América Latina e Caribe e agora, mais recente, com a Assembleia Internacional dos Povos.
 

Desenvolvemos certamente uma das mais belas experiências de formação da classe trabalhadora em nível internacional: a construção da Escola Nacional Florestan Fernandes, a Enff.
 

O internacionalismo está presente também em nossa simbologia, nas músicas, poesias, na bandeira cujo facão ultrapassa propositalmente o mapa do Brasil.
 

O Movimento construiu uma pedagogia de que a formação política de um militante deve combinar diversas formas da práxis política.  A primeira delas, que é a essência do Movimento, é o acampamento, que são por eles mesmos espaços de formação e resistência. Já a tarefa de participar e conduzir uma ocupação de terra numa madrugada junto aos camponeses Sem Terra, costumamos dizer que é o batizado de um militante do MST.
 

No entanto, apenas ocupar terra ou a luta é insuficiente para o processo de formação de quadros políticos. E assim desenvolvemos outros processos de formação, como a construção de uma escola de formação política, os centros de formação e as nossas escolas.
 

Também desenvolvemos como parte da formação e projeção de quadros enviar militantes para missões internacionalistas para estudar e vivenciar as experiências históricas do povo. Nossa concepção é que a formação de nossos quadros políticos demoram anos e por isso deve combinar diversos processos de formação da consciência.
 

A história da Juventude do MST é a história do próprio movimento. O processo histórico da formação da juventude no Movimento Sem Terra tem alguns marcos históricos que são parte da própria história do Movimento, desde a construção da organização, se dispondo a colocar a mochila nas costas e construir o MST em todo o país.
 

Outro período histórico foi através das ações de educação como alfabetização do povo Sem Terra e lutar por escolas.
 

Também na construção unitária de formação e articulação com o movimento estudantil, com a juventude da Via Campesina e o Levante Popular da Juventude.
 

Nossa juventude sempre esteve envolvida nas articulações internacionais com a juventude da classe trabalhadora, seja através dos acampamentos de juventude da Via Campesina, com a participação nos intercâmbios, contribuindo com a Articulação Internacional da Juventude em Luta. Ou seja, o internacionalismo também é parte da formação histórica da Juventude Sem Terra.
 

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Por que a Juventude do MST deve realizar uma missão internacionalista?

Certamente porque é uma das tarefas de maior formação política e humana para um jovem militante. É um encontro com a realidade profunda de um povo, com sua cultura, lutas, desafios e contradições. É uma pratica política mais efetiva e concreta do internacionalismo militante.
 

É um aprendizado de vida, uma missão que nos torna vez mais humano e humana. Porque se aprende a ter mais amor pelas causas de um povo. Porque lhe torna cada vez mais convicto de que as lutas nacionais, embora tenham sua importância, são insuficientes para a libertação da classe trabalhadora.
 

Porque torna concreto a narrativa e mensagem da tarefa de que a juventude precisa ser essencialmente revolucionária. Assim, portanto, construímos e continuaremos construindo uma cultura internacionalista da qual a juventude Sem Terra é parte essencial dessa construção.

Leia mais: “Pela vida e por direitos”: Jornada da Juventude defende a educação pública

*Paulo Henrique Campos é militante do MST da Brigada Internacionalista Jean Jacques Dessalines, no Haiti.