Quais os desafios da Juventude Sem Terra no combate ao racismo?

Reflexões sobre as relações raciais no Brasil e o papel dos jovens neste contexto

Os desafios da Juventude Sem Terra no combate ao racismo

Por Jobson Lopes*
Da Página do MST

No dia 13 de maio de 2019 completaram-se exatos 131 anos que a escravatura no Brasil foi abolida.  O mais preocupante, entretanto, é que a escravidão deixou um embrião que conhecemos hoje como racismo, que cultiva as ideias escravocratas, com armas diferentes.

O povo preto foi “liberto”, mas não foi inserido na sociedade. Pelo contrário, foram jogados às traças, sem uma política de inclusão social. As instituições da época se eximiram de qualquer responsabilidade que pudessem oferecer o mínimo de alento ou segurança social. O dia 14 de maio de 1888 foi um dia atípico: sem saber pra onde ir e o que fazer, o povo preto se viu desamparado, perdido, sem saber que rumo tomar da vida.

Zanzei zonzo em todas as zonas da grande agonia / Um dia com fome, no outro sem o que comer/ Sem nome, sem identidade, sem fotografia / O mundo me olhava, mas ninguém queria me ver”, o trecho da música “14 de maio”, de Lazzo Matumbi, retrata uma pequena parcela do que o povo negro teve que passar após a “abolição”.

Assim como o racismo é herança da escravidão, a proliferação das ideias racistas não acontece por acaso, e ganham “legitimidade” através da classe dominante e do Estado.

O Estado tem fundamental importância na propagação dessas ideias, e isso acontece na falta de políticas para inserção do povo negro na sociedade. Ele se exime quando não iguala o ensino, as oportunidades e os diversos direitos, quando nega a cultura negra e em tantas outras situações. A classe dominante aproveita essas brechas do Estado para promover suas ideologias racistas, que se reflete e se materializa na vida do povo preto e da juventude preta.

Hoje o abismo social é sentido na mesma intensidade ou num grau ainda maior, imagine ser jovem, do campo e negro, sentir o peso do racismo em três níveis sociais, esse é o legado da e do jovem do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. Boa parte da juventude do MST é composta por negras e negros e todos sofrem com o racismo em todas as esferas.

Racismo é a ferramenta usada para oprimir e inferiorizar, na tentativa de acabar culturalmente com um povo, deslegitimar uma existência. Muito usada nos dias de hoje, o racismo é usado como arma psicológica e, infelizmente, tem feito um estrago descomunal. Sem contar com o agravante socioeconômico que veio como herança dos tempos escravistas que tem influência direta na educação, trabalho e sociabilidade cultural.
 

 A juventude tem travado uma luta ferrenha culturalmente, contra o racismo em suas mais variadas formas.
 

 A juventude na luta ruma à transformação social

Nós enquanto Juventude Sem Terra, herdamos a carga histórica de uma sociedade racista e, por tanto, temos o dever histórico de lutar contra.

Estamos no bojo da luta social, somos jovens do campo, com suas variadas raças e etnias, mas unidos em um propósito: contribuir na transformação da sociedade e pensar o novo homem e nova mulher, com valores humanistas e antirracistas.

Os negros foram os primeiros Sem Terra desse país, e logo após a abolição, essa ideia se tornou concreta e hoje, como ainda não teve uma lei de distribuição de terra, nós permanecemos no mesmo patamar.

Um dos objetivos e pilares do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra é a transformação social e não se pode ter uma sociedade transformada tendo o racismo estrutura fundante da sociedade, por isso que a Juventude do MST se dispõe e se coloca em luta.

*Joabson integra o Setor de Comunicação e o Coletivo de Juventude do MST no estado da Bahia
**Editado por Fernanda Alcântara