MST do Paraná realiza curso sobre método cubano de alfabetização de jovens e adultos

Estado teve crescimento de 13,47% do analfabetismo entre 2016 e 2018, e está na contramão dos índices nacionais
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O curso durou cinco dias e reuniu cerca de 30 pessoas, em sua maioria mulheres./ Foto: Juliana Barbosa

Por Setor de Comunicação e Cultura do MST-PR

O Dia Internacional da Alfabetização foi comemorado em 8 de setembro – data criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) para incentivar o letramento. Um dia antes, no dia 7, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) do Paraná concluiu o Curso de Formação de Formadores no Método “Sim, eu Posso”, em Curitiba. 

A formação ocorreu no Espaço Marielle Vive de Formação e Cultura, que fica a 70 metros da Superintendência da Polícia Federal, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é mantido preso político. O Espaço integra a Vigília Lula Livre, mantida desde a prisão de Lula, em abril de 2018.

O curso durou cinco dias e reuniu cerca de 30 pessoas, em sua maioria mulheres, de diferentes regiões do Paraná, vindas de assentamentos, acampamentos e também de Curitiba. O objetivo do MST com a formação é fortalecer as iniciativas locais na Educação de Jovens e Adultos (EJA), para avançar na alfabetização de camponesas e camponeses, e também de moradores das periferias urbanas.
 

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Superar o analfabetismo estava entre as primeiras tarefas da Revolução Cubana./ Foto: Valmir Fernandes

A realização do curso ganha ainda mais relevância diante de dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Educação 2018 (Pnad Educação) divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em junho deste ano. O Paraná está na contramão dos índices nacionais de analfabetismo: entre 2016 e 2018, a taxa de analfabetos entre a pessoas com mais de 15 anos caiu em todo o país de 11,671 milhões para 11,253 milhões (418.306 a menos). Já o Paraná teve aumento de 401.510 para 454.491 (acréscimo de 13,47%).

Dainy Rita, integrante do Setor de Educação do MST e responsável pela frente de EJA, explica que processos de alfabetização com o método “Sim, eu posso” já foram realizados pelo Movimento em áreas da reforma agrária em Castro, Florestópolis e Porecatu. “A preocupação do MST com a alfabetização vem desde o início da construção do movimento. Com o curso a gente tem a ideia de dar continuidade tanto na região norte e também nas regiões urbanas aqui em Curitiba”.

MST assumiu o “Sim, eu posso” como parte das brigadas de alfabetização desde 2006. De lá para cá, mais de 50 mil pessoas já foram alfabetizadas em comunidades da reforma agrária, de assentamentos acampamentos, conforme explica Luana Pommé, do Coletivo Nacional de Educação do MST, que foi uma das formadoras do curso: “Nós compreendemos que a alfabetização feita por nós é também uma forma de pressão, de organização e de luta para que o Estado assuma essa tarefa”.

Fruto da solidariedade cubana, Nicarágua e Bolívia acessaram gratuitamente o método e superaram o analfabetismo. 

O que é o método “Sim, eu posso”

Superar o analfabetismo estava entre as primeiras tarefas da Revolução Cubana – movimento que derrubou o ditador Fulgencio Batista em 1º de janeiro de 1959 e iniciou o regime socialista, sob o comando do líder Fidel Castro. Cuba superou o analfabetismo em 1961, levando a alfabetização para lugares onde antes não chegava, a partir dos princípios do “Sim, eu posso”. 

Juliana Porolonizak, professora e pedagoga da Rede Estadual de Ensino que estudou o método em sua tese de doutorado, explica que o “Sim, eu posso” direciona para que o educando aprenda a ler e escrever no menor tempo possível. O educador parte de um roteiro pré-estabelecido, com 65 tele-aulas que dão o direcionamento para o trabalho em sala de aula, por isso, não há necessidade de formação acadêmica ou científica:

“Pode ser alguém da comunidade que tenha uma formação inicial na leitura e na escrita […]. Por não ser formal, por não estar na escola, possibilita que mais pessoas tenham acesso, se organizando na comunidade, nos bairros, inclusive nos espaços onde a escola não chega. Considerando o Brasil, onde o número de analfabetos chega a quase 11,3 milhões, a gente deve considerar essa forma organizativa”.

Para a pedagoga, o trabalho de alfabetização de jovens e adultos acaba muitas vezes se tornando cansativo e lento pela não adaptação didática do modelo que é utilizado com as crianças. “O “Sim, eu posso” faz uma contextualização para o adulto, pensando naquela pessoa que traz conhecimento que podem ser utilizados na formação, mas não utilizando uma linguagem infantilizada. Vai partir do contexto do sujeito. As palavras geradoras têm relação direta com a vida do trabalhador, seja urbano ou rural”, explica. 

 

Paulo Freire e a educação para a transformação

Além da metodologia cubana, a programação do curso também trouxe a formação sobre “Círculos de cultura”, método proposto por Paulo Freire na década de 1960. “Assumir a pedagogia de Paulo Freire é assumir uma pedagogia de transformação social. Por isso ele é tão combatido hoje em dia”, disse Elisiani Vitória Tiepolo, professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) campus Litoral que ministrou o conteúdo sobre o educador brasileiro. 

“No contexto em que a gente vive, em que o nosso grande educador brasileiro vem sofrendo os ataques mais absurdo, estar aqui o dia inteiro entorno do pensamento do Freire, além de ser um ato de resistência, um ato revolucionário, nos fortalece para continuar a luta por uma educação justa e solidária, capaz de transformar o mundo. Acho que saímos todos bem fortalecidos na luta pela educação”.

A programação do curso também contemplou temas como a conjuntura atual, a concepção de Educação e de EJA no MST, e sobre gênero e sexualidade. 

*Editado por Yuri Simeon