Manifesto de organizações populares sobre ameaça de intervenção militar na Venezuela

Ativação do TIAR “mancha a histórica tradição diplomática do Brasil de promover a paz e a integração dos povos”, diz manifesto

Do Diálogos do Sul

A Organização dos Estados Americanos (OEA) ativou o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) contra a Venezuela nesta quarta-feira (11). O governo de Jair Bolsonaro apresentou a proposta de resolução ao lado do colombiano Iván Duque e do oposicionista Juan Guaidó, protagonista da fracassada autoproclamação como presidente da Venezuela. 

Para organizações e movimentos populares brasileiros, a ação de Bolsonaro “mancha a histórica tradição diplomática do Brasil de promover a paz e a integração dos povos da região”.

As 20 entidades que assinam o manifesto, divulgado nesta quinta-feira (12), ressaltam que a medida se dá com justificativas ideológicas “que correspondem aos interesses dos EUA na região” e que colocam em risco muitas relações econômicas, sociais e políticas que o Brasil tem com a Venezuela”.

Confira a íntegra do documento:
 

MANIFESTO DE REPÚDIO À OEA E PELA PAZ NA VENEZUELA E NA AMÉRICA LATINA

O Comitê Brasileiro pela Paz na Venezuela repudia a resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA) para ativar o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR) contra o Estado Venezuelano, ocorrida neste último 11 de setembro. A resolução é uma evidente ameaça de intervenção militar estrangeira à Venezuela, tratando-se ao mesmo tempo de um atentado contra a soberania e autodeterminação do povo venezuelano, e de uma ameaça à paz e a integração dos povos da América Latina.

 
A proposta de resolução foi encabeçada pelos governos da Colômbia e do Brasil, em explícita articulação com o golpista fracassado venezuelano, Juán Guaidó, e com o governo dos Estados Unidos. Tais personagens recuperam este infame tratado – criado durante a guerra fria para facilitar intervenções militares na América Latina sob o pretexto ideológico de combate ao comunismo – para empreender mais uma tentativa golpista de desestabilizar e derrubar o governo legítimo de Nicolás Maduro, atentando frontalmente a Carta das Nações Unidas e os princípios da convivência pacífica, da não-intervenção e da autodeterminação dos povos, contidos em diversos tratados internacionais para resolução de controvérsias.

Ademais, o governo de Jair Bolsonaro mais uma vez mancha a histórica tradição diplomática do Brasil de promover a paz e a integração dos povos da região, e sob justificativas ideológicas, que correspondem aos interesses dos EUA na região, coloca em risco muitas relações econômicas, sociais e políticas que o Brasil tem com a Venezuela.

Nós, organizações membros do Comitê Brasileiro pela Paz na Venezuela e todos os que assinam este manifesto, manifestamos que:

– Defendemos a paz na Venezuela e em toda a América Latina;

– Defendemos a soberania e a autodeterminação do povo venezuelano;

– Repudiamos todas as ameaças de intervenção militar e desestabilização da paz na região;

– Repudiamos todas as sanções econômicas aplicadas à Venezuela, por parte do governo dos EUA;

– Repudiamos todas as tentativas de desestabilização política à Venezuela, por parte da oposição golpista venezuelana, do governo dos Estados Unidos, dos governos do Grupo de Lima, e de qualquer governo ou organismo internacional.
 

Reiteramos que os problemas da Venezuela devem ser resolvidos pelo povo venezuelano, por meios pacíficos e através de diálogo, neste sentido, apoiamos iniciativas de boa-fé com esse objetivo, como o processo de diálogo de Oslo.

São Paulo, 12 de setembro de 2019.

Assinam 

1.     Celso Amorim, diplomata e ex-chanceler brasileiro

2.     Gleisi Hoffman, presidenta do PT

3.     João Pedro Stedile, MST e Via Campesina

4.     Mônica Valente, secretária executiva do Foro de São Paulo e secretária de relações internacionais do PT

5.     Anisio Pires Rodríguez

6.     ABJD – Associação Brasileira de Juristas pela Democracia

7.     Associação Cultural José Martí Rio Grande do Sul

8.     APLB-Sindicato – Associação dos Professores Licenciados do Brasil

9.     Casa da Cultura Carlos Marighella

10.   CEBRAPAZ – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz

11.   Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé

12.   Centro Ruy Mauro Marini

13.   Coletivo Abrebrecha

14.   Coletivo Alvorada – MG

15.   Coletivo Feminista Classista “Ana Montenegro”

16.   Comissão de Direitos Sociais e Interlocução Sociopopular da OAB/RJ

17.   Comité Argentino de Solidaridad con Venezuela

18.   Comitê Carioca de Solidariedade a Cuba

19.   Comitê Gaúcho em Solidariedade ao Povo Venezuelano

20.   Comitê General Abreu e Lima em Solidariedade a Venezuela

21.   Comitê Internacional Lula Livre Zona Norte Buenos Aires

22.   Comitê Internacional Paz, Justiça e Dignidade dos Povos

23.   CONEN – Coordenação Nacional de Entidades Negras

24.   Consulta Popular

25.   CUT – Central Única dos Trabalhadores

26.   CTB – Central de Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil

27.   Eduardo Moreira, advogado

28.   FIST – Frente Internacionalista dos Sem-Teto

29.   FNL – Frente Nacional de Luta Campo e Cidade

30.   Francisco Pellé, do festival de teatro Lusófono/Grupo Harém de Teatro

31.   FUP – Federação Única dos Petroleiros

32.   IPDMS – Instituto de Pesquisa Direito e Movimentos Sociais

33.   João Batista Lemos, presidente estadual do PCdoB-RJ

34.   Jornalistas Livres

35.   Juventude Comunista Brasileira

36.   Levante Popular da Juventude

37.   Lúcia Rodrigues, jornalista

38.   Márcia Chevrand, do coletivo Parem de Nos Matar

39.   Milton Pinheiro, cientista político e professor da Universidade do Estado da Bahia

40.   MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens

41.   MAM – Movimento Pela Soberania Popular na Mineração

42.   MCP – Movimento Camponês Popular

43.   Movimento Cultural de Olho na Justiça

44.   MMC – Movimento de Mulheres Camponesas

45.   MMM – Marcha Mundial das Mulheres

46.   MNDH – Movimento Nacional de DIreitos Humanos

47.   Movimiento Octubres

48.   MPSC – Movimento Paulista de Solidariedade a Cuba

49.   MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores

50.   MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

51.   Nereide Saviani, diretora de formação da Fundação Maurício Grabois

52.   Organização Comunista Arma da Crítica

53.   Pedro Alem Santinho, coordenador da fábrica ocupada Flasko

54.   Pedro Oto de Quadros, promotor de justiça em Brasília/MPDFT

55.   PCB – Partido Comunista Brasileiro

56.   PCdoB – Partido Comunista do Brasil 

57.   PJR – Pastoral da Juventude Rural

58.   Raul Carrion, historiador e ex-deputado estadual pelo Rio Grande do Sul

59.   Rede de Médicas e Médicos Populares

60.   Resistência, corrente interna do PSOL

61.   Socorro Gomes, presidenta do Conselho Mundial da Paz

62.   TV Comunitária de Brasília

63.   UBM – União Brasileira de Mulheres

64.   UCB – Unidade Comunista Brasileira

65.   UJC – União da Juventude Comunista

66. UNEGRO – União de Negros pela Igualdade