Em MG, FBP afirma a defesa da vida da população negra em suas lutas

O documento final do Encontro Fátima Oliveira de Negras e Negros pela Democracia aponta que as lutas devem buscar impedir os retrocessos das políticas públicas afirmativas e de reparação histórica conquistadas pelo povo negro
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O espaço discutiu ainda o fortalecimento e ampliação das ações de formação e de luta das negras e negros a partir da Frente Brasil Popular.  Fotos: Iris Pacheco

Da Página do MST
 

Nos dias 28 e 29 de setembro, a Frente Brasil Popular reuniu negras e negros em luta pela democracia. O evento ocorreu na Escola Sindical 7 de Outubro, no Barreiro, em Belo Horizonte.

Protagonizado por negras e negros das entidades e movimentos que compõem a Frente, além de organizações e coletivos do Movimento Negro de Minas Gerais, estiveram presentes lideranças de municípios do interior do estado e da região metropolitana para debater como os ataques à democracia brasileira afetam a vida do povo negro, e traçar estratégias de luta para o próximo período.
 

“A Frente Brasil Popular assume, junto ao Movimento Negro de Minas Gerais, o compromisso de manter este coletivo de militantes em constante debate, no intuito de criar ou fortalecer os comitês já existentes nas regiões do nosso Estado com o objetivo de ampliar a organização das negras e negros e apresentar um programa voltado aos anseios do povo negro”, ressalta o documento final do encontro. 
 

O espaço discutiu ainda o fortalecimento e ampliação das ações de formação e de luta das negras e negros a partir da Frente Brasil Popular. “Apontamos que faremos um novembro negro em 2019 repleto de ações e lutas contra o racismo. E por último, construiremos em 2020 um processo de formação política entre estas organizações com o foco na Questão Racial no Brasil”, finaliza. 
 

Homenagem 
 

O encontro homenageou Fátima Oliveira, médica maranhense e militante antirracista, atuante em Minas Gerais. Fátima trabalhou no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e participou do processo preparatório para a 3ª Conferência Mundial contra o Racismo, a Discriminação Racial e Intolerâncias Correlatas (Durban, 2001).
 

Também atuou na elaboração da Política Nacional de Saúde Integral da População Negra, foi membro da Rede Nacional Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, da Rede de Saúde das Mulheres Latino-Americanas, e da direção nacional da União de Negros Pela Igualdade (Unegro).
 

Confira abaixo o documento na íntegra 
 

Carta do I Encontro de Negras e Negros pela Democracia – Fátima Oliveira
 

“Permanece evidente que a verdadeira desalienação do negro implica uma súbita tomada de consciência das realidades econômicas e sociais”. (Frantz Fanon)

Estivemos reunidos em Belo Horizonte, nos dias 28 e 29 de setembro de 2019, mais de 100 negras e negros, entre militantes sociais, sindicalistas, religiosos e intelectuais de varias regiões de Minas Gerais. O Encontro de negras e negros pela Democracia, que homenageou a lutadora Fátima Oliveira, foi construído pelas organizações que vêm assumindo o fortalecimento da Frente Brasil Popular. 
 

As esquerdas brasileiras sofreram uma derrota estratégica no ultimo período, sendo o resultado o golpe de 2016 e a vitória eleitoral do governo neofascista e ultraliberal de Bolsonaro. Em Minas, seguiu a mesma linha com a eleição de Zema.
 

O pós derrota abre espaços para as auto-críticas, e também para as possibilidades de reorganização das lutas sociais. 
 

É fato que passamos por um momento de resistência, onde nosso principal objetivo é continuar a existir, pois são os corpos, o trabalho e as vidas dos negros e negras que estão sendo primeiramente rifados pelas elites brasileiras nas periferias e comunidades. 
 

Porém, para abrir um flanco em meio a este cerco da burguesia brasileira afirmamos ao final do Encontro que:
 

A luta por educação pública e de qualidade, pelo sistema único de saúde (SUS), pela infância, o não desmonte das políticas públicas, contra o modelo de mineração, agronegócio e a LGBTfobia, é uma luta contra o racismo;
 

Que o capitalismo não pode oferecer uma saída para nós, pois não deixará seu caráter dominador e explorador, e seu desenvolvimento econômico não poderá ser acompanhado de sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente;
 

Que o capitalismo brasileiro estruturalmente se sustenta e opera a partir das estruturas do racismo e do patriarcado;
 

A democracia e a construção de um Projeto Democrático Popular para o Brasil só serão possíveis se construirmos de fato a segunda, e completa, Abolição da Escravidão no nosso país. Para isto é preciso: a) garantir nossa soberania territorial, dos recursos naturais e preservação das nossas empresas estatais, casados a realização da reforma agrária e urbana; b) fortalecer a cosmovisão africana;
 

As nossas lutas devem buscar impedir os retrocessos das políticas públicas afirmativas e de reparação histórica conquistadas pelo povo negro no último período;
 

Nosso retorno às bases dos trabalhadores, junto ao nosso povo, somente será possível com a intensificação do trabalho de base nas periferias, comunidades rurais e quilombolas, terreiros e igrejas.
 

Desta forma, a Frente Brasil Popular assume, junto ao Movimento Negro de Minas Gerais, o compromisso de manter este coletivo de militantes em constante debate, no intuito de criar ou fortalecer os comitês já existentes nas regiões do nosso Estado com o objetivo de ampliar a organização das negras e negros, e apresentar um programa voltado aos anseios do povo negro. 
 

Também apontamos que faremos um novembro negro em 2019 repleto de ações e lutas contra o racismo. E por último, construiremos em 2020 um processo de formação política entre estas organizações com o foco na Questão Racial no Brasil.
 

O povo negro unido é um povo forte!

Lula Livre!

Vidas negras importam!

Pátria Livre, Venceremos!