No RN, mulheres se preparam para o I Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra

Encontro no Rio Grande do Norte reuniu Mulheres Sem Terra do estado para debates sobre temas da atualidade
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Debates incluíram temas centrais para o processo de organização, formação e as lutas na atual conjuntura. Fotos: Comunicação MST

Da Página do MST
 

Embaladas pelo sentimento e disposição de semear a resistência ativa, alegria e rebeldia,  as mulheres Sem Terra potiguar se reuniram nesse final de semana, de 11 a 13 de outubro, em preparação ao I Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra, que será realizado de 22 a 26 de novembro, em Brasília, com o lema “Mulheres em luta, semeando a resistência!”.

As mulheres debateram a “Conjuntura Política e Agrária e os impactos na vida das mulheres”; o tema do “Capitalismo, Patriarcado, Racismo e Violência”, e o “Feminismo Camponês e Popular”, como debates centrais para o processo de organização, formação e as lutas nesse período, eixos que dão conteúdo ao processo de resistência ativa.
Para Vanusa Macedo, da Direção Nacional do MST, o I Encontro Nacional das Mulheres Sem Terra será um momento histórico para o Movimento, e os processos de trabalho de base que tem acontecido em todos os estados fortalecem o papel das mulheres na resistência.
 

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“O encontro nesse momento é de grande valia para nós, mulheres do MST, para reunir nossas companheiras vindas de todas as brigadas, construir nossas estratégias de luta, fortalecer o comando coletivo da nossa organização, a unidade com as demais organizações de mulheres e seguirmos em luta”, afirma Macedo. 

Para as mulheres Sem Terra, a superação do patriarcado e do racismo, faz parte da luta pela reforma agrária popular, pois são estruturantes e funcionais para o capitalismo, assim como latifúndio e o agronegócio. 

Nesse sentido, “esse processo é importante, pois se pensarmos na conjuntura que estamos vivendo, com a crise econômica, também se aprofunda a misoginia, machismo, como expressões do patriarcado, por isso é importante que a gente reflita para dentro da organização, pra gente continuar seguindo na resistência, pois sem a atuação das nossas mulheres não se constrói a reforma agrária popular”, afirma Rosa Negra. 
 

Feminismo Camponês e Popular

Esse processo de acúmulo faz parte da construção do que as mulheres da Via Campesina têm formulado como Feminismo Camponês e Popular, enquanto concepção de feminismo, estratégia política e expressão da identidade das mulheres camponesas, que para as mulheres Sem Terra, se forjam na luta pela terra, na construção da reforma agrária popular, e a transformação da sociedade.

A construção política se dá no âmbito do Movimento Camponês Internacional, tendo dois marcos para as mulheres Sem Terra: os debates das mulheres das organizações camponesas da Cloc – Via Campesina; e a própria formulação do Programa da Reforma Agrária Popular, no qual aprofunda o papel das mulheres.

Assim, segundo Raimunda Lúcia, dirigente do setor de gênero, é “partindo desses acúmulos, e da história de lutas das mulheres Sem Terra, que nesse momento aprofundaremos esse debate e colocaremos para o conjunto do Movimento, não apenas para as mulheres, nossa concepção de feminismo, como dimensão da nossa estratégia da reforma agrária popular”, afirma. 

Mulheres Sem Terra, cultura e arte
 

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A cultura e a arte também têm sido parte central do trabalho de base no processo de preparação do encontro nacional, seja com o fortalecimento das várias iniciativas que as mulheres já desenvolvem nos territórios com a agroecologia, seja com o reconhecimento de suas experiências, além da construção de oficinas artísticas.

Durante o encontro as mulheres realizaram oficinas de cultura popular, teatro, construção de simbologias e cartas, pois o MST entende que as linguagens tem papel central na formação e na educação dos sentidos, e se a arte historicamente é negada para a classe trabalhadora, é ainda mais negada as mulheres, que com suas várias jornadas de trabalho, não tem tempo livre para se dedicar a prática das linguagens. 

De acordo com Erica Rodrigues, dirigente do Coletivo de Juventude, Comunicação e Cultura, “a arte e a cultura é expressão de nossas vidas, observamos que as oficinas estão ligadas com a realidade das nossas mulheres nos acampamentos e assentamentos. Sejam nos quintais produtivos, nas assembleias, nas noites de vigílias dos acampamentos, no resgate da memória da luta de tantas outras mulheres que resistiu outros tempos históricos, então nesse período que há a necessidade de reinventar nossa organização, pensar a cultura e as arte, nas diversas linguagens é fundamental para nossa resistência ativa”, comenta. 

Já Maria Matias afirmou: “eu gostei muito da oficina de cultura popular, primeiro porque aprendi que no meu quintal, quando produzo, também posso produzir sons, danças, músicas com o que já tenho em casa, e podemos também fazer para juntar as mulheres”, concluiu.

*Editado por Fernanda Alcântara