Pátria Livre de todas as formas de opressão

O Curso para Militantes LGBT Sem Terra recebei nesta quinta-feira (17), a mesa Diversidade Sexual na Via Campesina
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Fotos Dowglas Silva 

 

Da Página do MST 

 

O Curso para Militantes LGBT Sem Terra, realizado na Escola Nacional Florestan Fernandes (ENFF), em Guararema (SP), entre os dias 15 e 18 deste mês, recebeu na tarde desta quinta-feira (17), a mesa Diversidade Sexual na Via Campesina.

Matheus Além do MPA (Movimentos dos Pequenos Agricultores), Noel Henrique da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), Gabriela do MAB (Movimento dos Atingidos Por Barragens), Montserrat Gomez da Via Campesina-Europa e Marina Santos, da direção nacional do MST e representante da Via Campesina-Brasil, debateram identidade de gênero, diversidade sexual e o enfrentamento dentro dos movimentos populares.

“Nenhum sistema que é incapaz de abrigar o homem ou a mulher que eu amo deverá ser capaz de existir”. Foi pedindo uma grande e apaixonada revolução que Matheus Além do MPA, falou sobre as experiências dos LGBTs dentro do Movimento.

Ele usou com exemplo, a escola para LGBTs Camponeses, realizada em 2018, em Lagoa Nova, no Rio Grande do Norte.

A região canavieira, castigada pelo consumo de álcool e pela violência foi a escolhida para abrigar a formação acerca da diversidade e do enfrentamento ao preconceito.

 

Além contou que após a realização do curso, o debate ganhou corpo na região: “Hoje existe, inclusive, a ideia de construir uma colônia agroecológica para acolhimento LGBT”.

Ele ressalta que é preciso discutir diversidade de gênero para que as pessoas possam se sentir acolhidas em seu território.

“Entendemos que estamos vivenciando um processo de construção que precisa ter acompanhamento e amadurecimento. A sensibilização deve partir dos dirigentes das nossas organizações e também de quem chega nessa luta para contribuir na construção do poder popular.

O LGBT precisa de acolhimento e precisa, sobretudo, se reconhecer como tal, porque, quando ele não se reconhece no campo, que é o seu lugar de raiz, ele saí em busca de porto seguro na cidade”, concluiu.

Já Marina Santos, representante do MST e da Via campesina, fez um histórico da Via, organização fundada em 1993 com objetivo de lutar contra as políticas neoliberais impostas pelo capitalista no campo.

“O modelo capitalista está representado no agro/hidro/mineral, essa tríade é a nossa principal inimiga no campo nos dias de hoje. E o combate a esse inimigo só será possível com a união de todas as bandeiras de luta. São os trabalhadores e trabalhadoras do campo e da cidade na luta pela construção do feminismo camponês popular e contra toda forma de preconceito e discriminação”, salientou.

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Fotos Dowglas Silva 

Resistir para existir 

“O MAB entende que para lutar por um novo modelo de sociedade é importante acabarmos com a exploração e a opressão que tem como pilar o patriarcado sustentado pelo machismo e pela LGBTfobia. É um contrassenso um Movimento que quer construir uma sociedade melhor não lutar também pela causa LGBT”, avaliou Gabriela do MAB.

Embora dentro da organização o debate seja novo, começou em 2016 com um curso de formação, Gabriela ressalta que o tema está presente em todas as instâncias do Movimento.

“Ressalto aqui a necessidade de construir cada vez mais momentos como esses de formação. São em encontros assim que nos fortalecem, debates como os que estão sendo feitos aqui agora nos munem e nos fazem ter força para que e possamos romper as cercas do preconceito da ignorância”, concluiu.

No mesmo sentido, Noel Henrique da APIB reiterou que o enfrentamento deve começar em nossos territórios de origem.

“Em tempos de fascismo como o que vivemos não é fácil ser Sem Terra, não é fácil ser negro, ser periférico, não é fácil ser LGBT e, sobretudo, não é  fácil ser um indígena LGBT. Mudar o mundo requer parceria. É preciso lutar, seja no campo, na cidade ou nas aldeias, a questão LGBT não é um problema, o problema é a ignorância, o preconceito e a intolerância. É preciso enfrentar os debates, impor e ser resistência. Falar de identidade de gênero na comunidade indígena é complexo. Existem resquícios da colonização, da igreja católica, do machismo e do patriarcado”, afirmou.

Já Montserrat que é produtora rural na Galícia, uma comunidade localizada no noroeste da Espanha, falou sobre sua realidade e sobre o quanto é importante ter forças mútuas em qualquer parte do mundo para repassar valores de orgulho.

“A sociedade em que vivemos ainda é heteropatriarcal, as transformações estruturas levam tempo, mas estamos no caminho certo. Nosso objetivo dentro dos nossos coletivos, movimento e organizações é levantar as discussões, formar e informar para que possamos ter cada vez mais atitudes que contribuam para o bem estar geral”, finalizou.