O protesto indígena popular que parou o Equador

Jornalista equatoriana conta como foram os 11 dias de manifestações que pararam o país; negociações foram transmitidas ao vivo pela internet

 

Da Página do MST
 

Manifesto em solidariedade às manifestações populares no Equador 

Pela liberdade dos presos políticos!

Verdade e Justiça aos 8 manifestantes mortos!

Nós, movimentos e organizações populares brasileiras abaixo-assinados, viemos hoje às ruas de São Paulo para dialogar com a população de todo o país e com a comunidade internacional sobre os episódios recentes de autoritarismo, violência e perseguição política que o governo equatoriano vem praticando de forma sistemática contra todas e todos que se manifestam contra as políticas de seu mandato. 
 

Desde que foi eleito Moreno traiu a confiança do povo equatoriano que o elegeu, implementou um conjunto de medidas econômicas de aprofundamento do neoliberalismo no país, que não correspondem ao programa que o fez vitorioso nas eleições de 2017. Ademais, desde então, Moreno vem criminalizando e perseguindo política e juridicamente os movimentos populares e dirigentes equatorianos da Revolução Cidadã (coalizão que antes fazia Moreno) e que vem se opondo às políticas do atual governo.
 

No último dia 01 de outubro, Moreno publicou um decreto nos marcos de um acordo com o FMI que, dentre outras medidas, eliminou o subsídio estatal ao preço dos combustíveis (que geraram um aumento de 129% no preço do diesel e de 30% na gasolina); reduziu  salário e direitos sociais.
 

Frente a essa medida, o povo equatoriano se revoltou e tomou as ruas das do país com manifestações de milhares de pessoas, sobretudo do movimento indígena. Em seguida o presidente declarou Estado de Exceção, fugiu de Quito rumo à Guayaquil e ordenou a repressão violenta das manifestações populares. Tal brutalidade não tem antecedentes na história democrática do Equador, sendo que até o dia 13 de outubro foram computados 8 mortos, 120 desaparecidos, 1800 presos e 150 pessoas torturadas em recintos policiais e militares.
 

Neste contexto, no dia 13 de outubro se abriu uma mesa de diálogo entre o governo e representantes do movimento indígena, com mediação da ONU e da Igreja Católica equatoriana. O resultado foi parcialmente vitorioso para as manifestações populares, pois apesar do governo ter retirado o decreto do 01 de outubro o acordo com o Fundo Monetário Internacional não foi revogado e contém diversas outras medidas e exigência contrárias aos direitos dos trabalhadores do país. Além disso, ainda estão presos centenas de manifestantes e também políticos opositores a Moreno (prefeitos, parlamentares, entre outros), que tiveram casas invadidas e foram detidos sem nenhuma acusação e sem respeito aos seus direitos humanos e políticos. 
 

Por tudo isso, nos manifestamos:
 

– Pela liberdade imediata dos presos políticos!

– Pelo fim da perseguição à oposição ao governo!

– Pela verdade e justiça aos 8 manifestantes mortos e aos manifestantes presos e torturados pelas forças policiais!

– Pela responsabilização do presidente, de seus ministros e de todos os envolvidos nos crimes de violação dos direitos democráticos de manifestação do povo equatoriano.

– Pela soberania e pela democracia no Equador e em toda América Latina!
 

São Paulo, 18 de outubro de 2019.